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O Mundo dos Sonhos - Digital World

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O Mundo dos Sonhos - Digital World - Página 2 Empty Re: O Mundo dos Sonhos - Digital World

Mensagem por Mickey Sáb 01 Dez 2012, 3:09 pm

- Falou. Tchau cara. Tchau Lucas! Lucas? Cara, cadê Lucas? Eu não vi ele o final de semana todo!

- Vai que ele foi abduzido por um Vademon.

- Ahn?

- Um Digimon alien. Ver tanto círculo em plantação no computador só me fez lembrar ele... Mas é uma ótima pergunta. Cadê Lucas?

HAHAHAHA! Valeu a pena interpretar as conversas desses dois! xD~~

O Capitulo III foi muito bom! Muito bom mesmo!
Gostei da forma que retratado o drama dos garotos e essa parte me deixou muito animado.

Realmente... o que está acontecendo é algo perturbador se nos colocarmos no lugar deles.
Mas foi muito engraçado, principalmente quando começam a fala do encontro na pizzaria! xD~~

O Capitulo IV foi a continuação desse drama e já não teve muitos momentos engraçados.
Tirando a parte do carteiro que desabafou um pouco ali... mas o capitulo foi igualmente importante.
Mostrando que o nosso herói chegou ao extremo do suportável de algo sem explicação.

Veremos o que vai acontecer agora... e o que esse celular D-Vice será de importante na história.
Agora eu concordo... esse Lucas é muito atento... ta sempre ouvindo muito xD~~

Parabéns pelos episódios Brito!
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Mensagem por Júnior Brito Qui 06 Dez 2012, 2:47 pm

@spikehunter: Hey, cara que bom que você ta gostando! A minha intenção beira o que você descreve. Quero trazer o máximo pra realidade do que poderia ser se acontecesse, entende? xD Continue acompanhando!

@Roger: Seus comentários são sempre muito bem-vindos, Roger. Você consegue alcançar o âmago da minha história como se lesse meus pensamentos. kkkk'
Como você deve ter notado, nada na minha fic acontece por acaso, somente um pouco de paciência e as sementes que estão sendo plantadas vão crescer e desabrochar! ;D

@Mickey: HAHA! Que ótimo que você gosta e interpreta minhas piadas, cara! Adoro escrevê-las. xD Agradço por ter lido mais um pouco da minha história e sim, Lucas é um menino que eu nunca vi igual! kkkk' Chega a dar medo vez ou outra enqunto escrevo. kkk'

Abrass a todos!! o/
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Younenki II
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Mensagem por Júnior Brito Qua 02 Jan 2013, 9:22 am


Agora, vamos ao próximo capítulo. Ele demorou assim de sair, porque eu gosto de ter algum em mãos enquanto lanço outro. E esse que eu já tenho em mão agora demorou um pouco mais de sair. Sem mas delongas...







CAPÍTULO V

O TESTE, O CÓDIGO E A LUZ ESCLARECEDORA

– Ike, acorda!! Ike... BINHO!!!

– Ahn? Que foi, Lucas! O que é que cê quer?

– Saber por que você dormiu no chão. – Disse me olhando com desdém. –

– Chão... Eu não tô... Eu não tô no chão!

– Então seu colchão é feito de piso. – Respondeu com impaciência. –

Havia acordado completamente e notado que estava realmente no chão. Sentia-me um pouco tonto e, tentando levantar, notei o resquício da fraqueza que sentira nas pernas durante o ataque que sofri na madrugada.

Apesar de nervoso, Lucas parecia preocupado comigo. Duvidava muito que ele não estava percebendo as mudanças no meu comportamento, assim como a minha mãe e isso me deixava apreensivo. Não poderia deixar ninguém descobrir o que me acontecia antes que eu tivesse uma mínima luz sobre a situação. O problema era que meus olhos estavam tapados. Se eu estivesse aceitando qualquer possibilidade, talvez tivesse descoberto mais cedo o que me ocorria.

Um fato que às vezes passava em minha cabeça, era o que Jonas tinha me contado que passou. “E se ele estivesse passando também por anormalidades?” “E se esse for o início de uma invasão?” Parecia que a cada segundo surgiam novas perguntas que se aglomeravam, transformando-se numa bola de neve que devastava qualquer pseudo sentimento de segurança que eu poderia ter.

– Levanta, Ike! Tá quase na hora do teu teste de direção.

– Merda! O teste! Droga! Isso vai ser horrível. Vai ser uma porcaria, não tem como.

– Tá tudo bem? – Perguntou receoso. –

– O QUE É QUE VOCÊ ACHA? EU PAREÇO BEM? EU ACORDEI NO CHÃO E NÃO LEMBRO DE METADE DO QUE ACONTECEU COMIGO! – Esbravejei insensivelmente. –

Lucas estava sem reação alguma, me olhando com uma feição espantosa. Já havia me arrependido do grito assim que fechei a boca. Ver Lucas daquele jeito sabendo que eu causara tal dor não me fazia melhor sob nenhum ângulo. A sua feição de criança feliz passava longe daquele momento, dando lugar a uma expressão vaga e doente. Para mim, o remorso era ainda mais forte já que sua expressão fazia-me lembrar a da minha mãe toda vez que o meu pai chegava bêbado em casa quebrando coisas e bradando feito um animal. Dei as costas a ele montado no meu orgulho e engoli meu remorso como remédio da dor.

– Agora licença. Vou me arrumar.

Ele não respondeu nada, apenas saiu. Eu faria o mesmo naquela situação. Estava muito mal naquele momento, mas não conseguia pensar em como Lucas se sentia. Talvez estivesse sendo egoísta demais, esquecendo os sentimentos dele, provavelmente o que estava me acontecendo, estava me mudando. Ou eu estava partindo para uma personalidade defensiva graças às para normalidades recentes. Não conseguia me ater ao fato de que o magoei. Não naquele instante. Precisava ir àquela aula o mais rápido possível para me concentrar em minha preocupação maior: decifrar o aparelho.

– Ainda tenho uma hora pra me arrumar e chegar lá... Talvez dê pelo menos pra ligar o celular e mexer em alguma coisa nele. Deixe-me ver... Aqui! Só pra ter certeza de que ninguém vai entrar... Pronto.

Tranquei a porta já com a caixa na mão. Comecei a suar frio instantaneamente. Partes das sensações da noite anterior brotaram no meu corpo como um reflexo ou uma memória física. A angústia, o medo, talvez sentisse o corpo mais pesado. Provavelmente tudo era psicossomático devido à pressão do momento, mas eu estava decidido que iria obter respostas ali.

Abri a caixa e tirei o celular de dentro cautelosamente. As expectativas eram positivas e eu já não aguentava mais esperar. Tinha certeza que dali sairia as minhas tão esperadas respostas. Coloquei o celular no carregador, me certifiquei de que ninguém vinha e enfim liguei-o.

Assim que ligou, ao invés de aparecer a costumeira apresentação da Nokia com duas mãos indo de encontro uma à outra, a tela ficava em branco. Encarava uma tela vazia, meus olhos refletiam a luz juntamente com toda a perspectiva e ansiedade. Até então segurava o celular pelo fundo a fim de deixar a tela inteiramente à mostra, para não acabar perdendo algum detalhe que aparecesse nos cantos.

Após cinco minutos ininterruptos de espera, decidi tocar à tela esperando alguma reação. Assim que meus dedos tocaram a superfície, o brilho do celular se intensificou, tomando conta de boa parte do quarto e ofuscando minha visão a ponto de acabar soltando-o com o susto.

– Que sorte que tava no carregador... Se essa coisa caísse e quebrasse eu ia perder a minha única possível fonte de informação. O que é isso?

Assim que tomei o celular em minhas mãos novamente, notei que a tela já não estava vazia de todo. Não seria estranho se o desenho não fosse o da minha digital, cravada na tela. Estava em preto e exatamente onde eu havia posto o meu dedo. Imaginei que seria algum novo aplicativo para destravamento de teclado e estava começando a me convencer disso quando os traços que formavam a minha digital começaram a se mesclar transformando-se em letras. As letras começaram a se dispor no meio do visor, na vertical e formavam o nome do aparelho: D-VICE.

– Que legal! Tecnologia impressionante... Nem sabia que os celulares faziam coisas desse tipo já. Apesar de que são só efeitinhos visuais. Agradeceria se ligasse logo.

– Voz identificada, sequência de picos sendo registrada. Comando de voz ATIVO.

Uma voz de mulher, meio robótica ou com algum tipo de interferência tinha saído do aparelho. Assustei-me com a repentina fala proveniente do aparelho e lancei-o para longe. Por sorte, caiu em cima da cama extra que havia no quarto.

– O QUÊ???? Q-q-que foi isso?

– Trata-se do sistema inteligente de voz do seu dispositivo.

– V-v-voz? MEU dispositivo?

– Conversão de picos completa. Voz confirmada. Caíque Brito de Carvalho, 18 anos, residente do Brasil. Insira cartão SIM no dispositivo.

– Como assim, dispositivo?? Que droga é essa?!

– Apresentação iniciada. Por favor, atenção à tela.

Até então, não chegara perto do celular novamente. Não entendia exatamente o que estava acontecendo e aquilo me assustava, mas a vontade de descobrir o que tinha a me dizer foi maior. Sentei na cama, peguei o celular e me atentei ao que acontecia. Na tela, começavam a surgir letras na horizontal, formando fila a partir de cada uma das outras que formavam o nome D-VICE. Um pouco antes de começar a ler, a voz que vinha do aparelho começou a falar novamente.

– D-VICE. Dispositivo de Variação Interna para Complemento Evolucional.

– Complemento evo...COMO?? O que você quer dizer com isso?

Talvez eu já soubesse o que estava acontecendo ou mesmo a serventia do D-VICE, mas o meu bom senso bloqueava a ideia e era ajudado pelo medo do, até então, desconhecido.

– O D-VICE é um aparelho de ponta programado particularmente para o usuário. Ele permite o compartilhamento físico e a transferência de informações de forma eficiente e calculada.

– Não é isso que eu quero saber. Como assim complemento evolucional? Você me entende?

– O sistema de interatividade do seu D-VICE é limitado a responder às perguntas certas. Por favor, faças a perguntas certas.

– Qual seria a pergunta certa?

– O sistema de interatividade do seu D-VICE é limitado a responder às perguntas certas. Por favor, faças as pergunta certas.

– Ahn? Você já disse isso. Droga! Pensei que isso fosse me ajudar em alguma coisa! Só tá me deixando com mais dor de cabeça ainda! Deixa eu ver... Quem é você??

– Sou o sistema de interatividade do seu D-VICE.

– Putz... Disso eu já sei! Você é alguém? Uma pessoa, ou só uma voz?

– Sou o sistema de interatividade do seu D-VICE.

– Caramba, você só sabe dizer essas duas frases?

– O sistema de interatividade do seu D-VICE é limitado a responder às perguntas certas. Por favor, faça as perguntas certas.

– PUTA QUE PARIU! ISSO É IMPRESTÁVEL! – Bradei para mim mesmo. –

Naquele momento, o sangue me subia à cabeça. A única esperança que tinha de alguma resposta concreta, só sabia falar duas frases e só responderia às minhas perguntas se eu as fizesse direito. Eu não sabia o que perguntar. As dúvidas eram muitas e não conseguia externá-las de forma eficaz. Todas as perguntas que eu fazia eram respondidas de forma igual, o que me fazia passar a odiar a voz do aparelho.

– Droga, só tenho mais 20 minutos!! Xô ver... De onde você veio?

– O sistema de interatividade do seu D-VICE é limitado a responder às perguntas certas. Por favor, faça as perguntas certas.

– Cara, você já tá me tirando do sério... Cê tá de onda com minha cara, né?

– O sistema de interatividade do seu D-VICE é limitado a responder às perguntas certas. Por favor, faça as perguntas certas.

– Foi retórica! Caramba, tô mesmo afetado... Tô tentando explicar que fiz uma pergunta retórica a um celular. Agora não dá mais tempo de ver nada. Vou levar isso comigo pra se tocar ou essa maluca gritar alguma coisa, ninguém daqui de casa ver. Tem algum botão de travar esse troço?

Terminei de me arrumar para sair e começar o teste de direção. Pensava que se aquela voz dizia sobre fazer direito, então ainda tinha mais o que perguntar. Comi rápido e saí sem escovar os dentes, senão me atrasaria. Não tive coragem de olhar para Lucas naquele momento, mas sabia que ele estava chateado comigo. Não era para menos, eu o assustara. Precisava resolver isso também, sempre fui do tipo de pessoa que resolve as coisas com conversa. Nunca deixando o tempo abafar as memórias.

Tentava bolar a “pergunta certa” na cabeça por todo o caminho até a autoescola e por boa parte do tempo que já estava no teste. O instrutor parecia meio impaciente, talvez já estivesse perto de se aposentar e eu fosse um de seus últimos “barbeiros a domar”. Eu não me sentia totalmente atento e ele parecia notar isso, já que a todo o momento, lançava um jato imenso de saliva recheada de reclamações por baixo do seu vasto bigode acinzentado.

– Preste mais atenção nas sinaleiras, garoto! – Falava autoritariamente. –

– Certo, senhor Valdir. – Respondia vagamente, mas com o devido respeito. –

– Olha pra frente!

– Estou olhando, senhor. É que pensei que o celular tinha vibrado.

Ele me olhou com ar examinador e anotou alguma coisa em sua prancheta. O trânsito estava horrível mesmo para aquela hora da manhã e o som do grafite rabiscando o papel me causava uma angústia indescritível. Era como se estivesse ouvindo as críticas que ele escrevia sobre mim. Provavelmente também não era um de seus melhores dias, já que ele me abordava por qualquer mínimo deslize e, às vezes, por deslize algum. Os meus nervos já estavam abalados por causa da minha situação e o instrutor da autoescola não ajudava.

– Preste atenção, garoto! O homem da moto ia cortar você pela direita e isso está errado!

– Mas se ELE ia passar pelo lado errado, a culpa não é MINHA!

– Feche mais sua direita que ele não vai ter por onde passar...

– Não posso dirigir por mim e pelos outros. – Falei com um tom mais desafiador do que deveria. –

– Está discutindo com o instrutor e ainda por cima em pleno trânsito? – Lançou para mim juntamente com uma rajada de cuspe. –

– Desculpe senhor, mas talvez não esteja passando por um bom dia assim como eu e acho que está descontando isso injustamente em mim.

– Garoto procure seu lugar e volte a dirigir! Você não é nenhum psicólogo e eu não te devo satisfações!

– Quanta grosseria, só estava tentando resolver a situação!

– Não tenho tempo pra isso, ainda mais com um completo desconhecido! Por favor, ligue o carro e continue a dirigir. Só que dessa vez FAÇA CERTO!

A raiva me subiu à cabeça como se a última frase dele tivesse servido de elevador. Sentia as palavras queimando a garganta, loucas para sair. Precisava me contar senão acabaria descontando toda a minha cólera no instrutor. Mesmo me contendo o máximo possível, tinha que falar algo.

– Então, O QUE VOCÊ QUER QUE EU FAÇA?

Fez-se o silêncio por alguns poucos segundos até ser quebrado por uma frase que, para o momento, não era nem um pouco oportuna.

– Insira o chip SIM na parte traseira do aparelho.

– O que?

– Não fui eu que disse isso...

– Se não foi o senhor e muito menos eu, então quem foi??

– O sistema de interatividade do seu D-VICE.

– Que porcaria é essa? – Perguntou um pouco desnorteado. –

– O celular! Haha!! Descobri! Obrigado senhor Valdir! Muitíssimo obrigado! Descobri a pergunta, que ótimo!!! Obrigado! Deixa eu colocar logo...

Antes que pudesse terminar a frase, um rapaz com uma bicicleta esbarrou no carro e quebrou o retrovisor direito. Terminamos voltando para a autoescola eu, o senhor Valdir e o rapaz da bicicleta para poder assinar alguns papéis e pagar o prejuízo. O teste de direção acabou sendo um fracasso no geral e o examinador não teria ajudado no processo. Curiosamente, não estava me atendo ao fato de ter passado ou não. O que passava em minha cabeça naquele momento era chegar em casa para terminar de resolver meu problema.

Depois dos papéis assinados e de ter pego um papel com a data prevista para pegar o resultado, voltei para casa me segurando para não colocar o chip no meio da rua. No caminho, recebo uma ligação de Ivan no meu celular antigo me dando uma notícia agradável.

– Caíque?

– Alô, quem fala?

– Sou eu, Ivan.

– E aí cara! O que foi? Ainda tá com dor de barriga?

– Né isso não cara, qual é? Tô te ligando pra avisar que minha namorada vem passar alguns dias aqui comigo. Aí ia levar ela aí em tua casa pra conhecer vocês.

– Seria ótimo cara! Nesse momento eu não tô em casa, mas pode ser.

– Ah, relaxe. Ela só chega de noite.

– Então fechou. Vou ligar pra Jonas ir lá em casa também.

– Já fiz isso.

– Rápido no gatilho você, em?

– Você sabe que ninguém me ganha, né?

– Se acha...

– Cara, vou desligar aqui. Até mais tarde então.

– Té mais Ivan.

Dei mais alguns passos antes de notar que acabara de combinar com Ivan que a namorada dele veria um maluco que vê Digimon e fala com celulares.

– Droga! Droga, droga, droga, DROGA! O que é que eu faço? Não dá pra desmarcar... Vai ficar chato pra Ivan... Preciso resolver isso logo. Quando eles chegarem lá em casa eu já vou estar mais aliviado se tiver resolvido esse problema do celular.

Corri até em casa como se minha vida dependesse daquilo. Estava apreensivo, esperando que colocar o chip no celular me traria alguma luz.

Quando cheguei em casa, Lucas já estava melhor. Não deixa de ser verdade que o tempo ajuda a curar feridas, mas mesmo naquela situação, não poderia simplesmente deixar passar. Só que não podia me preocupar com Lucas naquele momento.

– Ike, eu não vou falar nada pra minha mãe. Mas pelo menos, me pede desculpas... – Disse pesarosamente. -

– Não quero pedir assim vagamente, Lucas. Depois converso com você direito. Eu tô ocupado.-Respondi ainda com a adrenalina da corrida no corpo.-

– Como assim vagamente? É só pedir desculpas, mais nada. O que cê tá fazendo de tão importante que não pode parar só pra isso?

– Nada de mais. Só que eu quero conversar direito com você. Só isso.

– Então conversa!

– Agora não dá. Preciso resolver uma coisa. Sério.

– Depois você quer que eu te entenda! Então vai fazer seja lá o que for!

Dei as costas a ele, relutante. Precisava acalmar meus nervos antes mesmo de começar qualquer conversa e a única coisa que me acalmaria, naquele momento, era dissolver as dúvidas que passavam na minha cabeça.

Por sorte Jonas ainda não tinha chegado e minha mãe estava se arrumando para o trabalho, o que me daria o tempo necessário para descobrir alguma coisa. Fiz a pergunta novamente, para me certificar de que não estava enganado ou que estava ouvindo coisas e a resposta foi positiva.

– O que você quer que eu faça?

– Insira o chip SIM na parte traseira do aparelho.

– Certo... Isso não vai doer em você não, né?

– O sistema de interatividade do seu D-VICE é limitado a responder às perguntas certas. Por favor, faça as perguntas certas.

– Mas que merda acabei de fazer... Deixa eu colocar isso logo...

Coloquei o chip e liguei o celular. A abertura da Nokia apareceu daquela vez, e parecia nunca acabar. Em minha mente passavam milhares de possibilidades do que poderia acontecer assim que o celular enfim ligasse. “Quem sabe a mulher vai começar a tagarelar e me dizer o que está acontecendo”, “quem sabe o celular não se transforma num morfador e eu viro um Power Ranger?”, “vai que assim que ligar ele começa a brilhar e explode?”. Qualquer coisa poderia acontecer. Tanto boa quanto ruim. Ou impossível.

– Aí, ligando. Procurando rede... Vai, vai, vai!! Ainda procurando rede? Parece a TIM! Vai, liga. Isso! Agora por favor, diz o que tá acontecendo... Faz alguma coisa extraordinária, alguma coisa inimaginável...

Quando escuto o característico som de uma mensagem.

...PÍ PÍ PÍ...

– O que?

O D-VICE fez, naquele instante, o que nem passou na minha cabeça que poderia fazer. Foi algo extremamente imprevisível para aquele momento fatídico. Algo que para mim, tinha sido o momento mais frustrante da minha vida. Ele avisou que acabara de receber uma mensagem.

– Uma... Mensagem? Eu ligo o celular na maior expectativa e ele não faz porcaria nenhuma além de notificar que recebi uma mensagem? Uma porcaria de uma mensagem dizendo O QUANTO É BOM SER CLIENTE BETA??? QUE MERDA! VAI A MERDA TUDO ISSO!!!!

Estava péssimo com tudo aquilo. No momento eu nem havia pego o celular para constatar o remetente da mensagem. Simplesmente larguei de mão, deixei o celular em cima da cômoda e fui em direção a Lucas. Como não tinha conseguido nada com aquele aparelho, pelo menos precisava resolver minha pendência com ele.

– Lucas, vamos conversar. – Chamei-o frustrado. –

– Ah, agora que você já gritou com sua operadora quer conversar comigo?

– Não faz draminha, Lucas. Não tô pra isso. Precisava resolver um problema e no fim das contas não consegui. Vamos...

...PÍ PÍ PÍ...

– Que coisa chata! Ferre-se celular idiota! – Resmunguei. –

– Olha, Binho... Não sei o que tá acontecendo contigo, mas...

– Ah, para com isso! Não guento mais ouvir essa mesma frase. Não tá acontecendo nada, beleza? Só queria dizer que não fiz aquilo por mal. Eu acordei no chão, e tive uma noite muito ruim. Não tinha a ver com você, desculpa.

– Tá bem. Só que...

...PÍ PÍ PÍ...

– Que porcaria. Esse celular não vai parar de encher o saco!

– Vai atender.

– É uma mensagem.

– E porque não lê?

– Porque deve ser alguma merda da TIM.

– Hum... Então, eu te desculpo. Mas toma mais cuidado com isso. Não tinha nada a ver com sua noite mal dormida.

– Eu sei... Foi mal mesmo, tá?

– Beleza! Quer me ajudar a upar?

– Não, valeu. Vou tomar um banho pra almoçar.

– Certo então.

Entrei no banheiro e fui tomar banho. Tentava esfriar minha cabeça no chuveiro frio enquanto começava a absorver os novos fatos. O celular falante e imprestável, a possível reprovação no exame prático de direção, o fato do problema ainda não ter sido resolvido mesmo tendo posto o chip no celular. Ele parecia brincar com a minha situação. Mesmo no banheiro, e com o chuveiro ligado, conseguia escutar seu pedido insistente.

O celular ficou um tempo calado, o que me causou uma leve sensação de alívio até ser interrompido por Lucas, que batia na porta do banheiro.

– Binho, você comprou um celular novo?

Fiquei sem reação. O celular ainda estava em cima da cômoda, já que saí com raiva do quarto e o larguei lá. O que significa que estava ao alcance de quem quisesse. Respondi como pude.

– N-não!

– Então de quem é esse celular que tá em cima da cômoda?

– É... É meu! Deixa lá onde tava! – Fiz-me ouvir alto, mesmo com a porta do banheiro fechada.-

– De onde esse celular é seu, se você não comprou?

– Achei no chão, Lucas! Vindo pra casa!! Agora deixa o celular aí.

– Então era isso que você tinha pra resolver quando chegou, né? Mexer no celular que conseguiu de graça! Sortudo!

– Lucas, deixa o celular lá, por favor! – Cobri a voz com leve tom de autoridade. –

– Tá, mas a mensagem que você recebeu não foi da TIM não, viu?

– Cara, você olhou minha mensagem?

– Tive que abrir! Aquele barulho tava me chateando já!!

– Droga Lucas, não era pra você mexer! Agora deixa lá onde tava e CORRE! Porque quando eu sair daqui, você vai ter o seu!

– Vish...

Saí do banheiro às pressas. Não com a intenção de punir Lucas por ter lido minha mensagem, mas curioso e esperançoso sobre ela. Não tinha namorada, e meus amigos não costumavam mandar mensagens. Precisava saber o mais rápido possível o que ela continha.

– L-Lucas, cadê o aparelho?

– Tá ai, em cima da sua cama.

– Mexe e nem coloca no lugar certo, né? Essa porta vai ficar fechada agora, e nem bata aqui, porque não vou abrir!

– Tá, não quero nada aí mesmo. Tô jogando.

Bati a porta do quarto e me dirigi prontamente ao celular. Abri o menu principal que, curiosamente, só tinha o ícone de telefone e o de mensagem. Nenhum aplicativo ou atalho para configurações. Estranhei, mas abri a caixa de mensagens sem relutância, pronto para uma pista.

– Sem remetente? Tá de sacanagem!! Não dá pra enviar mensagem privada. Pelo menos que tenha alguma coisa na mensagem.

Abri então a mensagem e me deparei com algo que não fazia a mínima ideia do significado: “-12/58/1.9344 -39/15/13.0602 0000”

– Ahn? Como assim, cara? Não diz quem mandou e ainda vem um monte de números aleatórios? É o que? Pegadinha do Faustão? Coisa mais inútil... Não tenho motivação nem pra ficar chateado. Putz, era minha última esperança. O que eu vou fazer com isso?

No momento eu não sabia o que iria fazer. O que me parecia ser a luz no fim túnel, se mostrou vazio e obscuro. Pelo menos para aquele momento exato onde eu não estava pondo a minha mente para funcionar.

O dia foi passando e eu tentava deixar os pensamentos relacionados ao aparelho em segundo plano. Não estava tendo muita sorte com esse plano. Por um momento do dia, consegui esquecer o celular, mas recebi outra ligação de Ivan dizendo que Lara demoraria mais de aparecer por que o ônibus que estava havia quebrado no caminho, mas que ele viria antes. Como meu chip ainda estava lá, então trouxe de volta à tona a raiva e frustração que estava tentando reprimir.

A sede de querer ir direto ao âmago da questão me consumia a cada segundo mesmo que eu tentasse negar isso irrelevando os números que haviam chegado por mensagem. “Precisava encontrar algum tipo de lógica matemática ou fazer algum tipo de conta com aqueles números?”, “tinha que ordená-los de alguma maneira?”. Estava inquieto e nada me fazia limpar a alma da angústia sem precedentes que sentia devido a tudo.

Jonas ligou um pouco mais tarde avisando que iria levar sua suposta namorada para nos conhecer aproveitando a chegada de Lara, então combinamos de sair para uma churrascaria que escolhemos não muito longe da minha casa.

– Então fica pras 20h00min e a gente já se encontra lá, beleza?

– Fechou! Vou avisar a Lara sobre a mudança de planos. Ela disse que tá quase chegando aqui. Tá a uns 20 km.

– E como ela sabe com tanta precisão?

– Viu pelo celular, eu acho.

– Ah tá... Nos vemos mais tarde, Ivan. Té mais.

– Beleza, vou desligar aqui. Já tô ficando sem créditos de tanto falar com vocês hoje.

Depois de mais algumas horas de preocupação, me arrumei devidamente e fui à churrascaria que havíamos combinado. Andava devagar, devaneando a caminho do encontro com meus amigos e suas respectivas namoradas. Sozinho. Acompanhado apenas pelas sombras que me circundavam e com uma feição mais triste do que minha própria situação, mas preparado para armar um falso sorriso e mascarar meus sentimentos a fim de mostrar meu melhor lado como primeira impressão.

Chegando perto, noto Ivan sentado em uma das muitas mesas que ficavam do lado de fora da churrascaria que ficava situada numa rua sem saída e com pouco movimento, ao lado de uma garota que conseguia ser menor que eu. Era noite, mas notava o tom avermelhado que destacava a parte do cabelo dela que estava preso, mais próximo à nuca. O que caía muito bem combinado com sua pele branca e a blusa preta sem mangas, com nomes de bandas de rock antigas em branco espalhados pelo tecido.

Já de frente à Lara e mesmo antes de falar qualquer coisa, notei que brotavam de seus olhos castanho-claros um ar de maturidade que não sentia há muito em ninguém conhecido. O que ia de encontro com seu mini short rasgado e All Stars vermelhos.

– Olá Lara! Me chamo Caíque. Acho que sou um dos melhores amigos do seu namorado. E ouvi falar muito bem de você! E olha que eu ouvi, viu? – Me voltei a ela com muita simpatia, engolindo as mágoas por inteiro. -

– Oi Caíque! Também já ouvi falar muuuito de você, do seu primo e seu irmão. Eles vêm? – Respondeu-me com tanta receptividade que quase esquecia pelo que eu passava. -

– Ah, vem sim. Jonas vem... Com a namorada até. Lucas tá em casa no computador e não sairia de lá por nada na face da Terra, né não Ivan?

– Sem dúvidas! Quer dizer, sabendo que era pra comer, talvez ele viesse. Mas ia ficar sem ter o que fazer por aqui. Por questão da diferença de idade.

– Realmente. Mas eu vou na sua casa amanhã com Ivan e você me apresenta todo mundo, certo Caíque?

– Me chame de Ike, se preferir. E sim, sem dúvidas! Daqui a pouco Jonas cheg...

– E aí gente! – Jonas gritou loucamente de uma distância desnecessária. –

– E aí cara! Nos apresente a dama ao seu lado. – Falei com ar de graça. –

– Ah, certo. Essa aqui é...

– Pode deixar que eu me apresento, Jonas. – Interrompeu a garota que de início me pareceu tímida. –

– Eu me chamo Vera, gente. Mas podem de chamar de Véu se quiserem.

Vera me pareceu ser uma garota bem receptiva. Apareceu se apresentando e falando com todos. Apresentamo-nos a ela já sentados à mesa e iniciamos uma conversa que me faria esquecer meus problemas por um tempo considerável.

Em meio à conversa descobrimos que Vera era a mais velha da turma a partir daquele momento. Jonas não havia contado que ela já fazia faculdade e que tinha 20 anos. Ela é um pouco menor que ele, tem uma feição de garota mais nova e entrava nas brincadeiras com facilidade.

Ao lado de Jonas, fazia uma dupla perfeita aos olhos de quem via. Relativamente alta, magra e também usando óculos de grau. A diferença estava em sua tonalidade de pele que me parecia ser a mistura perfeita de negra/índia e seus olhos mais escuros que os dele. Seus cabelos não muito escuros iam até pouco depois dos ombros, caídos sobre sua blusa de manga comprida e azul marinho, que me parecia ter duas camadas ou algo do tipo.

– Então quer dizer que Vera está oficialmente no grupo, gente?

– Ah, claro né Jonas! Não precisava nem perguntar. – Respondeu Ivan, com cinismo. –

– Gente, só agora vim perceber que Ike tá aqui segurando vela de dois casais.

– É mesmo, Lara. Tá você e Ivan, eu e Jonas e Caíque e nada.

– Ei, não brinquem com a minha cara! Malditos felizardos...

– Não leva pro lado pessoal não, Ike. Mas venhamos e convenhamos... Até eu que nem imaginava estar namorando por agora, tô. E tu aí chupando dedo.

Aquele último comentário de Jonas gerou algumas risadas, mas eu notava que ele parecia forçar felicidade e olhava para os lados com bastante frequência. Eu era o único que havia notado isso aparentemente, então não quis alertar a todos nem deixá-lo numa situação difícil, e acabei não dizendo nada no momento.

– Sim, Lara! Qual foi mesmo o problema no caminho? Eu tinha dito pra Ike que o pneu tinha furado, eu acho. Mas não tinha certeza.

– Na verdade não furou não... O pneu esvaziou do nada no meio do caminho. Todo mundo achou estranho até só que o motorista consertou numa meia hora e a gente já não tava muito longe daqui.

– Ah, sim! Era o que eu ia perguntar! Lara, como é que você sabia que já tava chegando se nunca veio aqui antes?

– GPS meu filho... Meu celular tem um aplicativo de localização e eu consigo usar a internet do chip. O negócio é que tem que configurar direito pra aparecer as imagens de satélite ao invés daquele monte de números que ninguém entende nada.

Assim que escutei aquelas palavras um turbilhão de alegria e esperança implorava para disparar para fora do meu corpo, me fazendo de rojão e estourando no céu como fogos de artifício. Eu havia paralisado e com certeza estava com a expressão de “Eureca!”. Ninguém parecia notar, estavam todos se dando muito bem e conversando entre si com uma concentração impressionante.

Peguei o celular do bolso com pressa e reli a mensagem. A minha vontade era de sair dali correndo naquele exato momento e descobrir o que aqueles números me diziam. A partir daquilo, tinha certeza que os números significavam...

– Latitude e longitude. Acho que eu saberia ver. Eu me envolvo bastante com física e tal, então toda hora vejo posições de astros e estrelas com numeração.

– Olha o ar de físico teórico do meu namorado, gente. Eu tô fazendo o terceiro semestre de psicologia já e me sinto menos profissional que ele às vezes quando ele fala com tanta certeza essas coisas.

– Olha pra isso, Ike! Só o amor pra fazer uma menina gostar de Jonas! – Caçoou Ivan seguido de uma risada contagiante. –

– Não faz isso com o menino, Ivan. Maldade... Isso mesmo, Jonas. Fale tudo o que você sabe.

– Vai defender ele agora é Lara? E Ike, ta calado! Logo quem... Fala alguma coisa cara.

– Ahn, Oi? Ah é. Sem dúvidas. Jonas é o cara nessas coisas, mas ninguém foi melhor que Lara agora, gente! Poxa, já não tá tarde gente? Não tá na hora da gente voltar não?

– Não sei cara. Acho que vou ficar mais aqui. Não é todo dia que a gente vai conseguir reunir todo mundo assim e Lara só vai ficar aqui esse final de semana.

– Então beleza gente. Vou me despedir de vocês e deixar só um momento lovers aqui agora. Boa noite vocês dois marmanjos sortudos e uma ótima noite pra vocês, garotas. Foi ótimo conhecer vocês e bem-vindas à nossa loucura!

– Tchau, Ike. Foi ótimo te conhecer também. Como já disse, passo lá amanhã.

– Mesma coisa pra gente, né Véu? A gente vai lá amanhã, né?

– Ah, vamos sim! Até mais Ike. Também gostei muito da conversa. Até mais!

Cumprimentei os meninos com nosso aperto de mão secreto e dei um beijo e um abraço em suas respectivas namoradas. Logo após virar a primeira curva, corri como um louco para casa. Não havia corrido assim desde que servi de caça para o SkullSatamon maldito. Minhas perguntas seriam respondidas se aqueles números fossem realmente coordenadas geográficas e essa probabilidade me fazia correr cada vez mais rápido.

Cheguei em casa ofegante e suado. Abri o portão da frente com muita pressa e empurrei a porta com força para ir direto ao computador. Minha mãe chegou a se assustar e perguntar se havia acontecido algo, mas respondi rapidamente que tudo estava bem e que eu só tinha pressa. Lucas já não estava mais no computador, o que me aliviou bastante já que teria de gastar tempo convencendo-o a sair.

– Google Maps... Google Maps... Aqui! Dá pra colocar os números direto aqui? Como que é?

Debati-me um pouco, talvez pelo nervosismo, mas consegui encontrar a forma certa de usar os números. Afoito, tirei o celular do bolso e abria mensagem que continha a combinação.

– Aqui! -12/58/1.9344 -39/15/13.0602 0000. No caso, eu coloco esses números aqui em cima, os de cá embaixo... Mas esses zeros não tem ligação com nada! Droga... Só que sem esses zeros cabe certinho nos espaços. Vou colocar sem eles. AI! FOI! Vai, vai, vai, aparece alguma coisa... Caramba e se der, sei lá... Petropavlovsk ou Trelleborg. AHN?? Não tem visualização de satélite... Mas funcionou e da pra ver o mapa, então... Deixe-me ver... Visualizar mapa. O QUÊ???

Meus olhos queriam negar o que eu tinha visto, mas as coordenadas eram as da minha rua. Não havia como ter certeza do local exato, pois não havia imagens do lugar, somente o mapa com as indicações de estradas. Era coincidência demais aquilo ter aparecido, não havia como ter sido engano meu. Aqueles zeros ainda não se encaixavam, mas de resto era aquilo ali.

A conversa com Lara havia sido mais produtiva do que eu poderia imaginar. Fora o fato de ter me realizado para o significado dos números, pensei em baixar o aplicativo de GPS e instalar no D-VICE já que ele aparentemente não tinha nada fora a voz irritante do software e a capacidade de receber mensagens. Minha surpresa foi tanta quando voltei à tela principal e havia um ícone com um mini mapa na tela do celular.

– Ma-ma-mas como? Não tinha nada aqui!! Pensei que isso fosse inútil... No fim das contas você prestou pra alguma coisa, D-VICE... Não vou esquentar a cabeça agora sobre isso ter aparecido milagrosamente. É útil e eu vou usar. Mãe, tô saindo!

– Mas você acabou de chegar... E os meninos? Nem vai me contar como foi tudo lá?

– Te conto depois! Não vou demorar não, até porque já é quase meia noite. Já já tô de volta. Tô levando o celular. FUI!

Corri para fora de casa, abri o aplicativo que já tinha a numeração como padrão de pesquisa e logo abaixo a minha localização. Os números ainda não batiam, então não era em casa. Corri novamente com todo o meu fôlego e consegui alcançar a longitude certa. O tempo foi passando e já era quase meia noite. Já havia andando tudo nos arredores e não conseguia encaixar toda a numeração.

Olhei no celular novamente e eram 00h00min. O celular vibrou sozinho e a noite escura estava sendo tomada por uma luz que, se não estivesse acabado de perder o que me restava de sanidade, vinha de um buraco no céu
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Mensagem por Mickey Seg 07 Jan 2013, 10:58 am

UFA! Terminei! xD~~

Eu tive altos sorrisos nesse episódio! Parabéns Brito!

– Não é isso que eu quero saber. Como assim complemento evolucional? Você me entende?

– O sistema de interatividade do seu D-VICE é limitado a responder às perguntas certas. Por favor, faças a perguntas certas.

– Qual seria a pergunta certa?

– O sistema de interatividade do seu D-VICE é limitado a responder às perguntas certas. Por favor, faças as pergunta certas.

– Ahn? Você já disse isso. Droga! Pensei que isso fosse me ajudar em alguma coisa! Só tá me deixando com mais dor de cabeça ainda! Deixa eu ver... Quem é você??

– Sou o sistema de interatividade do seu D-VICE.

– Putz... Disso eu já sei! Você é alguém? Uma pessoa, ou só uma voz?

– Sou o sistema de interatividade do seu D-VICE.

– Caramba, você só sabe dizer essas duas frases?

– O sistema de interatividade do seu D-VICE é limitado a responder às perguntas certas. Por favor, faça as perguntas certas.

– PUTA QUE PARIU! ISSO É IMPRESTÁVEL! – Bradei para mim mesmo. –
HAHAHAHAH! Velha arte de falar com uma maquina sem sucesso! Parabéns!

Outro ponto importante foi na autoescola... que comédia... ter que dirigir por todos no transito deve ser chato.

E pobre Caíque... está sem namorada no meio de amigos sobra isso né? Vela!

De tudo parabéns pela criatividade!
Um chute... os 0000 na verdade são as horas né?
Por isso só reagiu as 00:00.
Hauhauahu! O restante eu fiquei perdido mesmo!

Novamente Parabéns!
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Mensagem por Júnior Brito Ter 08 Jan 2013, 10:23 am

Mickey escreveu:UFA! Terminei! xD~~

Eu tive altos sorrisos nesse episódio! Parabéns Brito!


HAHAHAHAH! Velha arte de falar com uma maquina sem sucesso! Parabéns!

Outro ponto importante foi na autoescola... que comédia... ter que dirigir por todos no transito deve ser chato.

E pobre Caíque... está sem namorada no meio de amigos sobra isso né? Vela!

De tudo parabéns pela criatividade!
Um chute... os 0000 na verdade são as horas né?
Por isso só reagiu as 00:00.
Hauhauahu! O restante eu fiquei perdido mesmo!

Novamente Parabéns!

Cara, você é um guerreiro! Eu já admiro você por ler minha história com avidez. Eu procuro deixar a leitura bem leve e simples. Já que é grande, pra não ficar cansativo.
Adorei inventar o D-VICE.kkkkkk' Sabia que iria ser a comédia do momento. Essa coisa de inteligência artificial nunca dá muito certo. kkk'
Pois é! Agora é só aguardar o próximo momento de Caíque e os outros. Abrass e obrigado por ler!
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O Mundo dos Sonhos - Digital World - Página 2 Empty Re: O Mundo dos Sonhos - Digital World

Mensagem por Carlos Damasceno Qui 21 Fev 2013, 8:32 am

Olá, Júnior. Eu ainda não li o quarto e o quinto capítulos, já que o segundo capítulo de "Algoritmo" é mais velho que eles, e eu ainda não havia lido. Ou seja, não há olhos que aguentem ler duas fics monstruosas que são a de vocês, em um mesmo dia! Kkkk! Mas em breve tô aparecendo pra te dizer o que achei.

Ei, é impressão minha ou você também tá sumido do fórum? Abraço. Até.
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O Mundo dos Sonhos - Digital World - Página 2 Empty Re: O Mundo dos Sonhos - Digital World

Mensagem por Júnior Brito Sáb 23 Fev 2013, 11:02 am

Carlos Damasceno escreveu:Olá, Júnior. Eu ainda não li o quarto e o quinto capítulos, já que o segundo capítulo de "Algoritmo" é mais velho que eles, e eu ainda não havia lido. Ou seja, não há olhos que aguentem ler duas fics monstruosas que são a de vocês, em um mesmo dia! Kkkk! Mas em breve tô aparecendo pra te dizer o que achei.

Ei, é impressão minha ou você também tá sumido do fórum? Abraço. Até.


Opa, cara! Realmente eu dei uma sumida...Mas voltei à escrever e vou voltar ao fórum também. =B
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Mensagem por Júnior Brito Qua 13 Mar 2013, 12:29 am


CAPÍTULO VI

ENTÃO... NÃO ERA SÓ UM SONHO?

E lá estava eu... Parado em frente a um terreno baldio cercado e vazio. Segundo o relógio, era o início de um novo dia, mas levando em consideração a situação, poderia ser o início de uma nova era. Até aquele momento eu procurava me afastar da ideia de tentar concretizar o meu sonho, só que diante do que acontecia bem na minha frente eu só podia me entregar.

Certificava-me de que mais ninguém testemunhava a situação. Era espetacular e ao mesmo tempo assustadora, era sublime e ao mesmo tempo repulsiva, tudo que acontecia era muito estranho, mas dentro de mim mesmo mensurando riscos, era o que eu queria.

Eu olhava estatelado para o céu como se aquela luz, aquela luz quente e acolhedora, fosse o berço de um milagre. A uns 50 metros de altura o ar parecia um rio logo após se jogar uma pedrinha. Várias ondas circulares e constantes se espalhavam surgindo do centro daquela anomalia que começava a se abrir. A luz que se espalhava pelo ambiente agora começava a se concentrar naquele único ponto, como se fosse um ponto de gravidade tão forte, que pudesse atrair a própria luz.

Não conseguia ao menos piscar os olhos, todo o movimento me tomava por completo e eu sentia que fazia parte dos acontecimentos. Sentia-me ligado àquela fenda. Toda a energia que estava sendo concentrada agora pairava acima de mim. As ondas diminuíam sua frequência e, como se por consequência, o vento ia ficando mais forte. Meu coração palpitava freneticamente e eu já não pensava em mais nada além de ver o que aconteceria no final de tudo.

Meus cabelos e minha roupa esvoaçavam, não ofuscava com a aquela visão e o que era apenas um círculo se transformava numa esfera de luz. Não, não era uma esfera... A forma era definitivamente oval. Assim que toda a energia espalhada havia se concentrado naquela forma, uma única onda de choque se originou do ovo parando todo o movimento tanto ondulatório quanto da massa de ar que se aglomerava ao meu redor.

A onda foi forte o bastante para me derrubar no chão e me fazer derrubar o D-VICE. Não tenho certeza se apaguei ou o tempo que apaguei, mas assim que abri os meus olhos o celular estava posicionado exatamente abaixo do que eu já não tinha dúvidas de que era um ovo no céu e eles se uniam por uma corrente de aspecto aparentemente holográfico. Não sei se era por estar escuro, mas a corrente me parecia azul-marinho e se movimentava como um fio de cabelo solto na superfície calma de um lago, fora o fato da corrente mudar de cor constantemente podendo se comparar a um diamante refratando à luz do sol e ter, em seu interior, os números 1 e 0 enfileirados em ordens aleatórias.

– Então... Não era só um sonho? – Disse indo na direção do D-VICE. –

– Então isso é mesmo uma espécie de digivice e não tô ficando maluco e isso é mesmo...

Minha fala foi cortada pelo choque em todo o meu corpo ao chegar perto o bastante a ponto da corrente me afetar. Não doía. Por mais incrível que pareça, a sensação se tornava anestesiante e até mesmo confortável. Peguei o D-VICE do chão e instantaneamente o ovo começou a descer, ainda reluzindo. Não havia o que falar muito menos o que pensar naquele momento. Era o que era e ponto final. Pensaria no que fazer assim que conseguisse chegar em casa são e salvo para poder desmaiar em minha própria cama.

O ovo terminou de descer até a altura dos meus olhos e já não brilhava mais. Agora via sua aparência: era em sua totalidade branco, com exceção de algumas manchas disformes verde-claras e outras amarronzadas, não como se estivessem sido pintadas, mas como se pertencessem a ele de berço. Estava aturdido, sem dúvidas, só que a confusão vinha com uma pitada de “sonho realizado”, uma mistura de sentimentos que não poderia ser expresso com um gesto ou uma frase, então chorei. Não sabia se de alegria, de medo, de desespero ou de tudo isso junto, mas chorei duas lágrimas de satisfação.

– Espécime convertido. Transferência terminada com sucesso. Compatibilidade inicial testada e aprovada.

E logo após essa frase o ovo caiu bem aos meus pés que, por sorte, pisavam em areia fofa não tendo a chance de transformar a cena mais impressionante da minha vida num omelete gigante. Peguei-o do chão com cuidado e meio desajeitado por ser mais pesado do que imaginava e o levantei com certa dificuldade.

– Espécime, transferência e compatibilidade. Preciso guardar essas palavras... Eu ando vendo coisas de mais sem ter certeza do que é real e o que está fritando meus miolos, mas sem dúvida tudo isso tá acontecendo e você, seja lá quem for, está agora sob meus cuidados. Você e provavelmente os dois Mundos. Preciso nesse momento tentar acalmar meus nervos, como nunca, tratar como real o que vinha me acontecendo e fazer de tudo pra não endoidar com tanta informação ao mesmo tempo.

Levava o ovo para casa com certa dificuldade, ele deveria ter o tamanho aproximado de um capacete de moto táxi e em média uns 2 a 3 quilos. Era pesado, real e surreal. Tudo era desde o dia da autoescola, mas o contato direto com a última situação me trouxe uma confiança e uma determinação que já não via em mim há muito.

Cheguei na porta de casa e realizei que estava com um ovo gigante nos braços e a roupa completamente suja de areia.

–DROGA! Como eu não pensei nisso... Claro e óbvio que minha mãe vai notar que eu tô com isso no colo! Sem ofensas, aí dentro. Deixe-me ver... Oh sim... A garagem sempre é a resposta para tudo.

Abri o portão da casa sorrateiramente e encostei o ovo na parede contrária da qual o quarto da minha mãe dividia com a garagem. Coloquei o ovo cuidadosamente no chão e o cobri com um dos panos onde Preta dormia em cima.

– Desculpa Pretinha... Mas ele também precisa disso. Calma que eu já resolvo essa situação.

Ela me olhou como quem estava curiosa com a situação e suas orelhas, que estavam levantadas, caíram. Entrei em casa fazendo o mínimo possível de barulho e, com a ajuda da sorte, estavam todos dormindo e não acordei ninguém. Entrei diretamente para o banho. Sempre foi o lugar onde eu penso melhor e consigo, ou pelo menos tento colocar os pensamentos em ordem. Com a água forte e morna caindo em minha nuca comecei a reviver a situação passo a passo e ensinar a minha mente a conceber tudo aquilo como real. Não estava sendo fácil e minha cabeça começava a doer.

Sentia-me exausto, como se toda a energia do meu corpo tivesse sido drenada. Talvez tivesse sido. É preciso muito de um ser humano para se fazer entender. Aquela situação começava a me levantar um questionamento: “Será que era assim que os homens da caverna se sentiam ao depararem-se a cada dia com algo totalmente novo?” ou “Foi essa a cara que Thomas Edson fez ao conseguir sucesso com a luz elétrica?”. Não entendia se estava bem, mal ou se conseguia estar das duas formas ao mesmo tempo. Só tinha certeza de que tinha uma missão irrefutável em mãos e que não deixaria minhas dúvidas e meus medos vencerem. Não daquela vez.

– Primeiramente, organizar as ideias. Segundo, conseguir uma forma de esconder um ovo gigante. Terceiro, lembrar de não surtar! Isso é muito importante. MEU DEUS TEM UM DIGIMON NA MINHA GARAGEM! EU SOU UM ESCOLHIDO! AAAAAAAAAAAH!

Não me contive. Era como uma criança que queria desde sempre uma viagem para Disney só que no lugar, o parque todo se muda para o seu quintal. Depois de tanta pressão, a sensação de ter o ovo em minhas mãos era um motivo de alegria imensa. Tanto pelo fato da realização pessoal até então impossível quanto por saber que poderia fazer algo contra seja lá o que estivesse por vir.

– A energia ainda flui pelo meu corpo. Ou pelo menos eu ainda sinto passar... É tudo muito estranho, diferente e ruim de assimilar. Mas se eu estou nessa situação, tem um motivo e eu não vou dar as costas pra o que eu precise fazer. É minha missão. Epa, se eu vi um Digimon e agora TENHO um Digimon... Jonas...

Jonas poderia estar passando por problemas. Ainda mais pelo fato dele não conseguir se acalmar somente com o que ele vê. Ele precisa de provas e explicações. Não estaria “calmo” como eu nem se contentaria em ter simplesmente um ovo em mãos. Ele iria buscar respostas...

– Mas se quando ele viu o Leomon ele veio diretamente a mim, então qualquer outra coisa ele me falaria também. Ou não? Agora já não sei o que pensar sobre ele. Droga Jonas! Porque você tinha que estar nesse bolo? Pelo menos Lucas tá fora disso...

Eu sabia que por mais realizador que fosse, ter um legítimo ovo de Digimon em mãos significaria também grandes problemas e não queria nenhum amigo ou familiar envolvido. Principalmente Lucas.

– Ele não pode saber de nada disso em nenhuma circunstância. Ele não pode se meter nisso sob nenhum aspecto. Vai ser perigoso demais pra ele.

Saí do banho agora com uma perspectiva mais sombria. Até então, não havia pensado que o que acontecia comigo poderia afetar diretamente as pessoas que estão ao meu redor e aquele foi o pensamento que pairava acima do meu nariz enquanto estava deitado no beliche.

– Por enquanto tá tudo bem... Será que tem alguém esperando alguma coisa? Será que eu vou ser expurgado da Terra pra o Mundo Digital? Eu não quero sair daqui sem aviso ou cheio de dúvidas na cabeça... Ir pra um lugar desconhecido onde podem me matar a qualquer momento... DROGA! – Gritei mesmo com Lucas dormindo na cama de baixo e mesmo sabendo disso. –

As consequências sombrias da realização de um sonho tão inocente começavam a fervilhar em minha cabeça, pesadamente. A minha família não podia pagar o preço por mim. Ninguém além de mim. Iria guardar tudo a sete chaves e esconder aquela existência a qualquer custo.

– Ninguém jamais vai ficar sabendo de você, ovo. É estranho chamar assim, mas ainda não sei o que vai sair de você... – Falei para o ar com um sorriso choco no rosto. –

Dormi com o pensamento dividido. Estava extasiado e animado com a ideia de ter um ovo prestes a chocar o meu sonho, mas me sentia preso ao fato atrelado com a aparição dos Digimons. Se eles estavam aqui, algo estava errado e precisava ser corrigido.

Estava agora num sonho. Um daqueles sonhos que se tem consciência de estar sonhando e aquilo me dava uma bela frente diante do que pudesse vir. Aquilo poderia ser esclarecedor se não estivesse tudo apagado. Tudo completamente escuro até que um único feixe circular de luz alcançou o agora visível chão. Uma luz branca que vinha sabe-se lá de onde e parava sob meus pés. Como se viesse da luz, notava um objeto de formato basicamente cilíndrico em queda livre. Um pouco antes de cair a cena parecia entrar num tipo de slow motion então pude pegar o objeto antes que caísse.

Não foi de muita serventia. O cilindro estava quente e a minha reação primária foi soltá-lo de imediato. Agora completamente iluminado notava que ele era transparente, provavelmente feito de vidro e com tampas prateadas em suas duas extremidades. O conteúdo me pareceu ter um aspecto familiar. Tinha quase certeza de que já havia visto algo com aquela textura.

Abaixei-me e examinei com cautela o frasco e o seu recipiente. Pensei que poderia ser algo importante para estar tão bem protegido e mesmo quando vulnerável, não poder ser tocado. Era algo interessante para se destrinchar se fosse para ser levado ao subjetivo.

Ao longe, quase como se estivesse sendo impedida de falar, escutava uma voz sussurrante:

– Colete-os... Colete-os... Não deixe que quebrem a...

E era prontamente interrompido. A voz parecia pedir ajuda. De forma branda e nada agressiva, como estava acostumado já a sonhar. Escutava então de novo, o mesmo coro e do começo:

– Colete-os... Colete-os... Não deixe que quebrem a...

Mas a maldita voz não terminava o recado. Parecia de propósito. A cada vez que tentava falar, sua voz saía mais baixa e mais fraca e o feixe de luz que dava forma ao meu sonho ia se esvaindo junto com o cilindro e a minha noção de realidade.

Tudo estava finalmente apagado e quando tentei olhar para trás, um som característico de vidro se quebrando ecoou ao meu redor abrindo um turbilhão de vento bem à minha frente. O cenário agora era iluminado por faixas de luz transparente que pareciam mudar de cor ao movimentar-se e números que pareciam formar combinações binárias estavam pairando no ar. Eu nesse momento me sentia perdido. Estava dentro do meu próprio sonho, mas não tinha o controle dele.

Os números se juntavam numa forma sólida bem no centro da ventania que ainda não havia parado e eu pensava em quão familiar essa cena poderia me ser. Diferente do final que imaginava uma lança ou um raio foi atirado em minha direção e atravessou o meu peito friamente. E foi com isso que acordei.

– Hm... Lucas, tá dormindo? – Falei roucamente. –

– Lucas? Nossa, ou ele acordou cedo hoje, ou é mais tarde do que eu imaginava. Que horas são?

Por alguns segundos havia me esquecido de tudo o que estava passando, mas olhar as horas no D-VICE me fez lembrar automaticamente do meu problema prestes a eclodir.

– Droga, o OVO! Droga, droga, droga, droga... Porque eu tenho que dormir só de cueca? Blusa, beleza. Agora bermuda, calça, short...Qualquer coisaaaaa!! Aqui, pronto. AI!

Desci da cama com pressa e bati na cômoda. Se havia dormido tanto, tinha chances de terem encontrado o inquilino secreto na garagem o que geraria um grande problema pra explicar ou uma desculpa envolvendo tráfico de ovos de avestruz.

– Mãe, tá em casa? Lucas? Ninguém??

– Eu estou aqui, serve?

– V-vó?? – Estava surpreso e amedrontado então não soou como eu queria. –

– Nossa, tem algum bicho preso em mim? Você fez uma cara horrível quando me viu! Sua mãe e seu irmão foram ao shopping. Cheguei agora de manhã, só que você estava na sua cama roncando, não quis te acordar. Como está você, menino?

Minha avó é uma senhora de 65 anos. Muitos diriam que é jovem para ser avó, mas minha mãe me teve aos 19 então isso não soa tão estranho. Como a maior parte da minha família materna, ela é pequena. Por volta de 1,50. Tem cabelos curtos e cacheados que se misturam entre o preto, branco e o cinza que se forma entre os outros dois tons. Falando em tons, ela tem essas coisas em comum com Lucas como a pele e os olhos. Ela usa um par de óculos de grau com lentes bem grossas e geralmente usa roupas folgadas como vestidos floridos ou camisetas e shorts para casa. Muito mais jovem do que é tanto fisicamente quanto em suas ações.

– Ah, vó... A senhora já sabe... Tô bem e...

– Bem? Olha como você tá magrinho! Não cresceu porque não come direito!

– Não escalda, vó!

– Não o quê?

– Nada... Então, o que traz a senhora aqui?

Estava preso numa conversa inútil com a minha avó, mas não podia simplesmente virar as costas para ela. Precisava dar a atenção merecida a alguém tão importante na minha vida como ela. Sem esquecer que tinha alguém muito importante também ainda para nascer.

– Vim visitar meus netos e minha filha, oras. Estou de folga do trabalho e decidi passar uns tempos com vocês. – Me respondeu descontraída. –

– Nossa, vó! Vai ser ótimo ter a senhora aqui com a gente. Não tanto quanto eu queria que fosse, mas vai.

– Porque diz isso, menino? É por causa do seu pai? Ele continua aparecendo aqui na porta? Se ele tiver...

– Não, não... Nada disso. E é melhor a senhora não se alterar, tomar cuidado com a pressão. Eu tô só com a cabeça muito cheia esses tempos, então não vou aproveitar tanto quanto eu queria.

Não podia ao menos oferecer a ela a atenção que merecia, no momento. Minha cabeça estava completamente enterrada no meu grande problema extraterrestre. Meu corpo e minha mente pediam para ir até a garagem confirmar que estava tudo bem, pegar aquele ovo e esconder num lugar mais seguro, precisava finalizar aquela conversa...

– Nossa, acabei de acordar. Preciso ir no banheiro! – Falei enquanto dava as costas e me dirigia à garagem. –

– Tem um tempo que eu não venho aqui, mas acredito que o banheiro ainda esteja no corredor, certo? – Me perguntou quase que retoricamente. –

– Oh, sim. Claro! É só que... Eu tô descalço e... Minhas sandálias tão lá fora. Já volto!

– Ah, certo. Não se preocupe comigo não meu neto. Sua avó pode muito bem ficar aqui no computador. Criei um Facebook pra mim. Caíque? Esse menino...

Escutei de longe sua última frase e sorri comigo mesmo. O que estava começando a se tornar raro devido às minhas preocupações atuais. Era tanto peso que eu já tinha que forjar os sentimentos bons para não notarem o peso nas minhas costas e havia me esquecido de sorrir de verdade.

Dirigi-me à garagem rapidamente e fui ao canto onde havia deixado o ovo torcendo para ninguém tê-lo descoberto. Acredito que com o meu susto ao ver que o ovo não estava lá, poderia ter posto um maior do que o que já tinha. Empalideci.

– Será que foi tudo um... Um sonho ou sei lá, algum tipo de ilusão. Como a noite no fundo da casa? S-será que... QUE PORRA! – Gritei imprudentemente, esquecendo-me da presença da minha avó. –

– Droga! Nem posso gritar de raiva. Foi tudo uma puta duma ilusão. – Comentei iludido para o pano de Preta que, pelo cheiro, precisava ser trocado.

– Caíque! Caíque! Venha cá!

– Ela escutou... ERA O QUE EU PRECISAVA! Uma bronca da minha vó por causa de boca suja. Oi? O que foi, vó? – Perguntei da porta da frente para ela escutar do meu quarto. –

– Seu aparelho. Seu celular tá tocando. Comprou celular novo, foi? Nem pra me dizer. O número é o mesmo?

– O quê? Tocando? Foi mensagem? Ou chamada?

– Não sei menino. Só sei mexer no meu celular. Tome vá.

– Brigado.

Sendo uma mensagem, poderia me dar mais uma combinação de números que dessa vez poderiam me levar a algum lugar de verdade. Ou pelo menos me dar alguma pista do que fazer.

– Processo de eclosão iniciado.

– Como? Erosão? Como é?

– O sistema de interatividade do seu D-VICE é limitado a responder às perguntas certas. Por favor, faça as perguntas certas.

– Droga, não começa com isso de novo! Pensar numa hora dessas é pedir de mais! Hm... Poderia repetir sua última notificação?

– O sistema de interatividade do seu D-VICE é limitado a responder às perguntas certas e atender ordens pré-programadas. Sua pergunta não se encaixa.

– Opa, peraí. Agora você mudou o discurso. Então eu posso ordenar?

– O usuário do D-VICE tem uma quantia limitada, porém expansível de aplicações e ordens para escolher.

– Preciso me lembrar disso. Tenho muito a ordenar então... Repita sua última notificação.

– Acessando... Processo de eclosão iniciado.

– Ec-eclosão tipo de eclodir? Chocar? – Perguntei abruptamente. -

– O sistema de interatividade do seu D-VICE é limitado a responder às perguntas certas e atender ordens pré-programadas. Sua pergunta não se encaixa.

– Foi retórica. Então o ovo existe? – Esperei ansiosamente para que aquela pergunta se encaixasse no padrão limitado do D-VICE. –

– Espécime registrado. Transferência concluída com sucesso.

– Esse foi o sim mais estranho e mais carregado de felicidade da minha vida! Mas, como eu faço pra achar o ovo?

– Localizando dados recém convertidos na área limite de 200m². Rastreando linhas de M.U.P. Espécime localizado. Execute sua função GPS.

– Conseguiu? Sério? Então tá mesmo aqui? Ligar GPS agora mesmo! Licença aqui senhorita voz, mas vou abrir o programa. Localização exata... Aqui! Rastrear espécime. Que jeito estranho de chamar um Digimon... Tá perto daqui. Tá dentro de casa? Vamos andando... Direto... Direita... Opa, papel e caneta aqui do computador. Essa mulher fala de mais sobre coisas que eu não sei e não da pra gravar tudo. Preciso anotar. Recém convertidos, M.U.P.... Depois me preocupo com isso. Agora a prioridade.

– Tá falando sozinho menino? – Gritou minha avó do meu quarto. –

– Não, vó! Tô no celular! AHN?

Fui guiado ao fundo da casa o que não seria nada estranho, tirando o fato do ovo estar lá, sendo que ninguém o levara e por estar rolando freneticamente para todos os lados sem nenhum tipo de impulso. Estava intrigado, aliviado, excitado com as possibilidades e atento ao que a voz do D-VICE poderia dizer. Usava meus sentidos para múltiplas atividades. Não costumava fazer isso e quando tentava, não saia com a maestria necessária.

O ovo ainda se mexia e eu estava tentando pegá-lo. Ele parecia fugir de mim, ou algo assim já que todas as minhas tentativas eram falhas. “É um ovo muito ágil”, pensei. Já estava muito ansioso para saber o que iria acontecer, se alguma luz iria emanar do ovo até que o Digimon nascesse, se ele chocaria e viraria um berço instantaneamente, queria comprovar com meus olhos as cenas que tanto gostava de ver na televisão.

– Eclosão iniciada. Espécime prestes a nascer.

– Nascer? Mas ele tá girando feito um doido e...

Antes de terminar, o ovo parou completamente em pé, equilibrando-se firmemente em nada além de si mesmo. Depois de tudo que o vira fazer, aquilo não me assustava. Esperei pelo próximo passo, atento à uma possível aparição instantânea da minha avó.

– Ele tá... Chocando... – Comentei talvez pensando alto, talvez com o ovo. –

Não posso dizer que fiquei desgostoso, mas sei que fui surpreendido e me senti um pouco nauseado com a cena que estava para presenciar. A casca do ovo começou a se quebrar, como se uma ave qualquer fosse sair de dentro dele, fora o fato de que os pedaços de casca que soltavam vinham cheios de algum tipo de secreção transparente, uma gosma por assim dizer e iam caindo no chão produzindo sons tão estranhos quanto sua aparência.

Começava a notar que dentro do ovo havia mais gosma do que qualquer outra coisa e passava a me perguntar se a situação era utópica ou nojenta. Me fazia lembrar fielmente a cena do nascimento do dinossauro da saga Jurassic Park.

A parte superior do ovo já havia saído completamente e comecei a ver então algo como uma mão que empurrava os pedacinhos do ovo para fora, tentando se livrar de todo aquele grude. Talvez não fosse uma mão. Só haviam três dedos sem nenhuma divisão, ligados diretamente ao “braço” que entrava no ovo impossibilitando ver sua continuação.

Pensei em ajudar a quebrar a casca do ovo, mas ainda não havia decidido o quão tóxica aquela gosma poderia ser para um humano. Eu já não conseguia esperar nem mais um segundo. Mesmo a cena sendo um pouco repulsiva e incomum, o meu Digimon estava para nascer.

O que parecia ser um braço já estava quase completamente à vista. Sua pele era de um pálido incomum, meio esverdeado, mas branco o bastante para pensar em sugerir um tempinho na praia ao seu dono. Depois de ter quebrado mais um pedaço do ovo, notei o porquê da demora para sair: ele estava de cabeça para baixo. Então me decidi a ajuda-lo em sua empreitada para sair de sua prisão gosmenta.

– Ei, carinha... Não sei se vo-vo-cê... Droga, tô nervoso... Olha, vou te aj-ajudar a sair daí. Não se assusta. – Falei complacente. –

Aproximei-me ainda meio receoso do ser que até então eu não conseguia definir. Toquei naquilo que agora tinha certeza que era um tipo de rabo e ele contraiu, talvez com medo.

– N-não tenha medo, só quero te ajudar. – Ratifiquei limpando minha mão na camisa. –

Tentei novamente puxá-lo para fora com cuidado e fui abençoado pela confiança daquele recém nascido. Acredito ter emanado minha boa vontade ou que algum vínculo entre nós tivesse o feito confiar em mim.

Minha mão escorregava pela pele lisa e sensível do ser que ainda não nomeara. Era quente. Mais do que o normal, por assim dizer. Fez-me sentir quente também e a cada segundo eu parecia compartilhar as sensações do pequeno ser.

Enfiei minha mão pela abertura do ovo, o que me trouxe uma certa aflição. Parecia estar tentando cavar uma gelatina com os dedos. Senti o corpo da criatura se comprimir mais uma vez, então afastei a mão e recomecei mais devagar. Ele não tinha braços nem pernas, notei. Eu apalpava uma bola. Uma bola quente e escorregadia.

Consegui pegá-lo com firmeza. Puxei-o com cuidado para fora e o trouxe para a minha visão. Agora tinha certeza de sua aparência. Fora o rabo e o formato esférico que havia notado, duas bolinhas completamente escuras sentiam dificuldade em se mostrar diante da luz do sol. Elas brotavam do que poderia ser o seu rosto. Um único dente afiado se mostrava presente, escapando do pequeno risco abaixo dos olhos que eu deduzi ser a sua boca, mesmo não tendo lábios, mas sua característica mais marcante era o chifre no topo de sua cabeça.

Estava anestesiado. Simplesmente não me movia. Estava emocionado, meu coração palpitava forte e sentia um leve formigamento nas pernas que as deixavam um pouco bambas. Tinha um Digimon em minhas mãos, o tinha visto nascer, ajudei em sua chegada ao meu mundo. Ele era mais que bem vindo, era tudo o que eu queria. Naquele momento havia esquecido as preocupações. Era o momento mais alucinante e surreal da minha vida. Me perguntei se ficaria tão emocionado no nascimento do meu primeiro filho.

– Ei, carinha... Você é... Demais.

Recebi como resposta algo que me pareceu um sorriso misturado com um arroto ou um soluço. Ele parecia se adaptar ao que via, sentia, ouvia. Era realmente um bebê. O que me tornava pai de aluguel. Pelo menos enquanto continuasse naquela forma, a pequena criatura estaria sob meus cuidados.

– Então minha missão começa cuidando de você, né? Preciso despistar minha vó e te levar pra o banheiro. Eu posso tirar essa geleca de você, certo? – Falei com aquela vozinha que todos fazem para bebês.-

Ele não parecia me entender, mas notava que ele se sentia protegido em minhas mãos. Se sentia confortável e não parecia inquieto. Notei que ele olhava para o ovo constantemente e atribuí isso ao fato de ter sido sua casa por um tempo considerável.

– Poxa, eu não lembro seu nome... Não é exatamente como vi no anime, mas tenho certeza que é você. Mas isso não importa, não agora. Preciso te dar um bom banho e provavelmente você tá com fome. Vamos indo.

Me esgueirei pela porta da cozinha e ele pareceu não gostar muito disso já que soltou um som como um resmungo, seguido de uma bolha que saiu de sua boca. Passei sorrateiro pela cozinha e meu Digimon parecia cada vez mais inquieto. Cheguei à sala do computador e vi minha avó deitada no quarto da minha mãe, tirando uma soneca. O bebê soltou alto como um “gah” um pouco mais alto que o seu resmungo e que agora havia me preocupado um pouco.

Não tinha certeza do que fazer e com certeza não encontraria um guia de “como criar seu Digimon de verdade” na internet. Quanto mais nos afastávamos do fundo da casa, mais ele se mexia na minha mão. Quando cheguei na porta do banheiro e olhei para trás, notei a trilha de bolhas que ele havia deixado. Elas pairavam no ar, enfileiradas, como se estivessem mostrando algum caminho.

– Nossa... O que você tem? Precisa ficar perto do ovo, é isso?

– GAH!! – Me respondeu como se dissesse não.-

– Caramba... Eu não falo bebêzês! Assim fica difícil... Você tá com fome? – Perguntei fazendo mímicas de mastigação e hambúrgueres invisíveis.-

– HUN!! GAH!! – Se dirigia a mim com seriedade nos olhos.-

– Você tá tentando falar... Eu sei disso, mas o que?

– Caíque, é você que tá brincando de bolinhas de sabão? Isso não é mais pra sua idade não, sabia?

– Não vó! É que... É que... Nada não, pode descansar!

– Descansar nada, preciso ir no banheiro! – Gritou para que até os vizinhos ouvissem.-

– Mas eu já tô aqui! – Falei entrando no banheiro com pressa. –

– Avisa quando sair!

– Tá!

– GUH!!! AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!

– Não, não, não carinha... Faz isso não, para de chorar... Porque cê tá chorando? Foi a porta? Foi o grito que eu dei? Foi isso?

– AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!!!

– Ei, ei, ei, e se eu fizer uma careta? E se eu passar essa gosma nojenta na minha cara? Vai, ajuda aí! NANANANA!!! É... Buga, buga, bugaaaaa!! – Tentei algumas gracinhas, mas nada deu certo.-

– AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!

– Caíque! Que gritaria é essa?

– Nada, vó! Só botei o som muito alto aqui. É um vídeo que eu tô vendo!

– Então abaixa isso, vou fechar a porta do quarto!

– Tá bem! Obrigado... Essa ajudou... E você, porque não para de chorar? – Perguntei a mim mesmo, já um pouco desesperado.-

Não sabia mais o que fazer. Minha avó iria sair chateada com o barulho em algum momento. O bebê não parava de chorar e ao invés de diminuir, ele só fazia chorar cada vez mais alto, como se fosse para mais alguém escutar. Meus ouvidos começavam a doer com aquele choro ressoando nos azulejos do banheiro. Ele berrava cada vez mais alto a ponto de pensar estar escutando dois choros. Ou estava escutando.

– AAAAAAAAAAAAA!

–AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!

Aquele segundo choro parecia ser mais baixo, diferente, e nas primeiras vezes atribuí ao eco do banheiro. Notei que o bebê parara um pouco de chorar para tomar fôlego, já estava ficando meio avermelhado, mas mesmo assim ainda ouvia um som ao fundo.

– Nossa, você chorou tanto que o barulho já não sai mais da minha cabeça. –Falei surpreso.-

– AAAAAAAAAAAAAAAAAAA!

– Cara, isso definitivamente não veio da minha cabeça.

– GAH! – Foi a resposta quase rouca que recebi. -

Na casa tem um beco que leva ao fundo e no banheiro, uma pequena janela que dá para o beco. Notava que o som do choro vinha dessa janela.

– Esse choro... Vem do fundo?

Abri a porta do banheiro com pressa, carregando o nenê em minha camisa, para não deixa-lo cair. Quanto mais me aproximava do fundo da casa, mais alto ficava o som e cheguei novamente à origem do meu Digimon.

– O ovo tá... Chorando?

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Mensagem por Mickey Qua 13 Mar 2013, 4:29 pm

Hahahahahah Caíque é muito zuado!

E logo após essa frase o ovo caiu bem aos meus pés que, por sorte, pisavam em areia fofa não tendo a chance de transformar a cena mais impressionante da minha vida num omelete gigante.
Terceiro, lembrar de não surtar! Isso é muito importante. MEU DEUS TEM UM DIGIMON NA MINHA GARAGEM! EU SOU UM ESCOLHIDO! AAAAAAAAAAAH!
Se havia dormido tanto, tinha chances de terem encontrado o inquilino secreto na garagem o que geraria um grande problema pra explicar ou uma desculpa envolvendo tráfico de ovos de avestruz.
HAHAHA! O cara tem um dom para falar coisas engraçadas.


Então, ótimo episódio! Parabéns pela montagem e pelo trabalho.
Huahuhahuahau! Essa "eclosão" de Digitama foi muito zuada. Agora fiquei confuso com esse final... tem dois Digimon?
Agora é esperar para ver o que você trará no próximo.

Muita Criatividade Brito! Até o próximo!
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Mensagem por Júnior Brito Sex 15 Mar 2013, 3:45 pm

Opa, e ai Mickey!
Realmente, Caíque sempre procura uma forma de inserir uma piadinha. Ele tem a imaginação muito fértil também e juntando esses dois, já viu no que dá! HAHAHA
Bom, fico realemnte feliz que esteja gostando da história! Sinceramente.
Postarei mais um capítulo em breve.

Abraço! o/


Mickey escreveu:Hahahahahah Caíque é muito zuado!

Então, ótimo episódio! Parabéns pela montagem e pelo trabalho.
Huahuhahuahau! Essa "eclosão" de Digitama foi muito zuada. Agora fiquei confuso com esse final... tem dois Digimon?
Agora é esperar para ver o que você trará no próximo.

Muita Criatividade Brito! Até o próximo!
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Mensagem por demigustavo Ter 26 Mar 2013, 5:55 pm

kkkkkkkkkkkkkkk essa fancic e demais e muito emgraçado e quase minha alto biografia(principalmente na parte de segurar vela nisso sou mestre)eseto que so vi digimon de verdade uma ves e ninquem me deu celular gratis blz
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Mensagem por Júnior Brito Ter 26 Mar 2013, 6:23 pm

Opa, valeu cara! Ja que gostou, clique em gostei e depois em compartilhar e...não pera. /wat?
Pois bem. Espero que continue lendo e continue gostando! Me esforço bastante para fazer o melhor que posso para os fãs de Digimon!

Grande abraço.


demigustavo escreveu:kkkkkkkkkkkkkkk essa fancic e demais e muito emgraçado e quase minha alto biografia(principalmente na parte de segurar vela nisso sou mestre)eseto que so vi digimon de verdade uma ves e ninquem me deu celular gratis blz
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Mensagem por demigustavo Ter 26 Mar 2013, 7:53 pm

serio e bem real por acaso seu digimon e um kokomon e um Gummymon
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Mensagem por Júnior Brito Ter 26 Mar 2013, 10:48 pm

Bom, vejo que você ja tem suas suspeitas e suas especulações! Fique de olho nos próximos capítulos que serão postados e você saberá a resposta! =p
Abraço!
demigustavo escreveu:serio e bem real por acaso seu digimon e um kokomon e um Gummymon
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Mensagem por saggi the dark clown Sex 29 Mar 2013, 2:54 pm

po quando vem o proximo capitulo alias sou eu o demigustavo em outra conta
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Mensagem por Júnior Brito Ter 11 Jun 2013, 4:39 pm

Bom, primeiramente peço desculpas pela demora em postar novidades, mas comecei a faculdade e ela me deixa com pouco tempo para me dedicar aos escritos. Não gosto de escrever com pressa pras coisas não saírem dos eixos nem ficarem desconexas. Mas não vou abandonar minha história!

Outra coisa que gostaria de dizer é que como posto essa história também na Nyah! Fanfiction, lá tem uma opção de Notas iniciais e notas finais onde ponho frases dos personagens fora da linha do tempo. Como comentários deles, a quem interessar, o link da fic na Nyah! está na minha assinatura! ;D





CAPÍTULO VII

JONAS

Na mesma manhã do meu teste prático na autoescola, Jonas passava por um momento de inquietude em casa e provocava um certo desconforto à sua mãe.

– Mãe, Karen tá chorando de novo!!! – Disse Jonas já impaciente com a irmã doente. –

– Seja paciente com sua irmã, menino! Ela tá com febre! – Respondeu irritada para ele. –

– Eu tô querendo ir na casa de Caíque, mãe. Tenho umas pesquisas pra discutir com ele.

– Pelo amor de Deus, né Jonas... Sua irmã doente, eu tendo que arrumar a casa e você pensando nessas loucuras que você pesquisa? Você precisa ter uma noção maior de prioridade!

– Mas mãe, não é qualquer pesquisa. É algo muito importante, tão importante que pode mudar o curso da história!

– Quer ver o que pode mudar o curso da história?

– Hum?

– Você fazer alguma coisa pra me ajudar e tentar distrair sua irmã pra eu arrumar a casa em paz.

– Droga, mãe!

– O quê é que você disse?

– Nada... Vou pro quarto!

– E sua irmã?

– Já dei uma bala pra ela. Não percebeu que ela parou de chorar?

– Tá bem, mas se ela chorar de novo você leva ela com você!

– Certo...

Jonas é muito preocupado com as pessoas ao redor dele, diferentemente da forma com que trata a si próprio, mas as coisas que vinham acontecendo com ele, misturadas com o fato dele não poder explicar e não ter a situação “mastigada” tirava ele do eixo.

Já havia se passado um tempo desde o encontro dele com o Leomon, mas os efeitos colaterais daquela situação ainda o assombravam com uma intensidade talvez maior do que quando aconteceu comigo, já que ele se afundava num pântano de insegurança e desdém consigo mesmo.

Equilibrando esse desleixo, Jonas é uma pessoa com a qual você sempre pode contar. Ele se importa muito com as outras pessoas e sobre como elas estão ao seu redor e exatamente isso o fazia estar numa situação pior do que a minha. Ele, por ter achado que foi o único que passou por aquela situação, se sentia na responsabilidade imediata de conseguir descobrir tudo o que acontecia e proteger as pessoas que não têm conhecimento sobre o fato. É muita pressão para uma pessoa só, colocar a vida de todos em suas próprias costas e Jonas faz isso numa intensidade muito maior que qualquer pessoa que eu já conhecera.

– Uéeeeeeeeeeeeeeeeeen!!!

– Jonas, Karen tá chorando de novo! Pega ela no colo e leva pro seu quarto com você!

– Tá bem, mãe!

– E faz isso logo que eu tô com dor de cabeça e não da pra trabalhar desse jeito!

– Uéeeeeeeeeeeeeeeeeeeen!!!

– Ei, menininha. Não fica assim não tá? Vem cá pro colo do seu irmão. Vamos pro meu quarto?

– Tá... – Respondeu Karen com voz de choro. –

Jonas tem uma casa bem simples: Uma varanda logo de entrada que comporta ao máximo uma moto, ao passar pela porta, chega-se numa antessala com uma mesinha no centro e uma pequena cômoda de fundo, encostada na parede que fica de frente à porta. À direita, ainda na antessala, está o quarto da mãe de Jonas. Logo após a antessala, vem a sala com uma mesa redonda e algumas cadeiras ao redor. No canto dessa sala, vem o banheira da casa e vizinho ao banheiro, o quarto de Jonas. Passando por um vão à esquerda da sala, chega-se em sua cozinha que leva diretamente à um pequeno corredor no fundo da casa onde ficam alguns objetos guardados e uma pia para se lavar roupa.

No quarto de Jonas tem um guarda-roupas encostado à parede esquerda, na direita sua cama e de frente à porta, a janela que dá visão para pia dos fundo e ao lado da janela, o hack com o seu computador

– Acho que com você eu posso desabafar... Sem dúvidas você não vai sair por aí contando nada disso a ninguém, certo?

– Boca ”fêçada”, momon! – Disse ela carinhosamente. –

Jonas sorriu para sua irmã, complacente e pôs a mão no bolso de sua bermuda folgada. Tirou de dentro um celular prateado com algo escrito em preto em uma de suas laterais. Era um D-VICE.

– Eu não faço ideia de que seja isso, nem pra quê isso serve!

– Celular, momon. Pa ligar pá Caíque e Lucas. – Respondeu Karen com firmeza na voz. –

– Poderia ser tão fácil assim, Karen. Mas ninguém me daria um celular do NADA. Ainda mais sem dizer porque, sem nem deixar o nome! Isso é maluquice, entendeu? Por isso eu tenho que descobrir o que tá acontecendo. Pode ser um problema à vista... Levando em conta a possibilidade da existência de seres de outro mundo similares aos Digimon, poderiam causar muito estrago vindo pra cá. Não sei se eu tenho que avisar alguma autoridade, se eu posso fazer isso sozinho ou se eu tenho que contar pra Caíque... Ele pode me ajudar. Ivan sabe pouco e Lucas menos ainda... O que você acha?

– Tô com fome. – Resmungou Karen. –

Jonas olhava a irmã com um pequeno sorriso no canto da boca. Deixou-a no quarto dele e foi à cozinha preparar algo para a irmã. Ele estava numa situação pior do que a minha.

Era como se eu esperasse tudo aquilo e recebesse de forma mais simples do que Jonas. Eu ia deixando acontecer e me deixava ser guiado pelos passos que a situação dava e em seu ritmo, enquanto Jonas tentava ficar um passo à frente de toda a situação para poder calcular os pré-acontecimentos. Ele tinha essa fome por saber o que ia acontecer e não gostava de ficar no escuro. Era mais desesperador do que excitante para ele. Enquanto eu gosto de resolver enigmas, Jonas prefere destrinchá-lo, descobrir a sua origem e contar com todas as respostas possíveis para tal encontrando brechas. Ficar perdido, para ele, era sinônimo de guilhotina.

Quando ele coloca algo na cabeça, mesmo que queira não consegue tirar. Então nada era mais importante do que descobrir quem havia presenteado ele com o celular, o que o aparelho fazia e quais as consequências após o que viesse.

– Tá aqui, guria. Vê se come tudo, viu? Se não mamãe vai ficar chateada.

– Tá bom! – Disse ela segurando sua colher rosa, que combinava com o prato. –

– Jonas!! – Gritou sua mãe enquanto lavava roupas, no fundo. –

– Que foi mãe?

– Atende esse celular que já tá me deixando doida!

– Ahn?

– Atende o celular, menino!!

– Meu celular tá desc...

Seus olhos se arregalaram, talvez de espanto com a notícia, talvez de esperança de ser alguma resposta ou quem sabe de receio quanto ao que poderia vir adiante.

– Já vou atender! Caramba, deixei aqui na cozinha quando fui preparar a comida de Karen. Mensagem? O que é isso?

Jonas correu direto para o seu quarto e ligou o computador de imediato para pesquisar o significado do código que vira na tela do aparelho enigmático. Sua fome pela verdade era muita e uma pista como aquela não poderia simplesmente esperar para ser decifrada.

– Karen, consegui alguma coisa!

– É de comer, Momom? – Perguntou inocente. –

– Não menininha... A única coisa que isso pode alimentar é a minha curiosidade. Como é mesmo isso aqui?

Na mensagem em que Jonas escreveu também não tinha destinatário, mas ele não havia percebido isso de primeira. Estava mais preocupado em tentar entender o que o monte de números que vieram na mensagem poderia significar. Na mensagem vinha: “-12.96857 -39.259956 0001”

– Pelas duas primeiras ordens de números, eu poderia atribuir diretamente a coordenadas. Só tô em dúvida quanto aos quatro últimos números. Se forem coordenadas, vai dar algum lugar aqui no Maps. Se bem que qualquer número vai dar em algum lugar. Não custa tentar, né não?

– Tenta! Tenta! Tenta! – Torceu Karen espalhando almoço pelo chão do quarto. –

– Se eu não colocar esses quatro últimos números aqui vai dar em... COMO?? Mas, é coincidência de mais. Chega a ser impossível!

A resposta de Jonas quanto à mensagem foi praticamente instantânea comparado a mim. Enquanto precisei de um empurrãozinho do acaso, seu primeiro palpite o levou à resposta certa ajudando-o com seu quebra-cabeças pessoal.

– Momom.

– Pera, Karen.

– Momom...

– Karen, fica quietinha, só um segundo... Tô pensando aqui...

– Momom eu vou... –BLEEERGH-

– Ah, Karen! Você vomitou no chão do quarto?

– UEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEN!!!!

–Jonas!

– O que é mãe?

– Vá ajudar sua irmã menino! Saia do computador pra limpar essa meleira que ela fez.

– Mas eu tô muito ocupado aqui agora.

– Não me aborreça, não. Eu faria isso, mas tô lavando roupa aqui agora. Vá logo, depois você volta pra o computador.

– Tá, tá... Tá bem. Poxa Karen, você cortou minha linha de raciocínio, tá vendo?

– Mamãe escondeu a “tisôra” de mim...

– Certo. Então não cortou não. Eca... Então foi assim que ficou o cachorro-quente de ontem? Deixa eu limpar isso logo. Preciso confirmar o que eu descobri.

Jonas estava prestes a explodir de tensão e ansiedade. Sua cabeça estava a mil e por mais que quisesse dar atenção a sua irmã doente, ele não conseguia desgrudar-se do enigma do momento. Pelo menos ele se mostrava mais seguro de seus atos e aparentemente, era mais forte do que eu.

– Já limpei, mãe!

– Certo.

– Você vai ficar com Karen agora?

– Agora não que eu tô assistindo minha novela da tarde.

– Mas essa novela já passou. E se ela vomitar aqui de novo?

– Dê um pouco de atenção a sua irmã e não faça cara feia. Preciso de um descanso. Sou gente também, sabia?

– Tá bem. Mas a senhora limpa se acontecer de novo... Onde é que eu estava mesmo? Ah sim! As coordenadas vão dar numas três ruas daqui. Você acha que eu devo ir lá agora, Karen?

– Vai Momom! E “tlás” doce pá mim, tá?

– Tá bem. Mas vou precisar da sua ajuda. Eu trago doce, mas você tem que ficar quietinha aqui. Posso botar um joguinho pra você. Quer?

– Êbaaa! Bota!

Jonas terminou de montar seu plano arquitetado de última hora. Ele já tinha o que precisava. Ou pelo menos pensava que tinha. As coordenadas levavam para um lugar perto da sua casa e isso seria coincidência de mais para ele relevar. Precisava conferir prontamente o que lhe esperava. Sua natureza não o deixava esperar ao menos um minuto.

Ele foi sorrateiro até a porta da frente, passou pela varanda esgueirando-se e abriu o portão de casa com muita cautela para que a mãe não o escutasse saindo. Tendo terminado sua missão de “exfiltração” com sucesso, correu como pôde para chegar ao ponto dado a ele. Ele transpirava, mas era um suor de aflição. Não estava calor e ele havia corrido pouco, mas ainda assim sentia escorrer a preocupação e o seu senso de descoberta pelo corpo guiado para o desconhecido.

– Será que é aqui? Com licença moça, esse é o Caminho 27?

– Sim.

– E estamos no ponto de latitude -12.96857 e longitude -39.259956?

– O quê, menino?

– Nada, esquece. Obrigado pela informação.

–Maluco...

– Deveria ser aqui, mas não tem nada!

– Ei, ei, senhor!

– Oi meu filho?

– Essa rua é muito grande? No caso, ainda tem muito a andar daqui pra frente?

– Não, não. Deve ter mais umas 10 casas e termina.

– Tá bem, obrigado.

– Nada.

Jonas estava perdido. Não no espaço físico, mas em sua cabeça. Ela agora fervilhava mais que nunca e seus sentidos apontavam para tudo e para lugar nenhum. Sua única pista não havia dado em nada e isso o incomodava intimamente. Não entender o que acontece poderia ser normal, mas procurar, encontrar pistas e não chegar a lugar nenhum o fazia querer desistir de tudo e voltar para a vida onde ele não precisava se importar.

Geralmente suas intuições e deduções chegam a algum lugar e isso quando não são exatas, só que dessa vez havia levado ele para um beco sem saída, um lugar no qual ele não sabia por onde recomeçar. Pelo menos enquanto ele não se lembrava dos quatro últimos números da combinação.

– “Trôxe” meu doce? – Perguntou Karen virando sua cabecinha para trás ao escutar o irmão chegando ao quarto. –

– Aqui menininha, toma. – Entregou Jonas, esgotado. – Eu não consegui nada, Karen.

– Liga pra Caíque. Ele sabe “ploculá”, né?

– Não posso contar nada disso pra Caíque ainda, ele ia surtar. Não ia nem querer pensar em nada, ia dizer que são... Digimons. – Disse Jonas quase debochando na última palavra. – Não que seja mesmo impossível, mas eu não encontrei nenhuma prova que me dê certeza nem nada que me ajudasse afirmar a ideia, entende?

– Na “védade” eu não entendi nada... – Respondeu com a voz mais fofa do mundo. –

Aquela cena havia arrancado um pequeno sorriso de Jonas, mesmo que à força. A tarde passou se arrastando, como se estivesse carregando o peso de cada dúvida que se passava na cabeça de Jonas. Estava inquieto e pensativo na mesma situação onde eu me via histérico e afoito.

As coordenadas eram os protagonistas de seus pensamentos e o clímax havia se perdido naquela rua sem saída. Já havia tentando recombinar os números ou imaginar outros usos para tal, mesmo depois de ter batido tão perto de sua casa tendo dado a eles a qualidade de localizadores. O esclarecimento surgiu após ler a mensagem novamente.

– “-12.96857 -39.259956 0001”... Eu simplesmente coloquei como coordenadas e deram certo. Foi fácil até ai. Excluí os números sobressalentes e usei o que import... Mas é claro!

– Onde tá “clálo”? – Perguntou Karen, que ainda estava no computador. –

– Não, Karen. Não é esse tipo de claro. É que os números que eu tirei na verdade servem!

– Pá quê?

– Vou descobrir agora! Você vai ter que sair um pouquinho do pc agora. Vai assistir tevê com mamãe, vai.

– Não, “quélo” ficar aqui com você.

– Vai, Karen. Depois te dou mais doce.

– Êbaaa!! Aí eu vô.

Karen saiu do quarto de Jonas e foi para perto da mãe assistir televisão enquanto ele procurava cegamente na internet sobre combinações de quatro números, quebra-cabeças com números, numerologia, códigos e afins.

Já era noite. Jonas já estava exausto da pesquisa que só havia encucado ele sobre contas que nunca foram resolvidas. Mesmo cansado ainda persistia no computador, mas sua concentração foi quebrada pelo grito da mãe.

– Ô Jonas!!

– Oi, o que é mãe? Eu tô ocupado aqui.

– Venha cá ver isso, ó. Pra você entender por que eu não quero que você saia tarde de casa.

– Tá! Já vou.

Ele passou pela sala e pela antessala para chegar ao quarto da mãe, onde fica a tevê. A irmã estava deitada no colo dela, suando e dormindo.

– Espia aí ó. A mãe desesperada por que o filho não voltou pra casa.

– Sério isso, mãe? A senhora me chamou aqui pra isso?

– É, preste atenção.

Na tevê, o jornalista começava sua matéria.

– Boa noite. Uma mãe de uma pequena cidade do interior da Bahia chamou a atenção de todos durante a semana. Ela perdeu seu filho e procurou o máximo de ajuda que pôde. Até então não parece uma história de repercussão nacional, mas os detalhes veremos com o nosso repórter, Cláudio Rodrigues.

– Boa noite, Sérgio. Estou aqui para falar com dona Jaciara, que diz ter perdido o seu filho de uma maneira... Peculiar. Dona Jaciara, poderia contar melhor sobre os detalhes da situação?

A mulher no noticiário parecia cansada e impaciente, fora o fato de estar nitidamente preocupada e abismada. Aparentava ser uma mulher de meia idade e com muitas responsabilidades a cuidar.

– Boa noite senhor Cláudio. É como eu disse já pra os policias que vieram me ajudar no lugar. Eu tava andando com o meu filho na rua, pra resolver uns problemas, sabe? Aí do nada ele começou a se tremer todo, tadinho. Ele nunca teve nada disso, mas começou assim no meio da rua do nada. Ele caiu no chão e começou a tremer...

A mulher começou a chorar, mas se recompôs após alguns segundos.

– Desculpe... Então, eu já estava preocupada a partir daí, mas ele parou de tremer depois de um tempo e alguns rapazes que estavam por perto ajudaram ele a levantar. Eu agradeci e eles foram embora. Num minuto ele tava do meu lado e do nada ele desapareceu. Eu acho que ele foi abduzido!

– Esse foi o depoimento da Senhora Jaciara, Sérgio. Deixo os comentários com você.

Jonas ia saindo do quarto no momento que ouviu falar sobre aliens. Já estava saturado disso. Pouco antes de ele sair, Karen esbarra o braço sonâmbulo no controle que muda para um canal de vendas.

– Agora são 23 e 15 pessoal, é hora de comprar na Polish...

– Isso!

Jonas gritou um “eureca” mascarado acordando a irmã e chateando a mãe como um efeito dominó. Não era para menos, tivera algum tipo de epifania e entendido o “tão misterioso significado” dos números que faltavam.

– É o horário. Eu tenho que voltar lá às 00:01. Que preciso... Mas não importa. A prioridade agora é conseguir chegar lá no horário.

– Mãe!

– Que foi, Jonas?

– Já vai dormir?

– Já. Vou só acalmar sua irmã que você fez o favor de acordar e vou pra cama. Boa noite.

– Boa noite mãe.

Era tudo o que ele precisava. Sua mãe estava indo dormir numa hora muito propícia. Bastava ele esperar alguns minutos e sair de casa, sorrateiro novamente.

Suas esperanças haviam se reacendido e agora ele tinha a certeza de que iria chegar ao fim daquilo cravada em seu peito. Esperou o tempo de ouvir o ronco da mãe e saiu de casa bem devagar. O portão enferrujado não o ajudava muito com o plano, mas ele não deixaria aquilo ser um obstáculo. Abriu e fechou o portão com cuidado e correu como nunca para o local marcado pelas coordenadas.

Sua bermuda folgada o impedia de usar toda sua velocidade e o clima de tensão o fazia suar muito. O boné em sua cabeça ajudava a abafar a tensão e seus nervos estavam agora à flor da pele.

Chegando à rua, tirou o D-VICE do bolso e olhou o horário. Eram 23:57.

– Cara, o que eu faço agora?

– Ponto de encontro localizado. Espera solicitada.

– O quê? O que foi isso?

– Trata-se do sistema inteligente de voz do seu dispositivo.

– Voz do meu dispositivo... Essa me surpreendeu. O que mais você tem aí? Nem tinha mexido em você pra falar a verdade. Você me entende, né?

– Conversão de picos completa. Voz confirmada. Jonas Costa Moura, 17 anos, residente do Brasil. Insira cartão SIM no dispositivo.

– Cartão? Ah sim. Chip do celular, né? Ei, vai ficar muda agora?

– O sistema de interatividade do seu D-VICE é limitado a responder às perguntas certas. Por favor, faça as perguntas certas.

– O q... Cê tá brincando com minha cara, né?

– O sistema de interatividade do seu D-VICE é limitado a resp...

Antes que o D-VICE terminasse sua frase que parecia vir de um disco arranhado, um som muito mais alto do que aquela voz começou a tomar conta do espaço. Jonas olhava ao redor para tentar encontrar a fonte de tal som, então começou a sentir uma enorme ventania ao seu redor. Ele olhou para cima, perdido, e se perdeu mais ainda. No céu, um buraco se formava dentro de possibilidade nenhuma e começava a existir quebrando toda e qualquer lei ou cálculo que estivesse na cabeça de Jonas.

Ele queria ver mais. Queria ver tudo. Ele sentiu que aquilo seria importante para o desfecho do que estava para acontecer. Ele apagou.

Ele apagou e não viu mais nada. Quando acordou, estava deitado na calçada de casa, atordoado e abraçando alguma coisa. Estava começando a recobrar os sentidos e a primeira coisa que viu foi uma pessoa virando a esquina de saída da sua rua. Ainda não tinha entendido que estava abraçado a algo, mas assim que se segurou com a mão esquerda na barra do portão, teve que dispor mais força no braço direito para segurar com firmeza o ovo.

– O-o-o-ovo? Ai... Caramba, minha cabeça tá doendo. O que foi que aconteceu afinal?

Jonas estava confuso e sentia uma dor forte na cabeça. Conseguiu com algum esforço lembrar-se das últimas coisas que havia feito antes de apagar. De toda a tensão, toda a adrenalina e de toda a vontade de entender o que acontecia. Até que tudo se borrava em sua mente e ele se via levantando em frente de casa.

Ele não tinha lembrança alguma do que aconteceu depois do buraco estranho tomar um pedaço do céu à sua cabeça e isso o deixava meio frustrado e perdido. Sua consolação era o ovo enorme que segurava pelo que parecia, por instinto.

– Um buraco no céu, um apagão geral, uma dor de cabeça e um ovo gigante. Fora o fato de estar sentindo como se uma corrente elétrica tivesse passado por mim. Ai!

– Espécime convertido. Transferência terminada com sucesso. Compatibilidade inicial testada e aprovada.

– Ah, é. E tem o celular falante. Espécime? Você quer dizer esse ovão aqui?

– O sistema de interatividade do seu D-VICE é limitado a responder às perguntas certas. Por favor, faça as perguntas certas.

– Peraí! Da última vez que você falou isso eu apaguei. Esse ovo é meu?

– O espécime é destinado para um parceiro selecionado e testado. A compatibilidade é verdadeira.

– Que “sim” mais complicado. Caramba, minha cabeça tá doendo muito. E o que eu faço com isso?

– O sistema de interatividade do seu D-VICE é limitado a responder às perguntas certas. Por favor, faça as perguntas certas.

– Não tô com paciência pra isso. Não agora. Não sei nem dizer se essa noite foi boa ou não. Procurei respostas e consegui um ovo.

Nesse momento Jonas realizou-se para o que acontecia ao seu redor. Em sua cabeça as coisas se juntavam como ímãs de polaridades opostas.

– O buraco era uma fenda espacial, provavelmente. Eu posso ter apagado por não aguentar a pressão ou a gravidade que se intensificaram no momento da quebra de realidade. Esse ovo saiu de lá. Você é um celular que fala. CLARO! Isso é um Digimon. Agora eu não tenho dúvidas. Só uma coisa que Caíque gosta tanto pra ser tão maluca e no final das contas, real. Ainda vou demorar pra absorver isso direito.

Jonas terminou de levantar-se e quase derrubou o ovo que era pesado e difícil de segurar. O ovo era grande. Maior que uma bola de boliche, era pesado e sua casca era porosa. Ele tinha manchas de formatos e tamanhos aleatórios e de cor roxa, fora alguns traços espalhados que poderiam ser símbolos.

Jonas virou o outro lado do ovo para entendê-lo por completo e na face que estava virada para o outro lado, estava escrito com um vermelho bem forte em letras tortas que deixavam seu excesso escorrer: “SEJA CUIDADOSO”.

– Isso é sangue?
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Mensagem por Mickey Seg 05 Ago 2013, 3:18 pm

Hmm OVO?

Não espera... que raios de pessoa pensaria que aquele acontecimento é uma "Fenda espacial"?!
E aproposito... Júnior... você faz seu personagem subornar a irmã com doces com tanta facilidade...

Na boa! É muita viagem a ler sua história. O Jonas tem cada reflexão que eu fico rindo dele o tempo todo.

Fiquei curioso... para ele estar em casa com o ovo e ter algo escrito... alguém estava lá.
Esse alguém não só o levou para casa como também escreveu no ovo...
O curioso é que escreveu com sangue...?!

AH! Aproposito... acho que já comentei isso anteriormente... mas as frases do D-vice é uma bem famosa do filme "Eu, Robo" com Will Smith. Rsrsrs e isso já seria engraçado sozinho... mas as reações do Jonas com seus pensamentos tornam as cenas mais engraçadas.

Enfim, desculpa aew a demora na leitura! Até o próximo companheiro!
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Mensagem por Júnior Brito Ter 27 Ago 2013, 9:28 pm

@Mickey: Cara, eu agradeço muito a você por ter a paciência de ler a minha história e agradeço muito por estar gostando! Não fosse você, estaria escrevendo somente para mim! haha
Bom, espero que continue gostando do andar da carruagem e aqui vem mais um!




CAPÍTULO VIII

PARTICULARIDADES, DESCOBERTAS E O PRIMEIRO CONTATO

Minha mãe e Lucas estavam no supermercado, Ivan estava em casa terminando de conversar com Lara, minha avó havia capotado no quarto da minha mãe e Jonas estaria estudando ou assistindo TV. Se fosse um dia antes diria que estava dormindo, no supermercado com os dois, na casa de Jonas ou deixando mensagem na caixa postal de Ivan. Mas não. Estava de cara com meu sonho. Sentindo à flor da pele a melhor sensação de desejo realizado.

Estava agora de frente para o ovo chocado que misteriosamente chorava para mim.

– Se você está aqui, como tem som saindo aí de dentro? – Perguntei confuso. –

– GUH! – Foi a resposta que recebi, acompanhada de uma feição muito excitada. –

– Porque você não fala? Deixa pra lá, essa não é a prioridade.

Cheguei mais perto do ovo e escutei um som muito desconfortante como se algo se mexesse no meio de toda aquela geleca. Ainda estava surpreso e assustado com toda a cena do nascimento daquela bolinha que já estava em minhas mãos, fora toda a noite anterior que eu ainda tinha pra absorver. Então imaginei que a minha cota de surpresa estivesse esgotada. Estava errado.

Aproximei-me do ovo com cautela e quase enfiei a cabeça nele de tão perto que estava. O barulho gosmento havia cessado, dando espaço para escutar outro som não menos curioso. Parecia o som de alguém pegando fôlego, como se para espirrar. Pouco antes de me afastar, recebo um jato de gosma no rosto acompanhado de um barulhinho engraçado.

– KISHIM! – Foi o que identifiquei do som enquanto limpava aquela sujeira do rosto e escutava a risada gostosa do chifrudinho. –

– Mas que nojo! De onde veio esse esgui..

Minha voz travara graças ao que vi descoberto após a sujeira. Era outra bolinha. Não conseguia entender a lógica daquilo, mas de um único ovo haviam nascido duas bolinhas praticamente idênticas. Tirei a outra lá de dentro sem saber se sentia nojo ou ficava confuso.

Terminei de tirá-lo lá de dentro com muito cuidado e percebi a euforia daquele que já estava do lado de fora.

– Gente... O que é isso? Você conhece ele? – Perguntei ainda abobado. –

– GYAH! – Respondeu com uma felicidade além da compreensão. –

Era um bichinho exatamente do tamanho do outro e com as características físicas similares. As diferenças estavam em sua cor e quantidade de chifres. Aquele segundo ser que havia tirado do mesmo ovo tinha uma tonalidade amarronzada, caramelo. A pele se assemelhava muito mais a de um humano graças à sua cor. Do topo da bolinha brotavam não um, mas três chifres que se comportavam de uma forma bem equilibrada. Eram um pouco menores que o chifre único do ser verde que agora estava em meu ombro direito, já que usava as duas mãos para segurar o marronzinho e tirar os pedaços de casca de ovo que havia nele.

****

Enquanto eu estava maravilhado com tudo o que estava bem à minha frente, Jonas estava no meio de um sonho que seria ao menos incomum para ele. Jonas se via num local amplo e mal iluminado. Parecia uma arena de batalha. Circular, arquibancadas ao redor e uma área vasta no meio. Tudo completamente vazio, inclusive a área. Um único feche de luz, apontado diretamente para ele, que dava a visibilidade falha do local.

O chão liso e espelhado refletia seu olhar de angústia e preocupação. Ele sentia que corria algum tipo de risco ali e que precisava correr. Ele corria. Ele escorregava no chão liso e era perseguido por sua sombra, causada pelo efeito da luz que o acompanhava onde quer que fosse.

Jonas não via saídas e a área parecia infinita, já que ele não chegava a lugar algum. Em certo ponto ele parou de correr e apoiou-se sobre seus joelhos, ainda de pé. Assim que a primeira gota de suor caiu de sua teste, um pequeno buraco se abriu no chão e algo surgiu de lá numa velocidade incrível.

– O que... é isso? – Foram suas primeiras palavras desde então.

O objeto até então identificável parou no ar bem à sua frente e ele pôde entendê-lo com maior clareza.

– É um cilindro? – Perguntava Jonas esperando que a resposta seguisse a luz até ele. –

– PRA QUE SERVE ISSO? – Gritou olhando para os lados, confuso. –

O objeto parecia simples dando uma olhada rápida, mas quando não houve respostas, Jonas ateve sua atenção ao objeto estranho. Era um cilindro transparente em sua totalidade. Tinha tampas prateadas nas extremidades e algo como símbolos cravados em um verde muito brilhante nelas. O seu conteúdo era estranho para Jonas. Parecia ser algo etéreo. Era azul e disforme, passavam correntes de energia à todo o tempo que faziam acender números que pairavam ao redor da nuvem azul sem a menor explicação lógica.

– QUE PORCARIA É ESSA E ONDE É QUE EU TÔ? ISSO É ALGUMA BRINCADEIRA DE MAU GOSTO? OLHA, EU VO...

Antes de finalizar sua frase o cilindro passa velozmente por Jonas, chamando sua atenção. Ele começa a se mover sozinho ao redor dele até que cai no chão, os símbolos verdes brilham numa intensidade mais forte do que já estava e o vidro racha.

– O que tá acontecendo?? ONDE EU TÔ?

Jonas só queria sair dali. Ele escuta o som do vidro terminando de quebrar e sente um movimento estranho em volta do recipiente. Assustado, corre para longe do cilindro e quando olha para trás, uma massa densa da cor do fluido que estava dentro do cilindro e com uma forma aterrorizante de uma boca aberta com presas afiadíssimas parte para cima dele. Ele acorda.

Ofegante, desnorteado, suado e aliviado Jonas percebe que está no seu quarto e seu primeiro movimento é olhar embaixo da cama.

– Tá aqui. – Pensou alto, arvorando a voz. – Nessa loucura de pesadelo eu só podia pensa que tinha a ver com você.

Falou para o ovo que se encontrava debaixo de sua cama. Jonas levantou da cama e assim que pisou no chão, escorregou e caiu de cabeça. O chão estava melado com algum tipo de gosma transparente, meio esverdeada. Havia acabado de acordar, estava abalado com o pesadelo e ainda tomou uma queda daquelas.

– Mas que droga é essa? Será que... Mãe!! Acho que Karen tá gripada, ein? Tem meleca dela no chão do quarto todo!

Quase saindo do quarto, Jonas nota um bilhete preso em seu espelho escrito pela sua mãe.

“Filho, fui à rua comprar

o remédio da sua irmã.

Cuide dela enquanto isso.”

– Hm, imaginei que ela estivesse precisando mesmo. Karen! Cadê você menininha? Ai! O que é isso?

Jonas desgruda do pé um pedaço do que parecia ser uma casca de ovo.

– Casca de ovo? AI MEU DEUS!

Desesperado, ele puxa o ovo de baixo da cama e constata que ele havia visto a parte inteira já que sua ponta estava aberta e não havia nada além de um poço de gosma dentro dele. Jonas não sabia o que fazer nem o que pensar. Tinha que cuidar da irmã, entender seu pesadelo e descobrir o porquê de não se lembrar da noite anterior.

– UÊEEEEEEEEN!!!

– Karen? Ai gente, que rolo! Karen, tá chorando menininha? Cadê você, em?

– Tô aqui, momon!

– UÊEEEEEEEEEEEEEEN!!!!

– Aqui onde? – Perguntou desnorteado, ainda no quarto. –

– UÊEEEEEEEEEEEEEN!!! UÊEEEEEEEEEEEN!!!

– No quarto de mamãe!

– Tá bem, tô chegando! Pode parar de chorar.

– Mas eu não tô chorando momon, quem tá chorando é ele...

– Ele quem, menina? Tem algum primo nosso aqui tamb...

Jonas chega ao quarto e dá de cara com Karen sentada no chão, alguns brinquedos ao seu redor e um bicho no colo. Seus olhos se arregalam e seu coração palpita muito forte. Ele sabia que aquele pequeno ser era quem tinha saído do ovo. Não sabia como nem porque estava no colo de sua irmã mais nova, mas tentou controlar a situação com a calma que ainda lhe restava.

– UÊEEEEEEEEEEEEN!!!!

– Porque o peludinho tá chorando, momon?

– Não sei, Karen. Você da ele pra mim pra eu poder acalmar ele?

– Não! É meu! Eu vi ele pulando na sala e peguei!

– UÊEEEEEEEEEEEEEEN! UÊEEEN!!!

– Eu vou te devolver, só vou fazer ele parar de chorar, tá bem?

– “Pomete” que devolve?

– Prometo. Agora me dá ele aqui, ta?

– Tá bom. Toma.

Assim que o ser foi para o colo de Jonas, pareceu melhorar seu humor. Jonas o levou para o quarto e foi analisa-lo com cuidado. Era um ser pequeno, cabia em suas duas mãos abertas. Era basicamente uma bola muito peluda e branca. Os pelos começavam no topo da cabeça e se alongavam até caírem ao final de seu corpinho arredondado que sendo apalpado, parecia ter só cabeça. Eram pelos longos e lisos. Um pouco acima do par de olhos grandes e pretos que tomavam boa parte do que poderia ser classificado como o seu rosto, havia duas orelhas em pé e que dividiam a cor entre o branco do resto de seu corpo e um tom amarronzado. Essa mudança de cor acontecia de forma espontânea, como em cachorros de raças misturadas. Abaixo dos olhos e praticamente coberta de pelos, estava a sua boca sem lábios. Apenas um corte horizontal de um lado a outro de sua cabeça /corpo.

Jonas sentou na cama e parecia exausto mesmo tendo acabado de acordar. O ser que estava em suas mãos o surpreendia e o assustava. A criatura parecia feliz em seu colo e havia parado de chorar. Ele pôs a mão na cabeça e lançou ao ar a dúvida que o corroía:

– Você é um Digimon? É isso?

****

A minha palavra de ordem era excitação. Qualquer preocupação e todo problema que eu pudesse passar estava guardado e lacrado na minha mente. Não é todo dia que algo tão surreal passa a fazer parte da sua vida de forma comprovada.

Assim que terminei de limpar o bichinho marrom, ele esticou a sua cauda em direção ao ombro que o verdinho estava. Percebi que queria ficar junto do outro que parecia ser seu irmão ou ao menos um primo distante. Coloquei os dois juntos em cima da mesa da cozinha e fiquei admirando seus sorrisos e brincadeiras. Lá no fundo, esperava que o celular tocasse e me acordasse de um sonho. Estava bom de mais pra ser verdade.

Escutei o celular tocando, mas não me importei com o que poderia ser. Nada seria mais impressionante do que ver aquelas criaturinhas em minha frente, existindo, respirando, brincando. Foi aí que pensei: “ Duas criaturinhas, parecidas. Uma verde e outra marrom. Chifres...”

– Claro! Óbvio! Como não tinha percebido isso antes?

Eles pararam de brincar e olharam pra mim atentamente. Com olhar de criança curiosa. Parecia que havia conseguido a atenção deles. O verdinho ainda tinha a cauda do irmão na boca quando soltou e também olhou para mim.

– Vocês são os gêmeos! Os irmãos que evoluem pra Terriermon e Lopmon! Gente...isso é tão... incrível! – Falei muito animado. –

A resposta foi uma grande brisa. Eles me olharam como se não entendessem o que eu dizia e eu abstraí porque notei que seu comportamento era tal qual o de um recém nascido e não entender as coisas que acontecem ao seu redor é uma dessas características.

Eu não tinha o mínimo de controle da situação e nem fazia ideia de como resolvê-la. E isso não me afligia. Cada movimento deles, cada sorriso, cada gritinho que um dava ao ser mordido pelo único dentinho que ficava fora da boca do outro me causava uma sensação mais extasiante que a anterior. Era tudo lindo, tudo perfeito. Escutei novamente um som vindo do D-VICE, mas não me importava o mínimo com aquilo, no momento.

– Vocês estão aqui... Estão aqui mesmo! Como isso é possível? Vocês são tão lindos e... Macios e... Reais! É A REALIZAÇÃO DO MEU MUNDO DOS SONHOS!!!

Escutei um barulho vindo do quarto da minha mãe. Foi o momento que lembrei que minha avó estava em casa, dormindo.

– Putz! Que vacilo! A culpa é de vocês... Me deslumbrando desse jeito. Minha vó vai acordar! Venham aqui, vocês dois.

Peguei um em cada mão. Eram tão pequenos assim. Eles pareciam muito frágeis também. Uma pele macia e fina e que por mais que fosse de cores tão exóticas, tinha aparência real. Era real.

Corri para dentro do banheiro e me tranquei lá com os gêmeos. Minha avó levantou da cama e pelo som de seus passos se esvaindo, deduzi que estava indo na direção da cozinha. Ou o fundo.

– O FUNDO! Ela não pode ir pra o fundo se não vai encontrar o ovo quebrado! Vou deixar vocês aqui... É... Dentro da pia! Pra não ficarem andando por aí longe da minha supervisão. Fiquem quietinhos, tá?

– GYAAAH! – Responderam em coro como se tivessem entendido. –

– Preciso ir lá agora, então sem barulho!

Corri com muita pressa para a cozinha e para não perder tempo, cheguei gritando:

– NÃO, VÓ! NÃO FAÇA ISSO!

– O quê, menino?

Congelei de vergonha ao perceber que ela estava apenas fritando um ovo. A cena foi meio irônica do meu ponto de vista e me tirou um sorriso breve que ficou no ar. Minha avó ainda estava confusa, mas virou para o fogão e continuou preparando seu lanche inconveniente. Não posso negar que aquela cena me causava certa aflição. Ver um ovo, no fogo, borbulhando.

– AAAAA! PARA COM ISSO! – Fiquei inerte. –

Quando percebi, o grito já havia escapado e deixado seu eco de desconforto no ar. Do jeito que parei, estava. E meus olhos ficavam de um lado pro outro, tentando desviar a atenção dela enquanto me aparecia um sorriso sem graça.

– Você tá ficando doido, menino? Tá usando drogas, é? É isso? Sua mãe sabe disso? A gente te criou tão bem... Não me decepcione!

– Calma, vó. Não é nada disso.

– Então é o que?

– É só que... Er... Eu virei... um... VEGETARIANO! Isso!

– Mas ovo não é carne!

– É porque é uma nova classe. Se chama OVEGETARIANO!

Aquela frase veio acompanhada de um único pensamento: “Mas que merda eu acabei de falar?”

– Vocês jovens e suas modas. Tudo bem... Não frito um pra você, mas vou comer o meu ovo!

– Certo... Tá bem. É. OVO! AAAAAAAAAAAAA!

Corri para o fundo e deixei a minha avó mais confusa do que já estava. Chegando lá, não havia mais o mínimo de indício da existência de um ovo. Simplesmente havia sumido. Sem pedaços de casca, sem gosma nojenta, nada. Eu não me importei. Achei melhor porque não teria que procurar uma forma de esconder o ovo ou inventar alguma teoria absurda sobre galinhas gigantes alienígenas.

Voltei para o banheiro e ignorei mais uma vez aquele som chato e repetitivo. Minha felicidade estava me cegando e eu não notei isso por um bom tempo.

****

Jonas analisava a situação de forma minuciosa e calculada. Poderia sair fumaça da sua cabeça a qualquer momento de tantos neurônios que ele queimava para conseguir encontrar uma explicação lógica pra essa...

– Distorção da realidade. Só pode ser. Algum tipo de choque de realidades ou eu estou ficando doido... Não dá porque Karen também te viu.

Olhou para o pequeno ser com ternura nos olhos. Por mais que estivesse mal e sem perspectivas da situação, Jonas não conseguiria culpa-lo por nada. Era sensato de mais para isso. O ser correspondia a Jonas com seus imensos olhos pretos e reluzentes. A pequena bola peluda fechou os olhos e se aconchegou no colo de Jonas, o que lhe tirou um pequeno sorriso.

– Você é um mistério. Essa teoria de Digimon é só um palpite. Não tenho como dizer o que você é... Não conheço muito Digimon. Pelas características gerais, diria que você é a cabeça viva de um cachorro muito peludo com orelhas de coelho! Pensando assim, você é muito estranho...

Seus olhos se cruzaram de novo e o ser produziu um som que poderia dizer: “No fim dá tudo certo e se ainda não deu certo, é porque ainda não é o fim.” Pode ter sido o primeiro traço de visão de futuro vindo de Jonas depois de muito tempo. Jonas sempre andou passo por passo. O futuro pouco importava para ele, mas sua feição era de preocupação com o que aconteceria depois.

– Vou começar tentando entender sua fisionomia. Pronto, fica aqui na cama. Hm, olhando de longe você parece um bichinho comum todo encolhido e com as orelhas baixas. Essa orelha é tão contrastante... Se a ciência não dissecasse tudo o que não conhece, te levaria pra algum lugar onde te descobrissem.

O pequeno olhava para Jonas curioso. Talvez estivesse tentando entende-lo bem como o contrário. Cada piscada de seus olhos e cada movimento de sua respiração era contemplado por Jonas que tentava dar uma classificação a ele.

– Só olhando não da pra ter uma perspectiva muito precisa. Deixa eu sentir você direito.

Jonas tocou na ponta da orelha do peludo que teve uma reação involuntária de mexê-la, como os cães e gatos fazem. Ele continuava tocando e a orelha mexendo, provocando uma cena engraçada. Os dois riram um pouco juntos, o que ajudou a dar um toque mais leve à situação.

– Seus reflexos são normais.

– Gyuh! – Disse o ser esboçando um sorriso. –

– Ei, você fala!

Ele piscou os olhos duas vezes seguidas e virou o corpo um pouco para a esquerda. Jonas se aproximou e acariciou o bichinho, como se estivesse sentindo seu pelo. Alisou-o por um tempo e logo em seguida, apalpou-o para sentir o seu corpo. A reação da criatura foi instantânea. Ele começou a rir. Era uma risada meio esganiçada, mas com um tom fino. Como se fosse um bebê rouco.

– HAHAHA! Você ri engraçado! – Falou Jonas intensificando aquilo que já estava se tornando uma brincadeira.

– HIHIHIHIHIHIHIHIHI!

O momento de descontração foi interrompido no momento em que Jonas escutou o som de mensagem proveniente do seu D-VICE, o fazendo lembrar de sua prioridade: Descobrir o que estava acontecendo. Instantaneamente tomou uma feição séria e preocupada. Parou de brincar e o bichinho pulou em seu colo. Pegou o D-VICE em cima do hack do computador e constatou que havia uma mensagem.

– Por favor, alguma pista. Isso tem que me ajudar em alguma coisa... O QUÊ?

Os olhos de Jonas saltaram para fora de tão abismado que ele ficou. Seus batimentos cardíacos poderiam causar ondas ao seu redor de tão fortes. Começava a tremer e causou uma sensação de desconforto no ser que estava em seu colo.

– N-n-não tem como ser co-coincidência. É impossível! Como?

Não era uma mensagem comum. Sequer era uma mensagem. Um desenho era formado por traços que formavam na caixa de texto uma forma cilíndrica.

– Isso não é brincadeira.

****

O D-VICE insistia por atenção, mas eu tinha minha prioridade precisamente classificada no momento. Não estava me importando nem um pouco com a próxima promoção do “Blablablametro” da Tim ou para ganhar pontos num quiz que me perguntaria se o nome do novo papa argentino era Maradona, Buenos Ayres ou Lamayonése. E também não pensei que aquela mensagem poderia ter um cunho importante. Poderia me guiar pelo caminho que tinha a frente e que eu tapava com euforia e excitação temporária.

Voltei para o banheiro e tranquei a porta enquanto minha avó ainda estava na cozinha. Quando olhei para a pia, os dois pequeninos estavam bem encolhidos, um ao lado do outro e pareciam dormir. Olhei para eles com uma cara boba, como de um pai que vê seu bebê dormindo. Posso dizer isso com propriedade, já que vi minha feição no espelho que fica bem acima da pia.

Encarei-me por alguns instantes. Meu olhar parecia vago. Como se estivesse hipnotizado, funcionando no automático. Tinha olheiras imensas abaixo dos olhos, resultado de uma noite conturbada e de pouco descanso. Penetrei na minha própria íris perdida e percebi que estava fora de mim.

Naquele exato momento meu inconsciente estava tentando me avisar que nada do que estava me acontecendo era bonitinho, nem um lindo sonho se realizando. Estava sendo puxado de volta de um mundo confortável e ideal para a realidade duvidosa e imprevisível que havia pela frente. Minhas perguntas voltaram à tona como um turbilhão: “São Digimons?”, “o que estão fazendo aqui?”, “como vieram parar aqui?”, “como isso tudo pode ser real?”, “eu estou enlouquecendo?”.

Meu corpo começou a tremer involuntariamente e intensificar esse tremor de forma contínua. Não queria me mexer. Estava ali, me encarando, e jogando sob mim mesmo o fardo da realidade e o peso que estava para carregar a partir dali.

– N-n-não da-dava pra s-s-somente realizar um s-sonho? Porque tem que ter tantas dúvidas por trás disso? – Indaguei baixo, choramingando. –

– Porque uma vontade tão ingênua tem que vir carregada de reflexões? Se vocês estão aqui, alguma coisa muito ruim está para acontecer. ACORDA CAÍQUE!

Gritei. Gritei do fundo da minha garganta, arranhando-me de dentro para fora com a rispidez da verdade. As lágrimas corriam pelo meu rosto que agora tinha um semblante incoerente de alívio e desespero. Caí no chão e lá fiquei. Precisava chorar, precisava sentir a dor da incerteza.

– Obrigado... Obrigado seja lá quem for por ter me feito entender que não podia ficar assim por muito tempo. Obrigado por ter me feito ver isso antes que fosse tarde.

Agradeci aos céus, talvez a mim, talvez a Deus. Em meio aos meus soluços, indagações e agradecimentos eu pensava no que estaria reservado para meu futuro. Estaria fadado a morrer? O que viria após esse contato direto? Porque eu me tornei um escolhido? O que seria um escolhido?

Levantei-me e recompus. Limpei as lágrimas do rosto e sentindo ainda um leve formigamento no corpo, acordei os pequeninos que pareciam muito cansados. “Teria deixado dormirem se não estivessem tão sujos...”, pensei.

– Guuh?

– Gyah... – Foi o que disseram acordando e abrindo seus olhinhos pretos e vivos bem devagar.

– Vocês precisam de um banho. – Falei com um sorriso satisfeito e complacente no rosto. –

– Huh? – Perguntaram em coro.

– Vou tirar essa gosma que ainda tá presa em vocês. É o tempo que preciso pra me recompor. Por mais que vocês façam parte de um sonho, estão aqui de verdade e por esse motivo virão com muita bagagem a se carregar. E se vieram para mim, significa que tenho que carregar esse peso com vocês. Não vou dar as costas pra nada que apareça e vou tentar me focar nos fatos o máximo que eu puder. Vai ser difícil controlar toda essa euforia, mas é necessário.

Nesse momento já havia colocado os gêmeos numa bacia que enchi com água morna. Ainda não havia me realizado para o quão real eles eram, mas suas sensações me ajudavam a absorver isso. Ao entrarem na água, a pele deles se arrepiou um pouco e para quem via, era como um bebê humano comum se arrepiando. Tirando os detalhes, obviamente.

Jogava água neles e sentia o alívio que vinha de seus corpinhos frágeis. Ensaboei a cauda daquele que agora nomeava de Zerimon. Havia lembrado seu nome em algum momento enquanto os via brincar na cozinha. A textura era macia, como um lóbulo da orelha e se apalpasse um pouco, sentia uma estrutura de suporte no centro, meio cartilaginosa.

Chocomon, como havia deduzido, me lembrava mais um humano se por assim dizer. Sua pele amarronzada era mais semelhante ao de uma pessoa e escondia mais as finas veias que se mostravam com maior intensidade pela pele verde-clara de Zerimon. Ele parecia não gostar muito de água. Tentou pular da bacia umas duas vezes e deixou escapar umas duas bolhas da boca.

Eles eram biológica e psicologicamente crianças. Brincavam e se esbaldavam na água, ela espirrava em mim e eles riam. Uma risada gostosa e confortante. Deixei-me levar pelo momento de felicidade, mas achei que estava tudo bem curtir um pouquinho mais aqueles dois antes de encarar meus pensamentos novamente.

– GYAAAAAH!!!

– GUUUUUYAAAH!!! – É o que eles mais falavam, com sorrisos no “rosto”. -

– Vocês já estão limpos o suficiente. Se te limpar um pouco mais, você vai ficar da cor do seu irmão, Chocomon. – Brinquei. –

– É melhor eu enxugar vocês logo e

Não houve tempo nem para reticências em minha mente. Desesperei-me ao perceber o problema que eu tinha em mãos e não notava.

– Onde eu vou esconder vocês? – Perguntei aflito. –

Os dois se entreolharam e depois olharam pra mim com uma expressão de pura e inocente dúvida. Não deviam nem fazer ideia do que significavam todas aquelas palavras que saiam da minha boca.

– Caramba, caramba... Caramba, caramba, caramba! Eu não pensei nisso à tempo. Eu tinha um ovo pra esconder até essa manhã e ele seria inofensivo. Agora tenho dois bebês barulhentos e hiperativos! O QUE EU VOU FAZER?

*DING, DONG.*

– O QUEEEEEE? Não acredito! Não acredito! Que hora mais inconveniente! Minha mãe e Lucas devem ter voltado do mercado e agora, o que eu faço?? Vou ficar aqui trancado no banheiro com vocês até pensar em alguma coisa! É o jeito!

Desesperei-me. Andava de um lado para o outro daquele cubículo de banheiro querendo que fosse maior somente para ter mais espaço para andar. Os gêmeos estavam quietos e essa era uma vantagem. Qualquer barulho estranho me denunciaria e seria um grande problema. Estava num beco sem saída quando, num rompante, a ideia apareceu.

Poucos minutos após ouvir a campainha, saí do banheiro de cabelos molhados, toalha presa na cintura e com a minha roupa embrulhada embaixo do braço. Dou de cara com ninguém menos que Ivan.

Minha primeira sensação foi de alívio por não terem sido minha mãe e Lucas, mas ele ainda poderia se tornar um problema caso visse os pequeninos ou desconfiasse de algo. Me dirigi à ele.

– Er... E ai Juninho! Tudo beleza, cara?

Ele estava de cabeça baixa, com fones no ouvido, tirando o celular do bolso e desligando a música que dava pra ouvir de longe como de costume. Ainda de cabeça baixa respondeu à minha saudação.

– E ai! Sua avó tá aqui, cara. Porque você não avisou? – levantando a cabeça- Tudo beleza, EEK! QUE NOJO CARA! VAI SE VESTIR! – Disse ele com a pior cara de nojo que poderia fazer. –

– HAHA! Isso é inveja do meu corpo lindo e maravilhoso!

– ECA! LARGA DE SER NOJENTO, IKE! Vai se vestir que eu te espero aqui na sala.

– Cê que manda!

Entrei no quarto correndo e tranquei a porta o mais rápido que pude. Coloquei com cuidado o monte de roupas em cima da minha cama e os gêmeos se desembolaram lá de dentro.

– Foi por pouco. Sorte que vocês estão me ajudando! Qualquer barulhinho teria sido fatal. Mas o que eu faço com vocês agora?

Os dois pulavam na minha cama enquanto eu pensava no que eu faria. Havia uma casa abandonada na rua, mas eu tinha medo de deixa-los sozinhos. Seria o mesmo que abandona-los e eu não faria isso. Tinha a possibilidade de ficarem na minha cama, mas como não entendiam as coisas direito, eles não ficariam quietos como bonecos nem nada do tipo. Aquilo me afligia mais que qualquer coisa no momento. Ninguém poderia ao menos mensurar a existência daqueles bichinhos e eu tinha que resolver aquilo já.

Depois de me arrumar, subi na minha cama. Fiquei de pé e tive que abaixar a cabeça para não bater no forro. Lembrei-me da época em que eu conseguia pular naquela cama como eles estavam fazendo sem bater a cabeça no forro. O forro.

– O FORRO! Claro, como não? A casa é de telha... Eu subo pelo beco, abro algumas telhas, limpo uma parte lá de cima e arrumo pra vocês! PERFEITO!

Nesse último grito a minha avó bateu na porta do quarto e, no desespero, joguei a toalha que estava no ombro em cima das duas bolinhas saltitantes. Abri a porta.

– Que grito foi esse menino? O que é perfeito?

– Er... Eu vó! EU SOU LINDO E MARAVILHOSO! HAHAHA – Fiz uma pose heroica. –

– Certeza que você não está chapado?

– Q-que chapado o que vó! A senhora precisa parar de assistir BBB. A senhora e todo o mundo, mas isso não vem ao caso. Agora preciso que a senhora dê licença por um momento pra eu terminar de me arrumar, tá bem?

– Certo. E eu tô de olho em você, moleque!

– Certo vó.

Ela saiu e eu soltei uma breve respiração de alívio. Tirei a toalha de cima deles e estavam dormindo de novo. Serenamente. Talvez de cansaço do tanto que brincaram na água e pularam na minha cama. Era melhor assim.

Eu sabia que Ivan estava na sala, mas precisava passar para o fundo ao menos para deixa-los no forro da casa enquanto despistava-o. Enrolei os dois na minha toalha e pulei a janela do quarto. Subi a parede do lado da casa onde tinha o beco. O beco era bem apertado já que a casa era praticamente colada com a vizinha, mas consegui subir ainda assim.

Abri um espaço de três fileiras de telhas, passei a mão no chão para tirar o grosso da poeira e ajeitei os dois em cima da minha toalha até que Ivan saísse. Voltei à sala e fui dar atenção a ele.

– E ai cara! Conte-me as novas.

– Nada de mais. Passei aqui pra gente ficar conversando, jogando. Coisas assim. Mas nem Jonas nem Lucas tão aqui, daí fica chato.

– É mesmo... Lucas tá no mercado com minha mãe comprando toda a sessão de biscoitos e Jonas não da o ar da graça faz um tempo.

– HAHA! Já sei! Tu liga pra Lucas e vê se ele já tá chegando. Enquanto isso eu vou na casa de Jonas e puxo ele pra cá. Beleza?

– Falou então. Chegando lá você me liga avisando se Jonas vem ou não, certo?

– Pronto. A gente se fala daqui a pouco então. Tchau!

– Té mais.

Abri o portão para Ivan e procurei me apressar para resolver as coisas direito antes que qualquer outra pessoa viesse me atrapalhar.

Coletei pela casa os materiais necessários pra um abrigo temporário. Quando terminei de arrumar, eles estavam numa caixa de papelão com as paredes cortadas a metade, para não parecerem presos, na caixa tinham vários panos cortados para deixar confortável. Ao lado da caixa, havia cortado algo como uma abertura, uma rampinha para eles saírem. Do lado de fora uma vasilha com água e outra com uns pedacinhos de pão mergulhados em leite.

– É o melhor que eu posso fazer improvisando desse jeito. Nem sei se vocês comem isso ou bebem água, mas...

Antes de terminar de falar eles já estavam atacando a comida e bebendo a água como se estivessem com fome há eras. Estava para ficar com eles mais um pouco quando para na porta de casa um carro. Minha mãe e Lucas saem de lá e me avistam em cima da escada.

– Tá fazendo o que ai em cima, menino? – Gritou minha mãe olhando pra cima com dificuldade, por causa do sol. –

– Eu tô... Tô vendo se tem rato aqui em cima!

– Rato? Bem que eu escutei uns barulhinhos no teto esses dias.

– Ei, Ike! Trouxe Doritos pra gente!

– Beleza, Lu!

– Desce aqui pra gente comer!

– Calma ai, já tô descendo!

Ajudei com as compras e estava mais aliviado. A distância do forro e a beirada do telhado não dava espaço para os gêmeos pularem. Eles já tinham conforto, água e comida e eu estava longe de problemas por algum tempo.

– Filho, descobriu alguma coisa lá em cima?

– L-lá em cima? Sim! Ratos! Muitos ratos. Parece uma comunidade. Quase uma cidade organizada. Aham. Isso ai.

– Nossa, isso é um problema!

– Pois é! Ah mãe, minha vó tá aqui! Porque você não vai falar com ela?

– Oh, que bom que mãe está em casa. Ela conhece um ótimo dedetizador.

– DEDETIZADOR?

****

– Preciso resolver isso o mais rápido possível. Não posso esperar as coisas desandarem nem ficar adiando essa situação. Se eu puder entender você ou me relacionar com você, vai ter que esperar. Tenho que saber o que significa esse cilindro. Eu sonhei com isso e agora recebo mais uma mensagem sem destinatário e com o desenho de um cilindro? Isso não é brincadeira.

Jonas se sentia pressionado. A situação não era favorável e ele não conseguia ao menos imaginar o que estava por vir. Não ter uma perspectiva seria algo corriqueiro para ele, mas naquele caso o deixava sem chão.

– Poxa, carinha. Não sei nem seu nome! Só acho que você é um Digimon porque aquele humano leão me lembrava o Leomon. Mas podia ser, sei lá! Uma quimera vinda de outra dimensão, uma experiência do governo... Apesar dele ter respondido ao nome. Putz, o que eu faço?

– Gyyh? – Olhava curioso para Jonas que andava para lá e para cá pelo seu quarto. –

– Alguma pista... Preciso de mais uma pista! Qualquer coisa, por favor??? Aquele sangue no ovo... De quem era? Caramba tem tanta coisa passando na minha cabeça!

Como se tivesse atendido ao seu pedido, o D-VICE que Jonas não tirava de perto de si, tocou mais uma vez. Era uma pequena fresta de luz na redoma escura de dúvidas e apreensão onde ele se encontrava. Jonas tirou o aparelho do bolso e checou a caixa de mensagens.

“-13.54221 -37.211156 0107”

– Ah, não! Mais números, cara?
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O Mundo dos Sonhos - Digital World - Página 2 Empty Re: O Mundo dos Sonhos - Digital World

Mensagem por Mickey Ter 08 Out 2013, 10:58 pm

L-lá em cima? Sim! Ratos! Muitos ratos. Parece uma comunidade. Quase uma cidade organizada. Aham. Isso ai.

HHAHAHAHAHAHAHA!

Bela história! E agora?! Aproposito... quando fará os garotos compartilharem a experiência de paternidade de Digimon? Acho que no minimo já deveriam ter feito contato um com o outro! Rsrsrs!

Legal ter as formas em treinamento do Terriermon e do Lopmon na sua história!
São Digimon pouco usados nas fanfics aqui de nosso fórum.

Só não entendi quem é o Digimon do Jonas. Se bem que nem ele! xD~~

Agora... na boa... que ser humano em sua sã consciência iria imaginar que uma poça de meleca verde no quarto espalhada para todo lado é resultado da gripe de uma garotinha?
Eu pensei em vômito... Rsrsrs! Mas bem... ficou muito engraçado essa parte também!
A reação dele foi muito divertida! E ficou bem legal quando leu o recado da mãe falando que foi comprar o remédio... hahaha! Bom jogo de dialogo!

Enfim! Até o próximo!
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Mensagem por Júnior Brito Seg 02 Dez 2013, 8:26 pm

@Mickey: Então, cara. Você meio que previu meus movimentos. Esse próximo capítulo é crucial pra o andamento da história e tem como ponto chave esse encontro entre Caíque e Jonas.
Continue lendo, se ainda não tiver sacado, leia novamente e com mais atenção até cavar na memória quem ele poderia ser. É um pouco difícil mesmo já que essas formas dele não aparecem em nenhuma versão para a TV.
É isso ai, valeu por ainda estar lendo! o/





CAPÍTULO IX

DICOTOMIA. VERDADES À TONA.

Depois de treze dias tentando convencer a minha mãe de que a casa não precisava de um dedetizador, ter arrumado o forro da casa mais que o meu quarto, dado comida, banho, limpado as sujeiras que não parecem nem um pouco com aqueles cocozinhos rosa e fofinhos do anime e ter perdido a conta de quantas vezes tive que fingir choro de criança pra não suspeitarem de nada, eu estava acabado.

Ainda não sabia muito sobre a minha situação nem como as coisas aconteceriam a partir dali. Sentia-me estacionado e sem ter o poder de continuar andando. Minha única luz no fim do túnel eram as últimas mensagens que recebi no D-VICE e que havia ignorado no dia. Uma com um tipo de cilindro desenhado em ASCII e a outra com mais números.

Eu já sabia o que cada um daqueles números significava, mas naquele momento já não era mais apenas ir de peito aberto pra o que quer que fosse. Não poderia arriscar a vida dos gêmeos e sabia pelo que já havia visto no anime que eles não conseguiriam lutar naquela forma, caso alguém ou alguma coisa aparecesse. Decidi não responder àquele aviso e dar mais tempo para ver se eles evoluíam antes de qualquer coisa.

Eu só entendia os mecanismos de evolução que já tinha assistido, mas nada na minha situação se parecia com o que tinha em memória. Eu não tinha um risco pra correr e eles não tinham como gastar energias nem ao menos se exercitar para instigar o crescimento. Aquilo estava se tornando desgastante e eu comecei a achar que me encontrava num beco sem nenhuma saída. Era tudo o que eu tinha na cabeça todo dia ao acordar.

Eram oito e quinze da manhã e, como de costume, meu corpo me expulsava da cama como se estivesse repelindo um imã de mesma polaridade. Estava pronto para mais uma batalha contra as pessoas desconfiadas do meu comportamento nas últimas semanas e com a minha própria cabeça tentando entender a loucura que minha vida estava se tornando.

– Hm...Bom dia, Lu. – Falei enquanto me espreguiçava e ele entrava no quarto. - Bom dia, Ike. Quer dizer, não tão bom.

– Por que, cara? – Perguntei enquanto coçava os olhos e descia do beliche num pulo, como de costume.

– Por causa da sua mania maluca de chorar que nem criança! Você tá fazendo isso tanto que fez de novo enquanto tava dormindo! Eu acordei e demorei um tempão pra dormir!

– Caramba, sério? – Perguntei preocupado com o que teria acontecido aos gêmeos. –

– É. E dessa vez foi mais forte e você levou mais tempo ainda! – Disse ele me encarando.–

Desculpei-me e corri do quarto deixando Lucas com uma grande interrogação na cabeça.

Fui em direção ao beco com o cabelo ainda desgrenhado e o bafo fedendo mais que os “trabalhos” dos pequeninos. Se aquele choro levou tanto tempo quanto Lucas havia dito, algo ruim poderia ter acontecido. Peguei a escada e subi o mais rápido que pude para me certificar que eles estavam bem.

Ao chegar lá em cima, a primeira coisa que escutei não foi um grito, um grunhido ou nada parecido com os sons que os bichinhos reproduziam. Poderia jurar que era uma palavra.

–Aules. – Foi o que disse o pequeno ser que ainda era verde, mas tinha agora um formato diferente.-

Ele tinha uma formação primária de corpo abaixo da cabeça que estava crescida. Esse corpo primitivo tinha uma aparência muito próxima a de um saco verde de gordura humana. Como quando as pessoas engordam demais e forma-se aquela “língua” na barriga e ela fica caída. A pele era ainda de um branco esverdeado e suas veias transpareciam pela fina pele que distinguia os limites de seu corpo. A cabeça agora já não era mais tão mole, poderia comparar a um osso em formação ou uma cúpula cartilaginosa. Seus olhos pretos e grandes ainda brilhavam para mim e me reconheciam como no dia anterior e brotavam pequenas orelhas que caíam sobre sua nova cabeça.

O Gummymon -em teoria- sorriu para mim. Um sorriso lindo, puro e com muito mais dentes que antes, mas ainda com apenas um para fora de um dos lados da boca. Seu irmão ainda dormia na caixa do mesmo jeito que sempre foi enquanto estava comigo e eu notei que o chão estava sujo com uma gosma muito parecida com aquela que havia dentro do ovo.

Estava surpreso com aquela nova forma que ele havia tomado e que era realmente muito parecida com a que conhecia, tirando toda a carga real em sua aparência.

– A-U-LES!!!!!! – Falou entusiasmado como aquela criança que está aprendendo sua primeira palavra. –

– Então agora você fala? É assim que acontece? Será que eu vou ter que passar a te dar Nan ou Mucilon? Caramba, eu não tenho idade pra ser pai!

– AULEEEEEES!!! – Gritou ele com firmeza, como se tivesse tentando me dizer aquilo, me fazer entender o que dizia. –

– Aules? O que isso quer dizer? É uma palavra? Eu não sei falar Digimonês! Você deveria falar na minha língua, ou pelo menos ser dublado! Preciso de um tradutor universal! HAHAHA! Gummymon me olhou novamente como se estivesse decidido. Veio em direção a mim e mordeu um dos meus dedos.

– AAAAAAAI! Porque você fez isso? Tá entrando na adolescência e ficando rebelde é?

– AULEEEEEEEEES! – Disse ele riscando o cenho. –

– Eu já ouvi isso! Mas não consigo entender o que você quer dizer! Cara, se vocês falarem outra língua isso vai ser muito mais complicado do que já está!

– MENINO, O QUE TU TÁ FAZENDO NO TELHADO DE CASA SÓ DE CUECA??? – Foi o que ouvi de onde não sabia e de quem muito menos. –

– CUECA? Ô droga! Esqueci que tinha acabado de acordar! JÁ VOU DESCER, er... PESSOA QUE ME AVISOU! Olha, eu vou aqui embaixo colocar alguma roupa decente e volto pra ver como vocês estão! Não sai dai nem solta algum poder ou sei lá o quê!

Desci correndo para colocar uma roupa e comer alguma coisa para depois me preocupar em limpar aquela gosma proveniente de onde eu não sabia e para ter algum tempo para pensar em como Zerimon havia evoluído. Nada mais me surpreendia com tanta facilidade depois de passar um tempo com eles, mas aquilo ia martelar em minha cabeça até conseguir alguma teoria que ao menos tirasse essa situação de foco.

Voltei correndo para o quarto e pus uma roupa. Quando cheguei à cozinha, minha mãe estava lá tomando café com Lucas e me chamou para comer. Quando sentei, ela me fez uma pergunta:

– O que você tanto faz lá em cima? Ah, e outra! Seu irmão veio reclamar dessa sua nova mania de ficar imitando choro de criança. Isso já está passando dos limites e a gente precisa conversar.

****

Jonas estava sentado de frente ao computador. Tinha um arranhão nas costas que o incomodava há quase duas semanas e demorava de sarar. Uma feição preocupada no rosto, porém decidida. De alguém que sabia o que devia fazer. No seu colo estava uma criatura. Uma criatura diferente da que ele carregava há um tempo. A feição era mais dura, talvez a mesma de Jonas, com o bônus de ser mais fácil de classificar graças aos enormes olhos azuis.

Seu corpo ainda parecia uma simples cabeça, mas agora era mais fácil de notar suas formas, pois os pelos eram rentes ao corpo. Aquela cabeça agora mais visível era toda coberta de pelos marrom-claros em sua totalidade. Despontavam do fundo da cabeça quatro patas com uma única unha acinzentada ao final de cada uma delas, um rabo que começava da mesma cor do corpo, mas ia ficando inexplicavelmente transparente e passando, de forma alternada, para um lilás que também ia se eterizando e se tornando mais destoante ao resto do corpo. Era desconexo e fora de qualquer padrão. Duas orelhas em pé, enormes, peludas e pontudas brotavam bem de cima dos seus olhos e fora a beirada de pelos brancos e eriçados delas, era de mesma cor de seu estranho corpo.

O formato de seus olhos lembrava um escudo -daqueles medievais, clássicos- de cabeça para baixo, o que refletia a dureza de seu olhar e os pelos mais escuros ao redor deles ratificava essa sensação. Acima dos olhos o pelo se avermelhava e triangulava até chegar às orelhas. Por fim, vinha a sua boca que parecia um “W” aberto e sem lábios. Ou pelo menos não eram visíveis graças ao pelos.

O pequeno ser apontou seu olhar para cima, buscando o de Jonas que o retribuiu com um olhar preocupado, porém rente. Ele tinha algumas abas da internet abertas pesquisando como fazer bombas caseiras e assistindo alguns vídeos de documentários onde pessoas domavam animais grandes e ferozes como elefantes ou leopardos. Em outra aba, seu Facebook estava aberto e em uma de suas janelas do chat e ele conversava com um rapaz de uns 19 ou 20 anos, uma pele moreno-clara e cabelo bem curto, segundo sua foto de perfil. Seu nome era Ícaro Barros.

Jonas Moura diz:

Sério! Eu devo muito a você! Muito é pouco, você simplesmente salvou a minha vida sem nem me conhecer!

Ícaro Barros diz:

Você não tem que me agradecer nada. Precisa agradecer a sua sorte e lembrar do que eu te falei lá... Um chamado não é brinquedo e você não pode ir se não estiver preparado!

Jonas Moura diz:

Eu sei. Já entendi o que você falou, mas eu já expliquei que não sabia! Da última vez que tinha recebido uma dessas era o Kylin chegando! Poderia ser qualquer coisa...

Ícaro Barros diz:

Falando nele, está tudo bem? Certo que ele não chegou a agir muito, mas o baque pode ter machucado ele. Lembro muito bem da primeira batalha do Niki e ele levou um tempo pra se recuperar.

Jonas Moura diz:

Ele está bem. Melhor que eu, inclusive. Ainda não entendo tudo o que ele fala, mas como você mesmo disse com o tempo o ouvido vai acostumando né?

Ícaro Barros diz:

Isso aí. Você pode usar o fone também, se quiser, mas não vai demorar muito até seu ouvido acostumar com o ruído e você ouvir ele falando normalmente. Vê as aulas que eu te mandei e procura o máximo de armas que você mesmo possa usar nesse início. Como já te falei, eles são completamente selvagens, só querem saber de destruir e matar! Pelo menos se proteja até descobrir quem foi o sacana que te deixou na mão. Esses chamados nunca são individuais, muito menos pra um bichão daqueles!

Jonas Moura diz:

Certo! Agradeço muito de novo. De verdade. Vou providenciar esses detalhes e ficar atento a esses chamados. Até mais, cara!

Quando Jonas se despediu, Ícaro já havia saído e deixou no ar muitas dúvidas após ter sanado outras. Jonas sabia agora qual era a sua meta inicial e o quão séria a situação estava se tornando. Ele sabia que o formato animalesco que viu em seus sonhos era o mesmo lobo gigante e de presas afiadíssimas que havia no ponto demarcado pela última mensagem recebida semanas atrás, sabia que agora viriam problemas cada vez maiores e que precisava se preparar para combatê-los, sabia que agora precisava se preocupar tanto com ele quanto com aquele pequeno ser, sério e felpudo em seu colo e sabia agora que seu nome era Kylin.

– A gente deu sorte da última vez, Kylin. Mas não dá pra contar com a sorte toda hora. Temos que nos preparar e descobrir logo o que tá acontecendo pra arrumar essa bagunça! – Jonas falou decidido e compenetrado em suas palavras. -

– Eu sei. Peçchuashahduafjsanfskljdjngculpas por não conseghosudfhodghdpofir ajuajsduasfusdafhweaaar.

– Calma, deixa eu colocar logo isso pra te entender direito.

Jonas abriu a caixa onde seu D-VICE havia chegado e tirou de lá um fone sem fio, como aqueles pontos que a polícia põe nos ouvidos para alguma missão. Nesse fone havia acoplado um pequeno microfone que ia em direção à boca, parando um pouco antes da bochecha, bem singelo. Era pequeno e todo preto como o aparelho e tinha escrito de forma circular, acompanhando o seu formato o nome Babylon em prateado. Jonas o colocou em sua orelha esquerda, pegou o D-VICE e configurou uma conexão como quem conecta um celular a outro via bluethooth, bem como Ícaro o havia ensinado. Escutou então pelo fone uma voz que já não ouvia a um tempo dizendo:

– Conexão direta estabelecida. Compatível conectado à espécime.

– Essa voz é muito conveniente. Quando precisamos dela, só sabia mandar fazer a pergunta certa! Vamos testar logo isso, Kylin?

– Sim. – Respondeu olhando para Jonas. –

– Fala alguma frase grande pra ver se eu escuto alguma interferência.

– Acho que você precisa cuidar melhor do seu machucado. Não vai conseguir se concentrar se não estiver bem.

– Nossa, funciona mesmo! Nem um chiadinho! Mas eu não entendo porque às vezes eu te escuto e outras não.

– Isso eu também não sei.

Sua vozinha fina e esganiçada era muito estranha de se ouvir separada de um contexto, mas o vendo e ouvindo falar, sua voz e seu corpo reafirmavam um ao outro. O único destoante naquele ser era a sua forma madura de se colocar que quebrava toda sua feição infantil.

– Preciso me armar com tudo o que eu puder pra não te deixar sozinho nessa. Seria falta de responsabilidade e companheirismo da minha parte ficar apenas te olhando no campo de batalha.

– Gosto de saber que você vai me ajudar no que precisar Jonas. Mas não entendo porque você está fazendo isso. Você não tem nenhuma ligação comigo ou com esses problemas e não me deve nada!– Kylin lançou a frase com a feição que estava. Como uma máxima indiscutível. –

– Não é questão de conhecer você ou te dever nada, Kylin. Isso é tudo uma grande loucura! Criaturas enormes, mons... Seres diferentes como vocês aparecendo sem ninguém saber... Eu só tinha visto coisas assim na tv, ficção! E não pareciam tão urgentes e desesperadoras. Não é algo que envolva só eu ou você. É muito maior do que a nossa relação que ainda está sendo criada.

– Entendo. – Disse seco, fechando os olhos. – Não quero criar nenhum problema pra você. Na verdade, queria poder ajudar mais, só que é como eu disse. A única coisa que sei com certeza é o meu nome e não sei como eu lembro.

– Você não é um problema, já disse! É uma das partes da solução, se formos seguir a série.

– O “desenho” que você me contou?

– Isso aí. Eu não sei muito, Caíque sabe mais que eu, mas não posso contar a ninguém sobre você então pedir ajuda a ele não é uma opção.

– Você não acha um material feito pra crianças uma fonte pouco confiável pra uma situação dessas? – Perguntou Kylin com sua mesma expressão fechada. -

– Você não acha que uma situação desesperadora pede soluções imediatas? Você não se lembra de nada e eu não sei de nada! A única luz que a gente teve foi no momento em que eu quase morri pra aquele bicho gigante tentando te tirar da frente dele e Ícaro e Nikki apareceram pra nos ajudar! Por mais que eu não te deva nada, você me deve por aquela noite então eu te peço uma chance pra tentarmos descobrir o que fazer juntos! Pode ser?

– Nunca disse que estava fora desse plano. Só lancei fatos importantes para que a gente trace um bom caminho pra descobrir o que fazer. Por exemplo, nem eles sabiam sobre aquele cilindro que você sonhou ou o que ele significa.

– E isso me preocupa. Parecia algo importante no meu sonho. E...

– JONAAAAAAAS!

– Caramba, quem deve ser? Kylin, você entra na mochila? Se a pessoa for entrar, não pode te ver!

– Entro, mas não se acostume com isso.

– Disse ele modificando sua expressão para algo mais descontraído pela primeira vez. -

– JONAAAAAAAAAS!

Jonas tirou o fone do ouvido, colocou-o no bolso e foi atender a porta.

– Já vai! Quem é?

– O carteiro!

– O carteiro?

– Não, seu retardado! Sou eu, Ivan! Abre aqui.

– E ai, cara! Tá fazendo o que aqui assim, do nada?

– E agora eu preciso de um motivo pra vir te ver, é? Tá parecendo Caíque! Cheguei lá um dia desses e ele tava de toalha quase me expulsando de casa. Passei pela frente da casa dele nesse instante e ele tava de cueca subindo o telhado! Ele tá é surtando! Vamos lá?

– Lá onde?

–Perguntou Jonas, aflito. –

– Na casa dele, ô bocó! Tá viajando, é?

– Caramba, velho... É que eu tenho que... Ensinar Karen a desenhar maçãs!

– Oi? Sério que foi essa tua desculpa?

– Não, cara! É sério! E também eu teria que comer alguma coisa, que ainda não tomei café e arrumar a mochila. Ia demorar.

– Tem problema não, vai comer algo que eu arrumo tua mochila. Já sei o que tu leva mesmo.

– NÃO! Err... Certo. Calma. Pode esperar aqui na sala que eu vou arrumar as minhas coisas e como lá na casa de Caíque, beleza? – Disse Jonas em total desespero. –

– Tá bem então... Estranho... Vai lá que eu fico brincando aqui com tua irmã. Cadê tua mãe?

– Tá na vizinha conversando um pouco. Daqui a pouco ela volta aí. Vou cá dentro e volto pra gente ir.

– Certo.

Jonas correu para o seu quarto, aliviado e apreensivo. Se negasse o pedido de Ivan, poderia criar uma situação chata e complicada com ele e tendo aceitado, havia o problema do que fazer com Kylin.

– Kylin! – Sussurrou Jonas para a mochila. –

– Ssjdsschhaskadvgasssaa.

– Oi? Droga, o fone. Aí, fala de novo.

– Você precisa lavar a sua mochila. – Falou Kylin como se fosse a frase mais importante do milênio. -

– Como?

– Isso aqui fede por dentro, sério!

– Não é hora disso. Ivan chegou aqui e eu acabei de aceitar ir pra casa de Caíque com ele! Que a gente faz?– Perguntou Jonas completamente perdido. –

– Rejeite o pedido! Não vou ficar mais um segundo nessa mochila horrível e você não pode me tirar da sua casa!

Passados alguns minutos, Jonas já havia comido e tinha colocado em sua mochila umas roupas, alguns utensílios de casa que poderiam ajuda-lo em alguma emergência e terminava de espremer Kylin naquele emaranhado de coisas.

– Sério Jonas! Eu não serei desse tamanho pra sempre e você sabe disso! Prepare-se para a minha vingança! – Sussurrou Kylin querendo gritar e arranhar Jonas mais ainda. -

– Deixa de drama e entra logo, Kylin! Quando a gente chegar lá eu deixo a mochila no quarto e abro o zíper direito. Agora entra aí porque a gente não tem outra escolha!

– Ainda acho que a gente não devia ioasdhqpwiurahsdlkjçakdjawawpad.

– Já foi. Já tirei o fone, tá vendo? Tá no bolso. Então não adianta chiar!

– Já tá pronto, madame? – Perguntou Ivan da sala de estar. -

– Ivan.

– Senhora?

– Vai à merda.

– Vamos pra casa de Caíque, isso sim. E vamos logo!

– Então vamos. – Disse Jonas entregando a chave e a irmã à mãe, na vizinha e tomando seu caminho. -

****

– Entendeu agora, mãe? – Perguntei desejando muito que minha desculpa tivesse colado. –

– Então você está me dizendo que tem um ninho de urubu no telhado da minha casa e que os barulhos de choro eram pra camuflar os sons que eles soltam? – Perguntou minha mãe, bufante. –

– É... Isso aí! Eu descobri esse ninho há um tempo, mas depois que eu subi lá, a mãe não voltou mais e eu fiquei com pena dos bichinhos!– Disse desacreditando eu mesmo da desculpa horrível que criei. –

– Mas porque você não me contou ao invés de fazer todo esse teatro pra encobrir esse ninho?

– Porque são urubus, mãe! Vai que você achava nojento e mandava tirar eles de lá?

– Vai que, não! É o que você vai fazer já! Minha casa não é zoológico e muito menos lixão pra virar moradia de urubu! Dê eles pra alguém, veja o que você vai fazer porque já está todo mundo cheio desse seu choro agudo à toda hora!

– Mas mãe... - Nem “mas” nem menos! Termine de comer e vá agilizar isso logo!

– Certo.

****

– Cara, não sei se você tá notando, mas a gente vem se afastando muito de uns tempos pra cá.- Disse Ivan quebrando o silêncio que até então tomava conta da caminhada.-

– Cê acha? – Perguntou Jonas com tom de estar em outro mundo. -

– Acho não, tenho certeza! Direto a gente ficava na casa de Caíque resenhando e de um tempo pra cá não encontro vocês nem pelo Face! O que tá acontecendo? É mulher, é? Porque eu sei muito bem dividir o meu tempo entre vocês e Lara. -Disse Ivan chateado. -

– Nem é, cara. Eu tô me encontrando pouquíssimo com Véu porque ela tá fazendo faculdade em outra cidade. Então a gente troca muita mensagem, mas se vê pouco. Da minha parte é porque tô mais em casa mesmo. Caíque eu já não sei. Ele tava meio tenso da última vez que a gente conversou, mas nada grave.

– Hm... Sei. A gente podia conversar com ele quando chegar lá. Não gosto de ver as coisas assim.

– Realmente. Não podemos nos afastar logo agora. - Falou Jonas mais pesaroso do que devia. –

– Oi? O que tem agora? -Perguntou Ivan esperando uma justificativa. –

– Nada de mais, só que a gente tá de férias, você já tá na faculdade, eu ainda tenho que terminar o ensino médio e ele tá parado. Pode ser isso, apenas.

Jonas sempre teve um controle maior com as palavras na hora sair de uma situação problema. E por não ser tão intenso e espalhafatoso quanto eu, consegue pensar melhor antes de falar e soar menos forçado. Ivan o conhecia antes mesmo de me conhecer, duma época remota nos primeiros momentos de escola e sabia que Jonas não estava tão bem quanto dizia.

*****

Naquele momento eu estava perdido. Não poderia tirar os gêmeos lá de cima e contar a verdade pra o pessoal de casa. Era arriscado de mais expô-los a isso tudo e também não poderia simplesmente desobedecer a ordem da minha mãe. Fui ao beco, subi as escadas e vi os dois, inocentes e deitados, dormindo na caminha improvisada com papelão recheado de panos.

– Mais que trabalhão vocês estão me dando, hm? -Falei admirando-os dormir. –

Precisava de algum empurrão para frente. Estava parado numa mesma situação há semanas sem qualquer novidade, qualquer luz. Nem as benditas mensagens me vinham mais. Os gêmeos já não podiam mais ficar ali e eu não sabia o que fazer até me surgir a ideia. Em alguns minutos eu estava com a caixa fechada em mãos quase de frente a porta do quarto de hóspedes que fica ao lado da cozinha e minha mãe vinha do quarto dela enxugando os cabelos com a toalha.

– Vai fazer o que com eles, já decidiu? -Perguntou ela com pena, mas decidida a tirar os bichos de casa. -

–Já sim. Tem um baldio com várias árvores aqui perto. Vou deixar eles em uma dessas árvores que ai eles vão ter as frutas delas pra comer e vão ficar protegidos.

–Certo. Deixa só eu ver como eles são.

– O que? – Perguntei assustado. -

–Abre a caixa pra eu conhecer ao menos meus inquilinos clandestinos antes de irem embora. – Disse ela, curiosa. -

Gelei. Não podia abrir a caixa e não sabia o que fazer então gritei:

–OLHA A BARATAAAAAA!

– AAAAAAAA! Aonde menino? - Gritou minha mãe subindo em uma das cadeiras da cozinha. –

– Aí! Embaixo da cadeira que você subiu!

– Gritei com o máximo de desespero que podia fingir.

– Gritava escrachadamente desesperado sobre como aquela barata poderia ser facilmente a mãe de todas as baratas do mundo de tão grande que era. Corria com a caixa para fora de casa quando passei pela sala do computador e Lucas estava sentado olhando para onde eu apontava. Talvez procurando também a tal barata inexistente que me livrou de um grande problema.

Fui até um monte de lixo perto de casa e joguei a caixa fora. Voltei para casa e corri para o quarto de hóspedes, trancando a porta ao entrar. Assim que fechei, “Chocomon” pulou em cima de mim e ficou brincando no meu colo.

– Hahaha! Deu certo! Agora eu só preciso que vocês fiquem quietinhos aqui enquanto eu procuro uma solução pra vocês, certo? - Disse para os agora não tão gêmeos que estavam sonolentos e famintos. -

– Fome. – Disse o “Gummymon”. -

–Oi? – Perguntei surpreso, olhando para trás. -

– Aules fome!

– Caramba! Cê tá falando mesmo! E português! Que maravilha! –Falei um pouco mais aliviado. -

– Aules fome! -Disse o pequeno choramingando. –

– Okay. Essa primeira palavra eu ainda não entendi, mas vou trazer alguma coisa pra vocês. Fique de olho na bolinha marrom.

Coloquei Chocomon que estava pulando no meu colo na cama ao lado de Gummymon para levar comida a eles. Tranquei a porta e pus a chave no bolso. Enquanto estava preparando um pão com leite para eles, escuto a campainha seguida de um grito duplo.

– IKEEEEEEE!

– Deixa que eu atendo.

–Lucas falou pulando da cadeira do computador. -

– Você saindo do pc por livre e espontânea vontade? Tá bem... – Comentei espantado. -

Precisava mesmo que Lucas abrisse a porta para me dar tempo de colocar os pequenos em algum cantinho com a comida deles antes que os meninos -que havia reconhecido pelas vozes- entrassem.

– Você fique quietinha, sem gritar e pular e obedeça a seu irmão mais velho, tá? - Falei para Chocomon recebendo um sorrisão de um só dente e muita gengiva como resposta. -

– E você não deixa ela fazer besteira e se comporta também, certo? -Falei sem esperar respostas. –

Logo antes de fechar a porta do quarto o escuto falando.

–Céto!

–Vou demorar pra me habituar com isso. – Disse saindo do quarto. -

– Caíque!

– E aí, gente? O que fazem por aqui?

– O que a gente costumava a fazer. Nada de específico. E você, o que tava fazendo só de cueca no teto mais cedo?

– Ah, então foi você que gritou? -

Pois sim. Vem cá pra sala. Jonas tá aqui também.

Jonas. A última vez que tínhamos conversado foi quando passávamos por situações muito parecidas. Depois disso mais nenhum contato direto. Só algumas mensagens rápidas pela internet e coisas assim. Vieram-me em mente várias dúvidas sobre ele e se algo a mais tinha acontecido. Se tinha tudo sido uma grande coincidência ou se ele também estava metido nesse mato sem cachorro. Se eu estava assim tão perdido, como ele deveria estar? No meio de tantas perguntas eu esqueci a chave na porta do quarto e fui pra sala com Ivan e Lucas. Jonas estava sentado acabando de guardar o celular no bolso e fechando sua mochila.

– E ai, Caíque. – Disse Jonas mais avoado que de costume. -

– E ai, Jhou. Porque desapareceu assim?

– Desapareci nada, cara. Só preguiça mesmo.

– Que tá acontecendo com vocês, em? -Lucas perguntou do computador. -

–Oi? Nada não. E porque você não vem pra cá ao invés de ficar nessa coisa creepy de ver e sentir tudo de longe? – Falei olhando pra ele de cara feia. -

– Na verdade eu tava conversando algo do tipo com Jonas antes de chegar. Acho que a gente precisa conversar mesmo. – Ivan falou com certo pesar na voz. -

– Vão começando aí a conversa. Vou beber água aqui, rapidinho.

– Pô, Jonas! Vai rápido então que a gente te espera.

–Não, é sério. Podem começar. Já volto.

– Certo. Enquanto conversávamos sobre o distanciamento entre todos e o clima estranho que estava acontecendo, Jonas foi para a cozinha com a mochila nas costas e se dirigiu para o quarto de hóspedes. Abriu a porta e entrou sem que ninguém o visse.

–Pronto Kylin. - Ufa! Já não aguentava mais ficar espremido com suas cuecas! – Disse o pequeno enfezado saindo da mochila. –

– Tem uma cueca presa na sua orelha esquerda. – Jonas falou tentando segurar o riso. –

– Ai, que nojo, Jonas! Toma logo isso e volta pra sala pra ninguém desconfiar que de mim!

– Certo, patrão. Mais alguma ordem a cumprir?

– Engraçadinho você, hm? Não me pareceu tão feliz lá fora. – Lançou Kylin curioso com a reação de Jonas. -

– ATCHIM!

– O QUE FOI ISSO? – Perguntaram os dois em uníssono. –

– Não, sei. Olha embaixo da cama que eu vou procurar aqui do lado, Kylin.

– Ô JONAAAAS! VEM LOGO, VELHO! – Gritou Ivan da sala. –

– Droga! Vou trancar aqui e você continua procurando tá, Kylin? Volto aqui daqui uma hora pra ver se tá tudo bem.

– Não se faça de babá, faça o que tem de fazer e vamos embora daqui. – Disse ele quase que ordenando. –

– Pelo menos você vai estar acompanhado com seu mau humor. Fui!

Jonas voltou para a sala e passamos grande parte da tarde discutindo sobre pequenos problemas que nos afligiam e até desenterrando pequenas picuinhas que um ou outro achavam que poderia ser o motivo do afastamento. Eu pensava que ninguém ali além de mim poderia compreender o verdadeiro motivo da situação estar se fechando enquanto Jonas pensava basicamente a mesma coisa. O círculo de omissões e mentiras estava para acabar e não seria de forma amigável.

Depois de termos “resolvido” as coisas e passarmos muito bem um pedaço da noite, Ivan precisou ir embora e ficamos apenas Jonas, eu e Lucas em casa conversando e jogando um pouco. Minha cabeça estava até então desligada dos gêmeos e dos problemas que circundavam a simples aparição deles em minha vida até que me voltaram todas as tensões, dúvidas sobre minha situação e possível envolvimento de Jonas em toda essa história. Meu pensamento foi cortado pelo mesmo.

– Velho, como estão as coisas? A gente nunca mais conversou sobre aquelas loucuras, né?

– Que loucuras, cara? Teorias de criação do universo e coisas assim?

– Não, falo daqueles negócios que a gente parou um fim de semana inteiro pra pesquisar. Essa conversa por glória foi interrompida pelo toque do meu D-VICE recebendo uma mensagem.

– Opa, foi o meu ou o seu? – Perguntou Jonas. –

– Acho que foi o meu. Porque, o toque é parecido?

Jonas fez que sim com a cabeça e foi revirar a mochila que estava do seu lado. Corri para o quarto e peguei o D-VICE em cima da cômoda, esperançoso, doido para ter alguma novidade, alguma luz, qualquer coisa que me tirasse daquele completo escuro onde me encontrava. Peguei o celular correndo e olhei no quarto mesmo a nova mensagem sem destinatário que havia chegado.

– Imaginava que seria isso.

Falei anotando os novos números que me apareceram na tela para separar as coordenadas do horário certo para chegar ao local designado na mensagem. A quantidade de números e a ordem deles se mantinham a mesma das anteriores, então não foi difícil deduzir que o horário de chegada ao local deveria ser às 4 da manhã. Bastava agora acessar algum mapa online para descobrir a coordenada correta.

– Abrir navegador.

Já conhecia alguns dos comandos de voz que o D-VICE aceitava de tanto mexer nele procurando alguma pista do que fazer. A internet abriu e digitei os números correspondentes no Google Maps.

– É um pouco longe, mas da pra ir andando.

– Ah, não, mas que droga! – Gritou Jonas da sala. –

– Oi? Que foi, cara? – Perguntei curioso. –

Ao me ver, Jonas enfiou a cabeça na mochila juntamente com uma das mãos e saiu de lá logo em seguida.

– N-nada não, Ike! É que eu esqueci minha cueca em casa.

– Ah ta. Tem cueca sua aqui, pode ficar tranquilo.

– Oh, que ótimo então.

Conversamos ainda muito antes do sono chegar. Nos revezamos para o banho e fomos deitar. Lucas já havia dormido há algumas horas, mas eu e Jonas acabamos conversando por mais tempo. Deitei e programei o despertador para as 3:30 da manhã. Ainda não tinha certeza se iria ou não, decorrente a situação dos bebês, mas não podia me dar ao luxo de simplesmente ignorar outra vez um chamado. Jonas saiu do banheiro e veio deitar também.

– Boa noite, Caíque! Até amanhã.

– Opa, boa noite velho. Dorme bem ai.

– Cê também, cara.

Dormimos. Às três da manhã, o D-VICE de Jonas vibra ao seu lado. Precavido como ele, não colocaria com um intervalo de meia hora como eu. Jonas levantou e se dirigiu diretamente para o quarto dos fundos.

– Kylin. Kylin! – Sussurrou Jonas sem ligar uma luz sequer. –

– Aqui, no seu pé. – Disse ele seco, como sempre.

– Vamos sair logo daqui e fecha a porta rápido!

– Oi? Porque isso assim de repente?

– Faz logo isso, Jonas. Vem pra sala que eu te explico. Não quero que nos ouçam. – Falou desconfiado olhando para o breu atrás de si. –

– Quem vai ouvir a gente? – Perguntou Jonas tenso. –

– Vem logo, Jonas! – Irritou-se o pequeno felpudo. –

Kylin foi andando tranquilamente pela casa até a sala seguido por Jonas que ainda olhava para trás, buscando uma explicação. De um pulo subiu no sofá e se acomodou como um felino faria para deitar bem confortavelmente. Jonas ligou a luz e sentou ao lado dele. Perguntou.

– O que tá acontecendo?

– Lá dentro. Tem um de nós lá dentro.

– O quê? – Perguntou Jonas aflito.

– Vamos logo lá! Antes que ele acabe com a casa, a gente tem que fazer alguma coisa!

– Calma. É só um bebê. É muito pequeno e só tem um dente. Isso não me parece muito ameaçador. Ele subiu na cama vindo de não sei onde, mordeu o meu rabo e eu fiquei sacudindo até ele soltar. Ele caiu em algum lugar no quarto, mas não quis ficar rondando de mais para não fazer barulho. – Contou Kylin fechando os olhos e se aprumando num dos lados do sofá. –

– Mas, mas se ele não é uma ameaça, então...

Os olhos de Jonas quase saltam para fora. A estranheza de Caíque, seu sumiço, sua mudança na forma de agir, falar e de tratar as pessoas, tudo isso se justificaria se estivesse passando por uma situação minimamente próxima com a que o próprio Jonas passava, pensou. Com essa possibilidade, veio à tona os questionamentos na cabeça dele. “Porque Caíque não havia contado nada? Porque ele não procurou saber como eu estava depois daquele fim de semana? Porque isso estava acontecendo com eles?” Até a erva daninha ser plantada.

– Será que foi ELE que não respondeu ao chamado na outra semana?

Nesse momento o meu celular despertava acusando 3:30 da manhã. Ainda sem lembrar do acontecido, desliguei o despertador, desci da cama e fui direto ao banheiro. Jonas havia me escutado levantar e juntamente com a quase certeza que rondava seus pensamentos, uma fúria que nem ele sabia de onde vinha começava a nascer de seu âmago e querer gritar para fora acertando em cheio a primeira coisa que aparecesse em sua frente.

Jonas desligou a luz da sala e se segurou ao me ver passar para a cozinha. Eu corri para o quarto dos fundos, liguei a luz e procurei pelos gêmeos. Chocomon estava um pouco choroso enquanto Gummymon parecia atento e um pouco eriçado. Perguntei esperançoso por uma resposta.

– O que houve aqui?

– Ele! Peludo! “Olelha!” Bateu!

– Como? Não entendo!

– Igual a aufhsoduhSaoifjrua caiu!

– O que foi isso? Foi um chiado? Olha, vocês estão assustados. Saíram da casinha de vocês e eu entendo isso. A gente tem que sair agora. Recebi uma mensagem e dessa vez não posso ignorar. Mas eu prometo que vou proteger vocês a todo custo!

– Tá! – Disse o pequeno e verde ser que agora arriscava algumas palavras. –

Peguei a menor na mão e o outro deixei livre pela casa para andar um pouco e conhecer de verdade o lugar. Estava a caminho da sala. Iria deixa-los no sofá e trocar de roupa para sairmos, mas assim que cheguei à sala escutei um grito surdo, senti algum movimento na penumbra e levei um soco na cara.

– Filho da puta! Eu só não te bato de novo pra não acordar seu irmão e sua mãe.

– MAS QUE PORRA FOI ESSA? – Gritei sem pensar, do chão, segurando a mandíbula. –

Chocomon havia caído no meu peito e Gummymon se escondeu atrás de mim assim que caí, de susto. Escutava um ofegar muito forte e ouvi passos que iam até a luz. Jonas a ligou.

– J-Jonas? Porque você fez isso?

Perguntei antes de fitar o sofá e ver a criatura aninhada inicialmente de olhos fechados, depois me fitando com um azul intenso. Não mais intenso que o soco que havia levado, nem mais vivo que a feição de Jonas que há tempos não via mudar.

– Foi você que me deixou na mão há quinze dias! Eu podia ter morrido! Você me deixou na mão muito antes disso por não ter me contado nada! Você é algum tipo de idiota?

Jonas gritou apenas com a intenção no corpo e no olhar que estava vidrado em mim. Ele estava furioso, não conseguia segurar o mínimo de suas emoções. Nunca o tinha visto assim.

Já eu, estava ainda em choque, deitado no chão na mesma posição que caí, olhando fixamente para Jonas e fitando vez ou outra aquilo que me parecia um guaxinim no meu sofá. Minha feição era de medo, pavor da situação de Jonas, preocupação por ele ter visto os gêmeos e insatisfação por ter levado um soco tão bem dado sem poder revidar.

– Você faz o MÍNIMO de ideia de tu-tudo o que eu passei? Eu lutei contra um lobo gigante e totalmente insano que-que deixou uma cicatriz de um lado a outro das costas! Eu quase que –quase que morri por sua causa!

Levantei indo em direção a ele.

– Por minha causa? Não sei o que você passou lá fora, não sei como está o seu corpo, mas a minha batalha psicológica sozinho não está sendo fraca também! Eu estava sozinho nessa situação, sem qualquer amparo e sem o mínimo de perspectiva! Você também me escondeu sobre tudo!

– Tudo? Eu te contei do que eu passei na rua com aquele Leomon ou seja lá o que for e você não me disse nada! Falou que poderia ser coisa da minha cabeça, me fez acreditar que eu tava ficando doido! Você acha que eu também não passei por problemas em casa tentando descobrir que merda tá acontecendo?

– Parem os dois. – Disse o pequeno do sofá sem mover um músculo que não fossem os de sua boca.–

Realmente paramos. Estávamos os dois à flor da pele já há tempos e estávamos segurando pelas bordas a situação mais inusitada e impossível de nossas e muitas outras vidas e já estávamos cheios de tudo aquilo. Jonas além do estresse mental também já havia passado por uma batalha em campo então explodiu em cima de mim.

Depois da fala do pequeno, Jonas sentou novamente do lado dele e eu fui ao chão buscar os pequenos agora apavorados com aquela situação. Os coloquei no meu colo e sentei no outro sofá, de frente para Jonas. Ele tremia. Não mais que eu, mas tremia. Nenhum de nós dois conseguia falar então escutamos a voz fina e esganiçada daquele “guaxinim” por alguns instantes nos dando sermão.

– A nossa situação não permite brigas internas. Tem coisas muito maiores que a relação ou falta de relação de vocês. Jonas, peço que segure as emoções e o desabafo pra depois e você...

– Caíque. – Disse olhando para o chão. –

– Pois sim, Caíque. A nossa prioridade agora é esse chamado. A propósito, meu nome é Kylin e não guaxinim. Quem te acompanha dos dois e quem acompanha o outro? – Perguntou assertivo.-

– Só eu. – Falei sem olhar para a frente. Ainda com vergonha da situação.

– Mas porque eu tô ouvindo um bicho que eu não conheço e não faço ideia da procedência?

– Porque ele transborda sensatez. Ele tem mais cabeça que nós dois juntos. Só ouve. – Disse Jonas também de cabeça baixa. –

– O que quer dizer com só você? – Perguntou Kylin.

– Vieram os dois no mesmo ovo e só tem um D-VICE na casa. O meu.

– Então se prepare e vamos para o local marcado pela mensagem.

– Certo. Olhem os gêmeos, por favor. – Disse com a voz para dentro, o orgulho ferido por um guaxinim falante e a culpa caindo sob minhas costas. –

Entrei no quarto e ao menos conseguia pensar. Era muita informação de vez para computar. Jonas estava realmente envolvido naquilo tudo e por ter sido negligente, quase deixei o meu primo morrer. Não poderia questionar nada agora, muito menos as ordens de alguém que parecia mais sensato e centrado que eu, naquele momento. Por mais que me parecesse estranho. Me vesti, saí do quarto com uma mochila nas costas onde coloquei os gêmeos.

– Vamos deixar as roupas sujas pra se lavar em casa. Não quero que nada ruim aconteça de novo por minha causa. Trégua?

Falei de frente a Jonas que já estava no portão com Kylin em sua mochila. Jonas olhou para mim, fez que sim com a cabeça e saímos de casa.
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Mensagem por Mickey Qui 06 Fev 2014, 8:22 pm

Hauahauahaua!

Fazia tempos que não dava risadas com essa história!

limpado as sujeiras que não parecem nem um pouco com aqueles cocozinhos rosa e fofinhos do anime
Quando li essa linha... bem no começo... não resisti e fui até o final do capitulo! xD~~

Pocha! Finalmente eles toparam... ou melhor... o Caique topou com o Jonas... nervoso?! xD~~
Toda a história foi legal...
Principalmente o Ivan revoltado com a situação dos amigos que praticamente o abandonaram...

Mas até que a desculpa da "Maçã" não foi tão ruim assim... (Foi horrível!)

Hahahaha! Muito engraçado!
Outra coisa... eu reli a descrição do Digimon... e na boa... se não for um Patamon...
É melhor começar a chama-lo pelo nome correto, pois ta difícil identificar...

Enfim... Parabéns pelo episódio! E desculpe novamente pelo atraso na leitura! =)
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Mensagem por Júnior Brito Ter 21 Out 2014, 5:45 pm

Aí depois de uns 8 meses, a pessoa decide ressurgir das sombras, né? haha
Pois sim! Cá estou eu, depois de um bom tempo afastado da escrita, mas nunca afastado do afeto e do carinho que tenho pela franquia, trazendo mais um novo capítulo para o fórum!

E olha, Mickey! Vem coisa por aí viu? haha!




CAPÍTULO XI

MOMENTO DE TRÉGUA

– Vai aos poucos, diria. – Respondeu Jonas olhando para Kylin, ainda perplexo. –

– Mas como assim? Você parecia tão animado com tudo isso. – Perguntei enquanto afastava a orelha de Aures da minha nuca. Fazia cócegas. –

– É que ela tá morando em outra cidade, fazendo faculdade.

– Mas é época de férias de meio do ano! Sei que tá no final. Mas ainda são férias!

– Teve algum tipo de atraso no calendário de lá por conta de umas greves, acho que ela só tem recesso em setembro ou é outubro, não sei.

– Então estão namorando à distância?

Continuamos conversando sobre banalidades durante o caminho de volta. Era nosso inconsciente pedindo para esquecer os baques, o cansaço, as dores, os machucados, tudo. Kylin andava alheio ao que acontecia, seus olhos redondos, cor de mel, cerrados. “Desperdiçando beleza”, pensava. Aures pôs sua orelha em volta do meu pescoço e cochilou com a cabeça encostada na minha. O bebê, em minhas mãos.

Não éramos o time perfeito, saímos de lá nada ilesos, a luta toda foi uma grande confusão...

– Muito diferente do que tem na TV, não acha? – Perguntei já na porta de casa. –

– Oi?

– Isso que aconteceu. Compara com as cenas de luta que a gente vê na TV nesse tipo de situação. Teria sido uma vitória perfeita dos mocinhos.

– Nós somos os mocinhos? A gente não faz ideia do que acabou de fazer ali. – Jonas falou, assertivo. -

– Derrotamos uma ameaça em potencial, creio eu. – Falei chegando a uma verdade minha. –

– Talvez. Mas a gente ainda tem muito chão pra correr antes de ter qualquer certeza.

– Não mandariam a gente numa missão suicida nem pra algum malefício, Jonas. Isso não condiz com o...

– Não estamos dentro desse seu desenho, Caíque. Sugiro que você e todos se recomponham porque a qualquer hora podemos ser alertados novamente. Precisamos nos preparar. – Foram as primeiras palavras de Kylin desde que saímos do galpão. –

– Okay, senhor mal amado. Agora a nossa missão é entrar sem acordar mãe e Lucas.

Ele terminou de fechar seus olhos já cerrados e em seguida abriu-os, seguido de um impulso para escalar o braço esquerdo de Jonas e ficar ao redor de seu pescoço, empoleirado. Sua gigante bala de canhão suspensa no ar e envolta por sua cauda etérea parecia não ter peso algum e isso só o deixava mais estranho para mim. Comecei a pensar que seu problema era meramente estético.

– Aures, Aures, acorda que a gente já chegou.

– Hmm... UAHHHH! – Bocejou coçando os olhos com suas mãos peludas e gordinhas. – E como a gente vai entrar sem acordAAAAAAH. – O bocejo atrapalhou sua fala. –

– É só a gente entrar devagarzinho. Ninguém faz barulho! Você também, pequena. Nem um piu, tá? –Falei direcionado à criaturinha em minhas mãos. –

Entreguei-a nas mãos de Jonas e peguei a chave no bolso da bermuda suja. Aures desceu do meu ombro, sonolento e eu abri com cuidado o grande portão branco da garagem de casa. Preta nos recebeu com aqueles ganidos de cachorro quando vê o dono chegar e quis começar a latir quando sentiu o cheiro de Aures, que andava na frente.

– Shiu, Preta! Ele é amigo. Aures, deixa só ela te cheirar tá?

– Humrum, certo. Mas se ela me morder eu revido!

– Aures... –Repreendi. -

Andamos calados a varanda e abri a porta com muita cautela sem deixar Preta entrar. Já estava amanhecendo, pássaros querendo começar a cantar, qualquer som a mais poderia acordar o pessoal de casa.

– A gente se limpa no banheiro do fundo, okay?

– Certo. – Jonas respondeu. –

– Cara, você vai me emprestar sua escova de dentes. Minha boca tá com gosto de ave gigante e maluca. Não devia ter mordido aquele bicho.

– Não, Aures! Que nojento! Te compro uma mais tarde... Eca...

Chegamos ao fundo da casa, Jonas e eu tiramos as blusas, colocamos na pia onde Aures já havia aberto a torneira e se colocado embaixo. Fomos para o banheiro ao lado da pia e começamos a tirar o grosso de todas aquelas impurezas físicas e emocionais. Vi Aures espumando a cabeça da pequenina com a barra de sabão que havia no fundo e oferecendo-se para ajudar Kylin a se limpar também enquanto ele respondia abaixando o rosto, esperando Aures sair da pia.

– Jonas, tá tudo bem agora, cara? – Perguntei enquanto enxaguava meu rosto. -

– Não cem por cento. A gente ainda precisa conversar direito... Mas eu entendo seus motivos, e também não falei nada pra você... Sei lá. Isso é tudo muito complexo e impossível pra gente querer agir e pensar como se fosse qualquer coisa.

– Fora o fato de que nem eu sei onde tô me metendo então não arriscaria colocar nem você nem ninguém nesse mato sem cachorro. E outra! Eu não tinha como ter certeza do seu envolvimento nessa doidice.

– Faz sentido até aí. Eu também não te contei nada e... Sei lá, cara. Tá tudo tão confuso... Obscuro. E você sabe como eu fico perdido quando não sei o que fazer. – Disse Jonas, com dificuldade. -

– Você e qualquer ser humano na face da Terra. Desculpa por não ter te contado nada e te deixado na mão no outro dia. Eu realmente não sabia do que se tratava.

– Fica tranquilo. Sei que você não tinha como saber. Eu que te peço desculpas pelo estouro e pelo soco...

– Não sei. Talvez eu estivesse precisando disso pra acordar de verdade pra o que tá acontecendo. Essa madrugada foi crucial pro meu entendimento da dimensão desse problema.

– Foi importante pra todo mundo. Não tenho dúvidas disso.

Demos um longo aperto de mãos seguido de um forte abraço. Descarregaram-se ali as últimas tensões entre nós. Emocionalmente precisávamos de uma trégua. Aquele era o momento de descansar o corpo e a mente.

Aures estava enxugando sua pequena irmã enquanto se sacudia como um cachorro para tirar o excesso de água do corpo. Alegre, porém visivelmente exausto. Kylin terminava de limpar o sangue da fera que ainda residia na ponta de sua “bala”. Com sua feição inabalável e falando sempre menos que o necessário. Eu e Jonas já havíamos nos lavado na medida do possível ali, então peguei algumas roupas do varal e nos trocamos.

– Enfim livres de qualquer resquício da madrugada. – Disse Jonas, aliviado. –

– Não diria isso com tanta certeza. – Falei olhando para os monstros no fundo da minha casa. –

– Entendo. Eles evoluíram, certo?

– Não tem outra explicação. Aures é um Terriermon, com certeza. Quer dizer, parece com um pelo menos. Só que com pelos mais destacados e o formato do corpo mais animal. Cara, isso é surreal! – Falei animado. –

– Vá com calma, beleza?

– Oi? – Perguntei, inocente. -

– Sei que você tá animado com isso tudo, dá pra ver seus olhinhos brilhando até. Mas pensa de uma forma mais racional. São bichos estranhos crescendo descontroladamente na nossa frente! E a gente acabou de MATAR um! – Jonas afirmou incisivo. –

– Eu sei, eu sei. Acho que já tive a minha parcela de alienação nisso tudo. Não foi agradável pra mim também. E entendo o que acabou de acontecer. O problema é que entender é bem diferente de compreender.

– Sim. Temos aparelhos inteligentes, seres estranhos e lutas imprevisíveis e improváveis com criaturas mais estranhas que as que andam com a gente. Será que isso vai se tornar algum tipo de padrão nas nossas vidas? – Perguntou em tom de devaneio. -

– Espero que sim! – Falei sem pensar. – Di-digo... Caham... A gente precisa descobrir o que tá acontecendo. Por mais que me anime em algum aspecto eu entendo o quanto isso tudo é complicado e inexplicável. Agora, eles estão protegendo a gente ou a gente que tá protegendo eles?

– Eu digo que os dois. A gente precisa se armar e ter o poder de se defender e ajudar no necessário. – Jonas disse com firmeza. –

– Nossa, e essas palavras inspiradoras vieram de você? – Caçoei. –

– Pior que não. Ícaro.

– Quem é Ícaro?

Antes de Jonas responder, escutamos um pequeno gemido vindo de onde as criaturas estavam e fomos até lá para entender o que acontecia.

– Aures, tá tudo bem?

– Não sei. Ela tava bem até agora! Daí ela começou a gemer do nada... – Falou visivelmente preocupado. –

– UGH! UÉEEEEEEEEN!

– Calma, calma... O que você tem? Foi o susto? Tá com fome? Caramba, eu sou uma negação cuidando dessas situações! Jonas, pega alguma coisa pra ela comer na cozinha. Algo fácil de mastigar!

– Certo.

– Não faz barulho!

– Beleza.

– Kylin, você viu se ela se machucou ou alguma coisa assim?

– Não. – Respondeu frio. –

– E não tentou ajudar quando ela começou a gemer?

– Não. – Falou enquanto se enrolava, encolhendo-se como uma cobra. – Ela não é problema meu. –Finalizou virando o rosto, distante. –

– Cara, qual seu problema?

– Calma, Caíque. Se concentra nela, tá? – Pediu Aures. -

– UÉEEEEEEEEEEN!

– Cadê Jonas com essa comida? –Perguntei preocupado. -

Peguei-a com cuidado. Ela se contorcia um pouco e podia jurar que notava sua cauda diminuindo.

– Caíque, eu tô preocupado... O que será que ela tem?

– Não sei, Aures. Chega mais pra lá pra ela respirar direito.

Senti minha mão umedecer. Algum líquido estava escorrendo pelas minhas mãos e a bolinha marrom era a fonte. Era meio gosmento, me lembrou um pouco a substância que havia dentro do ovo quando os gêmeos eclodiram. O choro dela ficava cada vez mais alto e frequente e agora eu já temia que as pessoas de casa acordassem. Jonas chegou com um pires cheio de banana amassada.

– Aqui, fiz o mais rápido que pude. –Disse ele ofegante. –

– Não precisa.

– Mas, como não? E se ela tiver mesmo com fome?

– Ela não tá. Essa dor que ela tá sentindo agora, acompanhou a gente a noite toda. Ela tá crescendo. – Lancei com certeza de minhas palavras. –

– Crescendo? Tipo eu e o Kylin? – Perguntou Aures, confuso. –

– Sim. Eu tenho certeza. Vi o que vocês dois passaram e não foi nada bonito. A gente só pode ficar aqui com ela e esperar terminar.

Jonas deixou o pires em cima da pia, no fundo, e se afastou dando espaço para que a situação se desenrolasse.

– UÉEEEEEEEEN! UÉEEEEEEN!

– E quanto tempo isso vai levar, Caíque? Ela tá sofrendo... Certeza que ela tá bem?

– Calma, Aures! Eu vi vocês passando por isso tem pouquíssimo tempo. Dá pra reconhecer. Não deve demorar muito. A gente tá aqui com você, viu? – Disse calmo, colocando-a no chão em cima da toalha que usaram para se enxugar. –

Em menos de dois minutos ela estava quase idêntica à forma anterior de Aures. As diferenças eram sua cor que continuava amarronzada, mas agora um tom mais caramelo, mais forte e a quantidade de chifrinhos que brotavam de sua testa, que somavam três. Um no meio e dois mais acima, próximos de suas orelhinhas caídas e molinhas, como se feitas apenas de pele e preenchidas com gelatina.

Seu corpo como o do irmão estava, formado pela cabeça mais bem definida e um pseudo-corpo maleável, porém firme que a permitia ficar “de pé”. Seu processo de transformação havia terminado e ela estava deitada, encolhidinha e dormindo.

Estávamos eu, Jonas e Aures olhando para ela durante todo o processo. Kylin levantou a cabeça um par de vezes por algum tempo, mas voltava a baixar logo em seguida. Jonas carregava um olhar argumentativo, como se fizesse milhares de questões para si ao mesmo tempo, Aures boquiaberto e aliviado e eu com um olhar complacente, leve e aliviado.

Havia também esperança e expectativa em minha mente. Por mais que a noite tenha sido um total desastre, ela terminou bem para o nosso lado e por mais que os acontecimentos tivessem sido assustadores, houve bons frutos. Eu desempaquei. Estava aflito por não conseguir sair da mesma por dias, sem qualquer noção de futuro e agora tinha visto eles evoluírem, presenciado uma batalha que terminou em vitória para nós e descoberto que não estava sozinho.

Tudo isso levava a muitas conclusões que produziam novas dúvidas. Parecia um ciclo vicioso. Quanto mais respostas se tem, mais respostas se quer.

O dia já havia clareado àquele instante, mas ainda era cedo. A manhã do domingo estava começando a mostrar sua força. Sentamos na parte de cimento perto dos cacos de plantas e tentamos começar a absorver os acontecidos.

– Ei, Caíque. Não tivemos a chance de conversar direito ainda. Prazer, Aures.

– Hey, inusitado, não? Prazer, Aures. Caíque. Você não poderia ter sido um pouco mais claro ao invés de ficar repetindo o seu nome aleatoriamente? Parecia um Pokémon!

– Okay... Não entendi direito essa situação, a transformação, mas... Também não sei explicar direito. – Falou com um tom visivelmente confuso. – É como se eu sentisse que não deveria ser assim, sabe?

– Na verdade não. Mas tá no começo de tudo, acho que não é hora de tentar voltar para as origens e sim de caminhar pra frente.

– Gosto desse pensamento. Sem esquentar, ir com calma. –Disse Aures levantando as orelhas pela metade, deixando a outra parte pendendo e com um sorriso de aspecto animal. –

– Moumantai. –Divaguei. –

– Oi?

– Ah, nada. É que o que você disse me lembra muito a interpretação livre sua da televisão.

– Tele... Olha, você precisa entender que eu não estou a par de tudo o que você fala, okay? Dá um tempo. –Falou piscando o olho para mim. –

– Certo. Teremos a hora de sabatina do mundo humano pra vocês, hein Jonas? Jonas?

Quando olhei para o lado Jonas havia levantado e estava de costas para nós, conversando com Kylin algo que não dava para escutar de longe. Ouvi apenas o final.

–...e tentar ser um pouco mais social. Não vejo motivo pra você ficar assim. –Foi o que Jonas disse com um tom preocupado. –

– Essas obrigações sociais que você fala apenas não me enchem os olhos. Concentrar em meus próprios pensamentos e experiências parece mais racional e produtivo. Não acha? –Indagou retoricamente. –

– Te entendo perfeitamente, juro. Você nem sabe o quanto. Mas a questão é que ninguém vive sozinho e há uma dependê-

– Não dependo de ninguém. –Cortou Kylin, seco. – E se já terminou o seu discurso, tem toda a liberdade de voltar lá para compartilhar seus pensamentos. –Falou recostando a cabeça em seu corpo. –

– Esse cara é meio pancada, não acha? – Perguntou Aures, sincero. -

– Aures, não seja indiscreto. Você não sabe os motivos que ele tem pra ser desse jeito.

– Nem ele provavelmente. A gente não tem nenhuma memória específica sobre nada!

– Isso que me intriga. Como vocês sabem seus nomes ou sabiam o que fazer na hora da batalha com aquele peruzão lá?

– Acho que é mais pro lado do instinto. Não sei. Não sei de onde vim, porque estou aqui e nem porque sei meu nome e não sei de mais nada. Nem sei como falo a sua língua!

– Pois é... Tem isso. Eu jurava ter ouvido um chiado ontem quando você ainda tentava falar. Tipo como se fosse no meio da sua fala.

– Aí eu já não sei. Também não lembro com detalhes de tudo desde que cheguei aqui. Alguns detalhes se perderam enquanto eu crescia.

– Evolução. A imagem que eu tenho disso que vocês passaram é de tipo...

– Um processo evolutivo acelerado forçadamente? –Perguntou Jonas voltando a se sentar. –

– Sim. Bem isso...

– Me veio à mente assim que vi o processo do Kylin. Escutei barulhos de ossos trincando e o corpo dele se remodelava descontroladamente e de forma dolorosa...

– Aiiii... Nem fala! Que dor maldita foi aquela! –Aures disse acompanhando a fala com uma careta bem feia e a língua para fora, do lado da boca. –

Quase imperativo, Kylin lançou-se no ar e pôs-se novamente em volta do pescoço de Jonas que estava de frente para mim. Olhou para cima e falou como se pensasse alto.

– Mas são todas especulações, afinal. Acho que ao invés de ficarmos jogando conversa fora, deveríamos comer alguma coisa, descansar e buscar informações para nos nortear em meio a tudo isso.

– Faz sentido. -Jonas defendeu a posição de Kylin. –

– Então, tá. Entrem e vão com cuidado. Procurem alguma coisa no armário e na geladeira. Eu entro agora. Só preciso falar um pouco a sós com Jonas.

– Certo! Agora, só uma perguntinha.

– Diga, Aures.

– O que é um armário e o que é uma geladeira? –Perguntou inocentemente, levantando de leve as enormes orelhas. –

– São as peças brancas que tem portas. Estão logo aí nesse cômodo. Na...

– Cozinha. Isso eu já sei!

– Aprende rápido quando é do seu interesse, né? Só rindo. –Descontraí. –

Recebi um pequeno e, poderia jurar que canino, sorriso maroto de Aures. Os dois entraram bem devagar em casa, Chocomon ainda dormindo na toalha. Provavelmente por conta de todo o cansaço e baques da madrugada, além das dores que sentiu enquanto mudava.

– Então, Caíque. Fale.

– Nada de mais, é só que fiquei curioso quanto ao tal de Ícaro que você mencionou. Ele é...

– Como nós? Sim.

– Mas então, onde ele tava? Porque não apareceu?

– Segundo ele, tem mais pessoas até. Mas as missões não são designadas pra todo mundo. Cada um tem seu momento e seu motivo. Nem sempre é a mesma coisa.

– Mas, será que a gente tem que reunir uma quantia de gente? Seja pra tentar imitar o molde que temos ou até mesmo por uma questão de tática de batalha, não sei.

– Olha, ele sabe bem mais do que a gente. Mas nada pontual. Só questões técnicas de experiência própria. Depois te passo o Face dele e vocês conversam melhor. Mas enfim, olhe a nossa situação: Recebemos mensagens criptografadas por um aparelho que veio de um remetente desconhecido, bem como as mensagens. Andamos com criaturas que são versões reais de um anime que costumávamos a assistir quando éramos crianças e acabamos de matar um pavão deformado. Você acha que a gente deve sair da linha que estamos seguindo?

– É, olhando por esse ângulo, acho melhor não.

Jonas me falou das dicas que lembrava que Ícaro havia dado a ele, falou sobre o fone e discutimos sobre a utilidade dele. Parecia servir para traduzir o chiado que eu havia escutado antes e não sabia o que era. Lembrei-me do chiado que ouvi do Skullsatamon há mais tempo. Eram eles tentando falar, mas às vezes ocorria algum tipo de interferência, algum bloqueio. Mas agora os escutávamos bem e sem precisar do fone. Então aí surgiu a dúvida do como escutávamos bem e da serventia daquele fone para nós.

Entramos em casa e olhei para o relógio redondo na parede da cozinha. Eram 6:17. Mãe poderia acordar a qualquer momento, ela sempre teve um sono muito leve. A dorminhoca estava em minhas mãos e a coloquei na mesa onde Aures estava sentado e tentando comer um bolinho de chocolate ainda com a embalagem. Kylin já terminava o seu e partia para o segundo. Aquela cena me tirou um par de risadas.

– Caíque, como que tira isso? –Perguntou Aures irritado com sua tentativa falha de desjejum. –

Ele estava tentando rasgar a embalagem com seus dentes laterais, segurando o bolinho com as mão e as patas traseiras, formando uma bolinha de pelos branca e verde. Parecia um cachorrinho brincando com uma bola de borracha.

– Calma, Aures. –Falei rindo. – Você precisa ir com calma. Como é que você derrota uma ave peluda e perde pra um bolinho? – Perguntei, seguindo com uma risada. -

– Não enche, Caíque. –Disse ele com metade da embalagem já rasgada na boca. – Rá!

– Já percebeu como eles são bem opostos? – Indagou Jonas, com ar de brincadeira. –

– É né? Um bem espontâneo e outro mais fechado e introspectivo. –Completei. –

– Não te lembra ninguém? –Jonas jogou verde. –

– Estava comparando com nós dois há pouco, lá fora. Engraçado pensar assim porque pode ser uma extrema coincidência ou algo de certa forma planejado.

– O que me leva a pensar...

– Planejado por quem? –Finalizei a sentença dele, pensativo. –

– A gente precisa correr atrás dessas respostas o mais rápido possível antes que as coisas fiquem piores.

Todos ouvimos um barulho de porta abrindo bem devagar e entramos em estado de alerta.

– O que foi isso? –Perguntou Kylin voltando sua atenção para a sala do computador. –

– Shiiiu! Foi minha mãe acordando. –Sussurrei. – Vem pra cá vocês dois. Se encolham nas cadeiras. Vem logo! Cuidado pra ela não acordar, Aures. –Disse deixando a pequena em seus cuidados. –

– Silêncio vocês aí embaixo, tá? Bom dia, Jane.

– UAAAAAAAHHH. Bom dia Jonas. Bom dia, filho.

– Bom dia, mãe!

Ela estava de baby doll rosa-bebê, touca na cabeça e o rosto todo amassado.

– O que vocês tão fazendo acordados essa hora?

– A gente nem dormiu. –Falei sem pensar. Jonas me cutucou com o cotovelo. –

– Como?

– Não, é que... A gente ficou conversando na sala. Aí deu fome e a gente veio comer. Tá vendo os bolinhos?

– Tô. E um monte de pedaços de embalagem pelo chão. Você abriu esse bolinho parecendo um animal.

– HEY! –Aures deixou escapar. –

– De onde veio isso?

– HEY! Olha Jane, a vozinha que eu tô treinando. –Disse Jonas desconsertado. –

– Acho que vocês deviam ter dormido, isso sim.

– Mas e você, mãe? Acordada assim cedo porque?

– Nada, só vim beber água e vou voltar a dormir.

– Ooookay.

Mãe voltou a dormir e Chocomon acordou, meio confusa. Olhou para si mesma e a notei meio perdida por um instante, mas se recuperou rápido e Aures lhe deu de comer. Kylin permaneceu na cadeira onde estava. Escondido embaixo da mesa.

– Então, o que a gente faz agora?

– Estou tão perdido quanto você, Jonas. Sério. O que acho mais lógico agora é a gente juntar nossas experiências, nossas informações e compartilhar elas.

– Você diz escrito?

– Não necessariamente. Mas se você quiser escrever pra não esquecer... O que eu tô tentando dizer é que a gente precisa reunir informações e ficar preparados pra qualquer situação que possa acontecer.

– Tendi. Eu já tava meio que fazendo isso em casa. Tenho na mochila uma faca, um rolo de macarrão e-

– Um rolo de macarrão? Você ia fazer o que com isso? Cozinhar pra o bicho até a morte? -Caçoei. -

– Ah, Caíque, não enche! A gente se vira com o que a gente tem.

– É... A gente se vira com o que a gente tem. Mas no nosso caso... A gente tem que ter mais!

– O que você está sugerindo?

– De volta para o pc! –Falei animado, chamando a atenção de todos. –

– PC!!! – Gritou Chocomon, saltitante. –

– Haha, que fofinha! Eu tava fofinho assim? –Perguntou Aures, se contagiando com a alegria da irmã. -

– É, bem assim. Agora eu entendo quando mãe olha pra mim e diz que eu cresci rápido.

– Defina crescer, tampinha. –Retrucou Jonas. –

– Engraçado você... Mas então. Vamos voltar a pesquisar!

– Mas o que a gente pesquisaria? “Como matar criaturas desconhecidas?” – Jonas indagou desmerecendo a minha ideia. –

– Não, seu imbecil. É só filtrar as informações, cruzar com textos de sobrevivência e como lidar com animais selvagens e tal. Dá pra comparar.

– É, perfeitamente. Porque o bicho que a gente enfrentou essa madrugada dá pra comparar facinho com um pombo! Não tenho certeza, Caíque! A gente mal soube o que fazer com ele durante a luta, ficou perdido depois e ainda deixou o bicho lá pra apodrecer!

– Caralho! Deve ter sido a adrenalina!

– Oi? –Jonas lançou perdido no meu comentário. –

– Só a adrenalina pra fazer a gente sair de lá e deixar tudo bagunçado, sujo, sangrado e UM BICHO ESTRANHO E GIGANTE MORTO! –Joguei ao ar, ofegante. –

– Mas não tem como ligarem a gente com tudo aquilo.

– M-mas, e se tiver? –Perguntei já preocupado. –

– Caíque, calma! Como é mesmo, Mumantai! –Disse Aures numa tentativa falha de me tirar da paranoia. –

– É Moumantai, Aures. E não é hora pra isso.

– MANTAIIIII!!! –Brincou Chocomon. –

– Jonas, e aquilo que a gente estava vendo na sua casa no outro dia? Não nos deixaria a par da situação? –Kylin surpreendentemente ajudando na situação. –

– Oi? Do que cê tá falando, Kylin?

– Aquele aparelho quadrado com imagens passando.

– O jornal! Boa, Kylin! Será que dá pra ligar a tv, Ike?

– Bem baixinho. A gente fica perto. Torce pra já ter alguma coisa passando sobre isso.

– Deve ter. É notícia de dar o que falar. E o pessoal na feira livre acorda cedo. – Afirmou Jonas. – Liga aí.

Liguei a TV e estava no meio de um plantão do jornal local. O galpão de fundo e a repórter falando sobre um “acontecimento incomum”, usando suas palavras.

– Ai meu Deus... Descobriram tudo! Falhamos e estamos arruinados! –Falei quase arrancando meus cabelos. –

– Silêncio, Caíque. E calma. Escuta a mulher.

“-...e o local completamente destruído. O incomum é que não há sinais de arrombamento, mas sim um furo com uma média de um metro de diâmetro no teto do galpão. A perícia local não encontrou, até o presente momento, indícios de que qualquer pessoa esteve lá dentro nas últimas horas.”

E o silêncio se fez na sala.
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Mensagem por Convidado Qua 22 Out 2014, 6:49 am

Tinha pensado que você tinha abandonado a historia e que não iria postar mais ... pois é ainda bem que eu estava errado ... o fórum de fanfics da Digimon Forever ultimamente esta completamente morto ninguém posta mais nenhuma historia , as historias que tinham começado não foram concluídas e seus autores não postam mais capítulos em resumo não se tem criado mais fanfics na Digimon Forever o que realmente é uma pena . Mas interessante o capitulo como sempre muito bom humor mas também as doses certas de ação aventura e drama espero sinceramente que venham novos capítulos .

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